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Erotico-->21. EUGÊNIA -- 15/02/2002 - 05:31 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

No transcurso do ano seguinte, Eugênia, esposa de Rodrigo, engravidou pela quarta vez, requisitando cuidados especiais, porque ameaçava abortar desde o sexto mês. Era um fato inédito para ela, que tivera três gestações absolutamente regulares e três partos normais.

Os exames de ultra-sonografia acusaram placenta prévia, de forma que, chegado ao sétimo mês, a médica recomendou repouso absoluto. De qualquer forma, ao entrar no nono mês, a bolsa arrebentou e Eugênia precisou ser internada às pressas, passando por uma cesariana.

Durante os dois últimos meses, Rosalinda apegou-se à cunhada, visitando-a reiteradamente, trocando confidências, apoiando-a com as teses da doutrina espírita, ela que se satisfazia com uma vida pacata, conseguindo trazer seu lar em harmonia, educando os filhos com muito discernimento, obrigando-os a um procedimento de todo compatível com os ideais cristãos propugnados pela Igreja Católica.

No entanto, o sofrimento inaudito causou-lhe um distúrbio na fé, porque não podia conceber que Deus pudesse retirar todo o apoio que sempre lhe dera. Para cúmulo de suas preocupações, visitou-a seu confessor, que lhe garantiu que Jó, apesar de perder todos os filhos, foi agraciado pelo Pai com outros tantos, numa inequívoca demonstração de que Deus escreve certo por linhas tortas.

Quando Rosalinda entrou no quarto da paciente, foi recebida em lágrimas:

— Querida amiga, o meu filho está na incubadora. A médica disse que está com icterícia, tendo ainda um sopro no coraçãozinho.

— Estou sabendo de tudo. Já conversei com ela e me convenci de que não se trata de nada que a ciência não consiga curar.

— O meu medo é que esta criança vá absorver toda a minha atenção, ficando os outros de lado.

— Com certeza, este também será muito amado e querido. Se for mais franzino ou se houver alguma seqüela dessas moléstias, nós todos, Rodrigo e as crianças também, vamos cercá-lo de atenção. Ele não vai ser só o seu xodó mas de toda a família. Pode estar certa disso.

— Eu não sei, não. O Rodrigo sempre esteve muito presente em todos os partos e neste mal passou por aqui.

— Estou sabendo que ele está muito triste e não quer que você sinta a dor que ele está sofrendo, tanto que ele insistiu muito comigo para que viesse vê-la e ficasse bastante tempo com você.

— Meus pais ficaram de me ver às dez. Que horas são?

— Quase nove.

— Você fica comigo até eles chegarem?

— Claro! Mas não seria bom que você dormisse um pouco?

— Eu prefiro dormir à noite, quando não dá pra ficar conversando com o acompanhante.

— E sobre o que você quer falar?

— Eu estou cansada de ouvir a respeito de carmas e de mundo de provações e de expiações.

— Então, vamos falar um pouco de mim.

— Estou ouvindo.

— O meu maior problema tem sido a falta de alguém que me dê afeto, que me acaricie e me leve ao êxtase sexual. Quantas vezes por semana você e Rodrigo transam?

— Antes da gravidez, duas ou três vezes por semana. Depois que descobrimos o problema com a placenta, paramos de vez.

— E aí você não teve mais nenhum apetite?

— Você está querendo saber de minhas atividades sexuais?

— Se você não tiver vergonha de mim.

— Às vezes, para aliviar o Rodrigo, a gente dava um jeito pra ele gozar. Eu não fazia questão, mas, ainda assim, não era sempre, mas eu também conseguia com muito cuidado, sem penetração.

— Pois é isso o que está me atormentando. Mesmo doente, num estado perigoso, ainda assim vocês se viravam. Eu estou vendendo saúde e não tenho nenhuma compensação.

— Para mim isso é novidade. Eu sempre soube que você exercia seus direitos fisiológicos, sem nenhum pudor ou restrição.

— Eugênia, meu amor, você não está sendo vigiada pela Beatriz. Caí na besteira de prometer a ela que esperaria o meu príncipe encantado e agora estou pastando.

— Você não se alivia sozinha?

— Isso serve apenas pra atenuar a necessidade. O maior problema é que os desejos crescem, como se me faltasse algo essencial. Quando freqüentava o centro, eu me distraía. Agora eu fico em casa. Quando muito acompanho a Beatriz a uma sessão ou outra de cinema. Na verdade, ela sai muito mais do que eu, sempre com festinhas, azarando uns caras no shopping, divertindo-se na Internet.

— E se você entrasse em alguma sala virtual...

— Eu já entrei em vários chats. Mas é uma roubada. Quando o sujeito não mente, é escolado e só deseja mesmo se aproveitar.

— Você já marcou algum encontro?

— Todos furados. A Beatriz tinha esperança de que eu me desse bem.

— Esqueça a sua filha. Eu acho que ela não vai aceitar nenhum padrasto. Se você não tomar a decisão sozinha, vai ter de esperar que ela amadureça por mais uns oito ou dez anos, pelo menos. Aí ela arruma alguém, vai embora e você vai passar dos quarenta. Você sabe quanto é difícil arrumar emprego depois dessa idade. Quanto menos casamento.

— Eu já abri mão do casamento.

— Não faça isso. Você está com trinta e dois. É capaz de procriar mais alguns rebentos. Não espere pela menopausa.

— Acho que você não entendeu toda a extensão de meu drama.

— Entendi. Você está querendo dizer que o primeiro que aparecer vai levá-la para a cama sem mais aquela. E aí vai colher mais uma decepção no espinheiro de suas desditas.

— Para quem está passando por um problema tão sério, até que você está bem humorada.

— Enquanto estamos conversando, as dores ficam atenuadas e esqueço um pouco as preocupações. Eu compreendi que você desejou que eu percebesse que todas as pessoas sabem onde aperta o sapato e que existem problemas bem mais sérios do que o meu, apesar de meu filho estar passando por um péssimo início de reencarnação, como você gostaria que eu dissesse.

— Vejo que as noções que lhe passei criaram raízes. O principal é saber que Deus é pai de misericórdia e jamais desampara as suas criaturas, por mais que pareçam sofrer no presente. O futuro e o esquecimento constituem uma dádiva superior. Até Jesus afirmou que as dores do parto se esquecem com a alegria do nascimento. Lembre-se disso e aceite o pequeno desconforto desses doloridos pontos no ventre. Como imaginei, você entendeu que eu trocaria de lugar com você, apesar de tudo.

Eugênia ia agradecer as palavras da cunhada, quando chegaram os pais, para uma sessão de lágrimas.

Desgostosa com a reação dos velhos, Rosalinda, sem se despedir, foi embora. No caminho, refletiu que Eugênia estava por demais sensibilizada para não se deixar envolver pelos sentimentos alheios. Ocorreu-lhe escrever essas idéias, compondo um texto para publicação ou para uma palestra. Atalhou, contudo, sua vontade, refletindo que não haveria leitor ou auditório espírita para os pensamentos lúbricos que vinham atenazando-lhe a paciência. Assim se perderia para sempre uma página que lhe parecera ter trazido alguns ensinamentos.


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