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Artigos-->COMUNICAÇÃO - ESCUTA ATIVA -- 26/02/2003 - 14:00 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COMUNICAÇÃO - ESCUTA ATIVA





Pe.Patrick Leonard *







Estamos vivendo a “Era da Comunicação”. Nunca houve tanto facilidade e rapidez na comunicação entre nações, comunidades, empresas, entidades, famílias e indivíduos. Proliferam livros, revistas, jornais, aparelhos de som com fitas cassete e CDs. O rádio, televisão com antena parabólica, internet, telefone celular, providenciam uma rede de comunicação instantânea para qualquer parte do mundo e da estratosfera. Porém, por mais estranho que pareça, nunca foi tão forte a reclamação: “Ninguém me escuta”. Será que estamos de volta à Torre de Babel, com todo mundo falando ao mesmo tempo e ninguém entendendo? As guerras entre diferentes etnias e grupos religiosos do mesmo país e entre nações, que marcaram o século passado e ainda continuam, não são um sintoma de um mal maior: a resistência em realmente escutar e entender uns aos outros?







Para entender a importância vital da escuta é preciso apreciar a importância dos relacionamentos em nossa vida. Somos seres de relacionamento. De certa maneira, somos os nossos relacionamentos. O “Eu” sozinho nunca existiu. Nossa vida começa no “Eu-Tu” do seio materno. Logo ao nascer entram outras pessoas: pai, irmãos, avós, tios, etc. Experimentam-se os bichos e as coisas materiais: a mamadeira, o berço, a roupa, o ar que respiramos, o leite que bebemos, o frio e o calor. Com cada pessoa, bicho, coisa, cria-se um relacionamento diferente. A vida torna-se uma rede de relacionamentos, positivos e negativos. Aprendemos a procurar os positivos e evitar os negativos. Se a maioria dos relacionamentos essenciais são ruins, forma-se uma personalidade psicótica. A falta do toque carinhoso muitas vezes leve o neném a morrer.







Nossa experiência pessoal confirma esta necessidade. Quando estamos numa relação boa com as pessoas importantes de nossa vida, ficamos contentes, dispostos a enfrentar tudo que vier. Mas se uma relação importante ficar ruim, sentimos que não vale a pena lutar e a vida torna-se “uma droga”.







Um relacionamento humano exige conhecimento. Não posso ter um relacionamento com uma pessoa da qual não tenho nenhum conhecimento. A verdadeira amizade é resultado de um conhecer dinâmica que abrange o ser inteiro de duas pessoas. Exige a comunicação, não somente das palavras, pensamentos e ações das duas mas também as imagens, emoções e desejos que são a parte mais íntima do ser humano.







Portando, não há crescimento nem conhecimento sem comunicação. “A pessoa desenvolve-se em todas suas qualidades mediante a comunicação”. (Documento do Concílio Vaticano II, “Gaudium e Spes”, No.25). Somos seres de comunicação. Em nenhum momento de nossa vida podemos parar de comunicar. Tudo que aprendemos, conseguimos e ensinamos acontece por meio da comunicação.







Como acontece esta comunicação? Logo pensamos em palavras, faladas e ouvidas, escritas e lidas. Mas somente 10% da comunicação humana é verbal. O restante, é não verbal. (100% da comunicação animal é não-verbal). Os gestos, suspiros, lágrimas, risadas, bochechos, postura, andar, tom de voz, dores, peso, altura, cor da pele e dos olhos, maneira de vestir: todos fazem parte da linguagem do corpo e comunicam algo que pode ser observado e interpretado pelos outros. O próprio silêncio é uma comunicação. (Por isso podemos falar de “silêncio de ouro” e “silêncio de chumbo”).







