A DINÂMICA DO EU EXPLICADA EM PÍLULAS DIALÉTICAS
Jan Muá
1 de Abril de 2023
A verdade é que ainda não consegui
ler efetivamente
todos os arquivos deste meu livro
que leva o nome de Eu
Por todas as razões
será lógico pensar
que enquanto não for feita esta operação
o Eu continuará sendo
o eterno sujeito oculto da oração
que vai deixar manca
toda a construção gramatical
Será de bom tom por isso
Que não apoiemos o sumiço do sujeito
Nem sua escapatória para os labirintos secretos
A seu bel prazer
Se ele continuar oculto
a busca se tornará mais complicada
E sempre teremos de voltar ao início
Num esforço de eterno retorno
Perguntando de novo
Onde está o sujeito da oração
Nos dirão todas as vezes
Que o sujeito da oração está oculto
Em resposta nós pela condição limitada
dos meandros psíquicos que nos permeia
Curvaremos nossa cerviz
Deixando bater nos ouvidos
eternamente a mesma resposta
De que é normal haver
um sujeito oculto
em tantas e tantas orações
Questionaremos
para conter nossa impotência
o luxo do caso do badalado Eu
sutil sujeito oculto silábico e sonoro
que se apropriou de toda a prosa de toda a poesia e de todos os discursos
e que preza a olímpica onipotência de sua oculta presença
em secreto labirinto onde mantém acesa
a fogueira do pensamento e da silogística operação
sem que possamos saber a origem
de seu fogo permanente.
Jan Muá
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