Dominar uma emoção forte é pior do que rocinar um potro selvagem que corre infrene no pasto escondido e longe do homem. Vai-se na olfação para se sentir o cheiro oasiano onde ela se esconde. É tentante jogar em sua trilha emergente um laço forte e tentar domá-la. É ágil pingo de ar no ar que não se vê.
Meu cassatório é filho de divinação e por isso me ajuda a aguentar, entre trancos e barrancos, os sustos que dela levo. Parece-me ser naturalmente expectável o negregoso dos seus frutos porque todos os dias me excito nos rumores do mundo.
Palavras coiceras traem o corpo e deixam a dor lancinante que à s vezes até nos purga dos pecados; catarse ficou para nos livrar dos tropeços da emoção, quando nós esquecemos que amar é viver no compromisso da eterna doação sem espera.
Um índio, quando olha o céu à noite e enxerga a Lua, não se emociona ao vê-la como nós poetas ditos civilizados: aquele vê um deus poderoso e destruídor; nós, um doirado astro repleto de versos. E a emoção? Do nosso lado, desdobra-se em almas novas que, agarrando-se à s palavras, voam ao pasto de novas emoções que emergem.
De um pingo de orvalho ao sol da meia noite, vibro com tudo o que de divino e forte me mostra a emoção. Emoção e sonho devem ter nascido juntos após serem gerados num vento soprado por uma deusa apaixonada. Esta, por sua vez, desembestada nos trilhos dos meus desejos, e vento veloz que, quando pára, cansa.
Um deus qualquer, fora de algum plantão celestial, um dia vai entender a força de minhas emoções. Com elas sou capaz de engolir um elefante e engasgar-me com um pensamento louco. Gosto mesmo é da reflexão, quando meus olhos fechados elevam-me ao mais alto farol de sonhos e elas me chegam uma a uma para me prestarem conta ao término de cada dia vivido, nas cores e nos sons que o pensamento traz.
Imaginei um verso agora: estive numa praia de areias caliadas, de águas cor de turmalina, admirando um grande anel de ouro sonolento no fim do horizonte. Enquanto sonhei frente a tudo isso, estive no cerne de algum deserto quente que não me mostrava seu fim. Pus esses dois retratos numa só tela e os admirei juntos.
Emoção traz dessas cousas: em frente ao mar, enchemos as caravelas de areia de um deserto longínquo, porque nem tudo que reluz é ouro, tanto fora quanto dentro de um sonho. Há dias em que enxergo o arco-íris no fundo do mar e as estrelas do céu não saem do meu travesseiro, cúmplice de insónias que me trazem tão doces / amargas emoções. Os dias mudam, se entorpecem com os segundos que passam e que vão, não sei pra onde, ou se voltarão algum dia.
Acho que a emoção é a casa de botão dos nossos sentimentos: uns tão amplos que abrem os tecidos da alma, outros tão apertados que, sem deixar o botão sair, nunca nos mostram o corpo por trás da roupa. As minhas são fechaduras travadas por meus desejos. Tenho a chave de todas, abro-as e escancaro suas portas para o mundo, sempre que quero, porém somente no silêncio do meu silêncio purgado que não ousa sair de perto do meu próprio limite tímido de existência.