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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Só que do tamanho de um teatro -- 06/02/2002 - 20:55 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em adeus ao Cine Veneza, escrevi um artigo, impublicável talvez, que tinha por título uma frase de Guimarães Rosa: "Deus mesmo, se vier, que venha armado".

Mas vamos falar da "sétima arte". Gostaram? Pois é, chegou a ter esse nome. Arte que, excessivamente otimistas para muitos, o filósofo Walter Benjamin e o dramaturgo Bertolt Brecht proclamavam como a mais democrática de todas. Em "A obra de arte na época das suas técnicas de reprodução", Benjamin faz o elogio do cinema.

Mas se quiserem sabê-lo maldito, leiam "As palavras", do francês Jean-Paul Sartre. Além de como aprendeu a ler e a escrever um dos maiores pensadores do século XX - é claro, antes de ter vindo a Araraquara! -, o leitor saberá que ir ao cinema já foi uma forma de transgressão social. As boas famílias burguesas não queriam seus filhos misturados à ralé que, no escuro, se entregava a deleites mundanos desprezíveis. Menino, Sartre já era um transgressor de marca. Estimulava-o uma criada.

O cinema - como o conhecemos, desde a primeira multidão se escafedendo aflita à chegada de um trem à estação até o momento em que esses espaços democráticos passaram a ceder espaço às práticas religiosas ou a outras, declaradamente comerciais - está em vias de desaparecimento.

Em criança, muitas vezes fui proibido de ver certos filmes. Nas locadoras, hoje, tropeço em proibições de antanho. Para a família católica, no fundo o cinema era coisa do demônio. Contra ele pregavam os padres em suas homilias. Havia filmes desaconselhados para menores de 14, 16, 18 ou 21 anos. E havia os de todo desaconselháveis a qualquer ser humano que não quisesse ir pro céu das cabras.

Hoje, quando as salas de exibição dão lugar a igrejas, só posso concluir: Deus está de volta. E para adquirir todos os antigos antros do pecado. Daí, o título daquele meu artigo talvez impublicável.

Dia desses, quis rever um clássico: "A última sessão de cinema", de Peter Bogdanovich. Ao me ver com a fita nas mãos, o Caçulinha [dono da locadora] transbordou: "Esse é um sonho!" E me contou que ele e o Nivaldo Chade tiveram um cinema em Américo Brasiliense. Nos anos 60, três mil almas, se tanto. Com "Os Dez Mandamentos", de Cecil B. de Mille, um grande triunfo, o CINE SÃO JOSÉ passou a perna em todos os cinemas de Araraquara e região. E um filme a ser relembrado com tristeza: "O Pescador da Galiléia", com Anthony Quin. Foi a última sessão de cinema naquele município.

Em criança, anos 50, morei em Maracaí, São Paulo. Tinha a rua que subia, a que descia (poeira ou puro barro), o jardim, a igreja matriz e, pasmem, um cinema. E sempre lotado. Era precário, sim. É com espanto, e às vezes com decepção, que hoje revejo, coloridas, películas que pensava fossem em p & b.

Mas, e o título deste artigo? Bem, Rafael - da geração de Elenira, a garotinha de "A baleia assassina e o efeito de distanciamento" -, ao retornar de sua primeira ida a um cinema, estava entusiasmado, mas também cético. Perguntei: "E aí, Rafa, como é o cinema?" E ele: "É igual a uma televisão, só que do tamanho de um teatro".

Genialmente, ele sintetizava décadas de um debate que pretendo rever, de quando em quando, neste meu "zinema".

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No jornal Tribuna Impressa, de Araraquara, todas as quartas-feiras eu assino a coluna OXOUZINE. O texto acima, afora algumas pequenas correções e adendos que acabo de introduzir, está na edição de hoje, 06/02/02, que permanece online até a terça-feira seguinte. O endereço: www.tribunaimpressa.com.br. Clicar em colunistas . Ilustração: "A lanterninha", de Edward Hopper.
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