Daí a importância da ESCUTA ATIVA, que não somente ouve as palavras mas capta os não-verbais e tenta decobrir os sentimentos que uma outra pessoa está querendo (ou não querendo) comunicar. Para isto, é preciso usar todos os sentidos: não somente a audição, mas a visão, o ofato, o paladar, o toque e também todo aquele leque de sentidos, popularmente chamado: “o sexto sentido”. Ele inclui a intuição pela qual captamos instintivamente “ondas” ou energias não sensíveis nem explicáveis pela inteligência. Tem a imaginação pela qual vivemos “acontecimentos” do futuro e experimenta a “presença” de pessoas e objetos ausentes. Tem a memória, pela qual o passado torna-se presente com tanta força que pode fazer rir ou chorar. Tem diversas formas de energia, por exemplo a aura, pelas quais captamos a presença ou ausência de energia de outras pessoas. E tem a inteligência que organiza e analisa percepções, pensamentos, conclusões, julgamentos, idéias e evolve teorias. Cada uma destas faculdades é um “meio de comunicação” que pode ser usado no “relacionamento de ajuda” da pessoa que coloca-se a “escutar ativamente” o outro.







Nossa escuta normal capta somente o verbal e respondemos com outro verbal. Por exemplo: “Meu chefe não me entende”. Resposta: “Todos os chefes aqui são burros”. “Aquele cachorro é bravo?” Resposta: “Não sei”. “Estou pensando em me especializar em terapias alternativas”. “Esta louca?”.







A escuta ativa vai além do verbal para chegar aos sentimentos subjacentes. “Está com raiva de seu chefe?”, ”Está com medo do cachorro?”, “Gostaria de trabalhar nas terapias alternativas?”, A resposta verbal fecha e a resposta da escuta ativa abre a porta para uma conversa mais profunda, chegando à causa dos sentimentos e ajudando a outra pessoa a trabalhá-los. É usada principalmente quando uma outra pessoa tem um problema e quer partilhá-lo com alguém. Mas é importante frisar neste ponto que a escuta ativa não tem como finalidade a solução de problemas. Pode ser um primeiro passo ou pode ser muito útil para reforçar sentimentos agradáveis. “Esta noite durmí muito bem”. Resposta: “Então você sente que seu tratamento está surtindo efeito?”, Quando estou envolvido com outra pessoa num conflito de necessidades posso partilhar meus sentimentos com outra pessoa não envolvida no caso, esperando dela uma escuta ativa, ou posso usar outra dinâmica diretamente com a(s) pessoa(s) envolvidos(as) chamada “Eu-mensagem”. Para um conflito de valores (religiosos, culturais, políticos, etc,) existe outra dinâmica.









Veja alguns obstáculos para uma boa comunicação:







01. Mandar, comandar, dar uma ordem:



“Pare de reclamar!”



“Desligue aquela televisão, já!”



“Acalme-se!”



02. Advertir, ameaçar, avisar das consequências negativas:



“Se fizer o que está pensando, vai arrepender-se”



“Mais uma palavra e você sai da sala”.



“Se eu fosse você, não faria aquilo”



03. Moralizar, pregar os deveres, apelar para a autoridade



“A Igreja sempre ensinou que temos que perdoar os inimigos”



“Deve ter mais respeito para os mais velhos”



“Por que? Porque sou seu pai, viu!”



04. Dar conselhos, sugestionar, dar soluções:



“Porque não emprestar o dinheiro de seu pai?”



“Espere mais um pouco antes de tomar aquela decisão”



“Naquela situação, fica melhor não se intrometer”



05 Ensinar, tentar influenciar com argumentos lógicos, opiniões próprias,



falar muito de si e suas experiências:



“Quando eu tinha sua idade, não tinha a metade do que você tem”



“Você achou aquilo ruim. Escute só o que aconteceu comigo”



“Cursar uma faculdade é uma experiência fabulosa”



06 Criticar, discordar, culpar, emitir um julgamento sobre a pessoa:



“Essa sua opinião é muita imatura”



“Discordo totalmente de você”



“Você falou de uma maneira muita grosseira”



07. Xingar, rotular, deixar a pessoa sentindo-se com vergonha, sentindo-se estúpida.



“Você não passa de uma criança mimada”



“Deixe de ser burro”



“Não está chegada a hora de você criar juízo”



08. Concordar, louvar, emitir um julgamento positivo



“Claro que você deve cursar medicina”



“Concordo plenamente com você”



“Sempre sentimos orgulho de você”



“Como você é boa. Lavou toda a louça e varreu o quintal”



09 Interpretar, analisar, diagnosticar:



“Você só quer atenção”



“Está falando isto porque tem ciúmes dela”



“Está fazendo isto para me provocar”



“Os testes mostram que você tem um tumor no cérebro”



10. Consolar, negar as emoções, esforçar-se para diminuir os sentimentos negativos, o tamanho do problema, para deixar a pessoa sentindo-se melhor:



“Você vai sentir-se melhor depois de um bom cafezinho”



“Todo mundo passa por estas crises”



“Mas você sempre se dá tão bem com os outros professores”



“Como pode estar com tanta raiva por uma coisa tão insignificante?”



