REFLEXÕES
Por J.B.Xavier
Não! Eu não duvido, nem por um momento,
De que foi, sim, Deus que fez o firmamento!
Apenas quedo, muitas vezes, pensativo,
Sobre qual teria sido seu motivo!
Como pode uma criança conviver
Entre aqueles que a querem corromper?
O que dizer das dores físicas atrozes,
Quando são os próprios pais os seus algozes?
Como pode um ser humano perceber
Numa criança sua fonte de prazer?
E se foi Deus que os criou, donde a malícia,
Que explique a violência e a sevícia?
O que Ele quis dizer? Qual a mensagem,
Ao dizer que o homem é a Sua imagem?
Para então soltar a fera que se assanha,
Como um Nero, ou um Hitler, na Alemanha?
E como posso passear com meu filhinho
Vendo então pela janela o menininho
Sem casaco, sem camisa, pé no barro,
E eu cá, na segurança do meu carro?
O que queria esse Deus, ao permitir,
Que os humanos já não devam mais sentir
O mau cheiro que produz por onde passa,
E que prossigam vivendo entre a desgraça?
Como é que, sendo Deus, todo amor,
Despejou no universo tanta dor?
Satanás também não é explicação,
Porque ele próprio é Sua criação!
Para cada Jesus Cristo que nasceu,
Ou um Buda, ou um Gandhi, apareceu
Um Calígula, um Stalin, um Gengis Khan.
Vem aí novo milênio: e amanhã?
Como posso persistir no meu amor,
Se ao meu lado, campeando, há tanta dor?
Que justiça é essa dEle, onde a morte
Leva os pobres, iletrados, os sem sorte?
Mas alguém há de dizer: O amor existe!
Eu também penso que sim, mas fico triste,
Por sabe-lo concedendo à maldade
A conquista, assim, de toda a humanidade!
Porque aqui, em nossa torre de cristal,
Isolando bem ao longe todo o mal,
Pois aqui, neste esplendor da segurança,
É bem fácil sentir pena da criança!
E por isso, toda lágrima que choro,
Na vergonha indescritível de que coro,
É sentir na sociedade essa cárie,
E fazer, também eu, parte da barbárie.
E eis que Deus permitiu que aqui na Terra
Não houvesse um só dia sem a guerra!
Por isso penso: o que Deus queria, então,
Com a beleza dessa imensa criação?
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