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Artigos-->Mais uma vez às trincheiras -- 24/02/2003 - 09:00 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No mar tanta tormenta, e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida,

Na terra tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade aborrecida

(Camões, Os Lusíadas, I, 106.)


A guerra entre os povos é uma selvageria. As manifestações de milhões pela paz dia 15 de fevereiro reafirmaram que os povos rejeitam a política das armas. Porém, muitos analistas temem que o brado popular não será suficiente para deter o braço guerreiro. A guerra é inevitável numa sociedade dividida em classes — são milhares de anos a evidenciar tal fato.

Países onde o conhecimento é mais difundido, civilizações milenares, regiões de desenvolvimento tecnológico mais avançado, comunidades que mal chegaram à escrita digladiam-se em batalhas sangrentas. A existência de classes antagônicas (exploradoras, umas; exploradas, outras) levou a que a luta entre elas fosse o motor da história, no dizer de Karl Marx e Friedrich Engels. Com essa percepção, esses pensadores alemães demonstraram que as guerras, já que inevitáveis, devem ser analisadas em seu contexto histórico. E reconheceram a legitimidade, o caráter progressista e a necessidade de guerras libertadoras, das rebeliões da classe oprimida contra a classe opressora, dos escravos contra os escravistas, dos servos contra os senhores feudais, dos explorados contra os exploradores. De forma poética, outro alemão, Bertolt Brecht, registrou: "Todos falam da violência das águas do rio, mas se esquecem da violência das margens que o oprimem".

Significado libertário

Pode parecer paradoxal, mas a história registra muitas guerras que, apesar dos horrores e sofrimentos que trazem consigo, foram úteis para o progresso humano. As lutas dos quilombolas no Brasil, as batalhas contra a dominação colonial nas Américas e na África, a derrocada do absolutismo e dos regimes feudais na Europa, os enfrentamentos a agressores na Ásia, a resistência armada contra os nazi-fascistas no século passado contribuíram para destruir ou debilitar instituições nocivas, reacionárias, tirânicas.

O objetivo principal e o significado desses episódios eram o fim da escravidão, a supressão do jugo nacional estrangeiro, a derrubada da ditadura terrorista aberta. Os democratas, as pessoas progressistas trabalharam pelo triunfo desses embates. Reconheciam neles seu significado principal, libertário. Consideravam-nos guerras "justas".

Inúmeras manifestações contra as intenções bélicas dos Estados Unidos no Oriente Médio visam desmascarar o caráter "injusto" da guerra contra o Iraque. Como perguntou alguém, se a principal riqueza produzida pelo país de Saddam Hussein fossem brócolis, será que George W. Bush e Collin Powell estariam tão empenhados em defenestrá-lo do poder?

Os defensores da guerra, porém, tergiversam. Valem-se de suas discordâncias com Saddam para aliar-se com Bush. Tentam ver valores positivos que seriam defendidos pelo governo de Washington em contraposição ao "atraso" de Bagdá. O ocupante da Casa Branca seria, então, o portador dos valores civilizatórios ocidentais. Também neste caso, portanto, seria uma guerra "justa" - uma guerra para livrar a humanidade da ameaça das armas de destruição em massa que estariam para ser utilizadas pelo governante iraquiano.

Ação reacionária

O argumento não é convincente. Tem contra ele a própria história recente dos EUA. Se é inegável o significado revolucionário que teve a revolução americana e sua luta contra o colonialismo inglês, bem como o papel positivo que as tropas norte-americanas desempenharam no enfrentamento a Hitler e Mussolini, o mesmo não se pode dizer das bombas atômicas lançadas sobre o Japão, a atuação ianque na Coréia ou a guerra contra o Vietnã, para ficar em uns poucos, mas significativos, episódios.

O imperialismo é a fase superior do desenvolvimento capitalista e os EUA são um país imperialista. O capitalismo levou a concentração a tal ponto que ramos inteiros da indústria se encontram nas mãos de associações patronais, trusts, corporações multimilionárias que espalham seus tentáculos por todo o globo. O monopólio, a conquista de terras para investir capitais e subtrair matérias primas converteu o capitalismo, em sua fase imperialista, no maior opressor das nações — e é este, somente este, o sentido da investida de Bush contra o Iraque, assim como o foi no ataque ao Afeganistão.

Karl von Clausewitz é autor da famosa frase "A guerra é a continuação da política por outros meios". Aplique-se esta tese à movimentação atual: EUA contam com o apoio da Grã-Bretanha, Israel e alguns outros países na sua ofensiva. Países árabes, Alemanha, França, Rússia, China opõem-se ao conflito. O movimento popular e progressista e os amantes da paz de todos os países - inclusive o estadunidense, britânico e israelense - denunciam o caráter de rapina da contenda.

O simples alinhar dos partidários da guerra contra o Iraque e dos partidários da paz desnudam o caráter reacionário, anti-histórico das intenções que movem Bush e seus aliados e a hipocrisia dos argumentos do "desarmamento de Saddam" e do "combate ao terrorismo" ou ao "eixo do mal" brandidos pelos raivosos belicistas.

Por isso, a ação contra a guerra é progressista e avançada. Por isso, as manifestações pela paz são também manifestações antiimperialistas, embora não signifiquem um apoio às políticas defendidas por Saddam ou por fundamentalistas de qualquer seita.



Leia também Revoluções e movimentos celestes .
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