11. Interrogar, procurar motivos inconscientes, raízes na infância, etc.:



“Quem colocou aquela idéia na sua cabeça?”



“Este não teria algo a ver com seu relacionamento com seu pai?”



“Seu hábito de negar a raiva não estaria causando sua artrite?”



12. Usar humor, ironia, sarcasmo, distrair do problema:



“Porque você não põe fogo na escola?”



“Engraçado! E eu sempre achei você tão equilibrado”



“Vamos falar em coisas menos tristes. O que achou do jogo de ontem?”



13. Ficar distraído, dar meio ouvido, estar com pressa:



“Desculpe, precisa fazer uma ligação urgente”



“Que horas são? Minha esposa fica louca quando chego atrasado”



“O que aconteceu?”



14. Interromper, mudar de assunto:



“O que está achando do conflito na Palestina?”



“Você foi ao baile ontem?”



“Acho que conheço aquele cara na mesa vizinha”



15 Ignorar os sinais não-verbais (a linguagem do corpo).





Benefícios da Escuta Ativa







01. Mostra logo ao outro que você está interessado nele e o aceita como pessoa.



02 Mostra que você não somente ouviu o que ele falou, mas quis envolver-se no problema dele.



03 Dá-lhe uma oportunidade para desabafar e sentir-se aliviado. Os bons sentimentos reconhecidos, partilhados e assumidos ganham e os ruins perdem sua força.



04 Encoraja-o a definir seu problema, para depois resolvê-lo.



05 Ajuda-o a aprofundar mais seus sentimentos e talvez descobrir que “o problema não é o problema”. Quer dizer que tem raízes mais profundas.



06 Ajuda-o no discernimento, identificando cada alternativa e suas consequências negativas e positivas.



07 Leva-o a compreender melhor a posição, sentimentos e comportamentos de si próprio e dos outros e assim sentir compaixão. “Somos todos vítimas!” “Somos todos carrascos!”



08 Evita a dependência. A decisão e a responsabilidade para a solução do problema fica sempre com ele.



09 Muitas vezes ele descobre que não adianta por a culpa nos outros (chefe, membro da família, ambiente, etc.). Quem tem o problema é ele e quem tem que resolvê-lo é ele.



10 Facilita um processo que poderá servir em outras ocasiões, tratando dos sentimentos e não de fatos, pensamentos, perguntas.



11 Promove um relacionamento mais íntimo entre os dois.



12 Ele aprende a ser um bom ouvinte, modelando-se sobre o comportamento de quem o escutou e tornando-se, por sua vez, modelo para outras pessoas.







Atitudes construtivas para uma Escuta Ativa







1. Empatia: Capacidade de se colocar no lugar do outro, de modo a sentir (na medida do possível) como se sentiria caso estivesse no lugar dele.



2. Respeito: Aceitação incondicional da pessoa como pessoa. Capacidade de acolher o outro integralmente, sem que lhe sejam colocadas quaisquer condições e sem julgá-lo pelo que sente, pensa, fala ou faz.



3. Congruência: Capacidade de ser real, autêntico, genuíno, de reconhecer e expressar seus próprios sentimentos adequadamente.



4. Imediação: Capacidade de trabalhar a própria relação, eu-outro, abordando os sentimentos imediatos que um experimenta pelo outro.



5. Ser “grounded”: Capacidade de decodificar a experiência do outro em elementos objetivos, para que ele possa compreender melhor sua experiência, às vezes confusa.



6. Confrontação: Capacidade de perceber e comunicar ao outro certas incoerências em seu comportamento: a distância entre o que ele fala, o que é e faz.











Habilidades interpessoais da pessoa que escuta:







1. Atender: Comunicar, de maneira não-verbal, disponibilidade e interesse.



2. Responder: Comunicar, corporal e verbalmente, compreensão.



3. Personalizar: Mostrar sua parcela de responsabilidade frente ao problema.



4. Orientar: Avaliar as alternativas possíveis e facilitar a escolher entre elas.







A Escuta Ativa e a Saúde







Normalmente a pessoa que mais precisa de uma escuta ativa é a gente. Nosso corpo está sempre tentando comunicar algo para nós. Bem estar ou mal estar, dor ou prazer, ansiedade, medo, coragem, atração ou repugnância. Para ter boa saúde é muito importante saber “escutar” e interpretar esta linguagem silenciosa do corpo, prestar atenção aos nossos não-verbais e o que estão querendo comunicar. Uma doença séria, um estresse indica que durante muito tempo nosso corpo não foi escutado. (Leia os artigos sobre as emoções e a imaginação em Saúde Integral números 5 e 9.







A reclamação mais comum em relação aos médicos alopáticos é que eles não sabem escutar seus pacientes. Ouvem e anotam os sintomas e receitam testes para diagnosticar suas causas físicas ou remédios para eliminá-los. Não levam a sério a conclusão do psiquiatra Carl Jung: “A diagnose clínica pode ser indispensável ao médico, mas só raramente ajuda o paciente. O elemento crucial é a anamnese, o histórico da enfermidade narrado pelo paciente, pois somente ele pode narrar os antecedentes e o sofrimento humano. Só então pode a terapia do médico começar a surtir efeito”. A “anamnese” de que fala o Dr.Jung é o ato de contar sua história. É o primeiro passo na caminhada da recuperação. Contando sua história, o próprio narrador começa a entender de onde vem sua doença, os erros que fez e as mudanças necessárias na sua maneira de viver se ele quer a cura.







Os psiquiatras e psicólogos são os que melhor escutam, mas mesmo assim são poucos que escutam o ser inteiro de seus clientes. Quantos deles se preocupam com a dieta alimentar ou o relacionamento com Deus ou a busca da parte da pessoa de uma espiritualidade que daria sentido a sua vida? Os sacerdotes também são procurados pelos fiéis para uma escuta mais profunda, mas são poucos os que têm tempo ou se dão ao trabalho de dar mais que a absolvição para os pecados. Não se preocupam em descobrir as causas físicas e emocionais da “doença espiritual”. Na grande maioria das profissões baseadas na “relação de ajuda” falta respeito para o ser humano como uma entidade só. Falta uma abordagem e uma escuta holística, trabalhando ao mesmo tempo corpo, alma e espírito. A escuta ativa da pessoa (seja “cliente” ou “penitente”) pode prestar um serviço valioso nesta área.







Por falar em respeito, quero citar as palavras de um grande sacerdote (mesmo sendo afastado do ministério) que é também um grande psicólogo, Manoel Losada.







“Vivendo intensamente o ministério da escuta, é possível captá-lo como um ministério, um mistério e uma celebração. Ministério enquanto prestação de serviço que exige capacitação técnica e profissional, como outro ofício qualquer. Também celebração e mistério... O ouvir leva à veneração e ao respeito profundo pela pessoa. Escutando toca-se no mistério insondável da vida que nos ultrapassa. Por vezes é preciso ajoelhar-se diante da pessoa que se desvela à nossa frente. Nessa revelação ela se descobre, se encontra, se reconhece. E o escutante está um pouco como o parteiro, presenciando o renascer da vida, sendo o eco da sua palavra. O espelho onde ela se vê, o interlocutor com quem ela pode falar toda sua verdade. Em tudo isso há mistério e celebração da vida”. “Recuperar a capacidade da escuta - Afetividade e Vida Religiosa”.







Pe.Patrick Leonard * é irlandês, sacerdote, terapeuta e Mestre em Reiki.Telefone: (14) 553.1173 – e-mail: padraigleonard@yahoo.com







Suzete Barreto - editora da Revista Sáude Integral - [mailto:suzete@saudeintegral.org]



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