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Contos-->Um conto bizarro: o cabo-gay das elites -- 06/09/2015 - 19:22 (LEANDRO TAVARES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Firmino. Rapaz de 18 anos da Kamambaia-DD (Distrito Desértico). Seu pai nunca lhe dera atenção. Fora criado pela mãe, sua única e principal referência na vida. Um dia descobriu que tinha uma quedinha por garotos. Pensando nisso, decidiu entrar para o exército de seu País, a República Sindical Vermelha de Paril. Lá iria se encontrar. Lá iria encontrar seu paraíso perdido, e todas as beldades que sempre sonhou: grandes e médias. Mas pequenas, jamais. Firmino gostava mesmo do padrão jegue. Esse era perfeito pra ele, sob medida, na medida certa da sua felicidade. Uma linguiça avantajada era do que ele realmente gostava.
Discreto, de início ninguém percebeu suas tendências no exército parilenho. Somente uma: a de que era um cozinheiro exemplar. Fazia pratos maravilhosos, fruto dos cursos que fizera nos restaurantes mais renomados de Quadrília- a capital de Paril, localizada no Distrito Desértico; e de sua experiência adquirida como empregado de um buffet de elite da capital. No quartel foi lotado no setor de aprovisionamento, e ali começava a sua senda pelos bastidores das elites.
Numa dessas festas de quartel uma esposa de general se encantou com a qualidade da comida. E a senhora pediu ao comandante que a apresentasse o cozinheiro de primeira linha que tinha feito aqueles pratos.
— Soldado Firmino, quem é? Perguntou a esposa do general dentro da cozinha.
De forma bem polida, respondeu Firmino — Pois não senhora!
— Você que é o artista dessa comida maravilhosa?
Sorridente e orgulhoso, respondeu ele: — Sim, sou eu!
— Então meu filho, você não vai mais trabalhar aqui. De hoje em diante você vai ser meu cozinheiro particular.
— Mas não posso minha senhora. O chefe não vai deixar eu sair daqui.
— Claro que vai meu querido! Meu marido é general e seu chefe é só um coronelzinho qualquer. E meu marido, que é general, manda no seu chefe, que é coronel. E eu mando no meu marido! Entendeu a jogada? Quem manda no exército parilenho não são os generais, mas nós, as suas mulheres! Nós é que comandamos todos eles. Não fazem nada sem a nossa anuência. O meu, inclusive, eu coloco pra lavar as louças lá de casa quando começa a torrar a paciência.
Firmino, discreto que era, segurou o riso para não rir na cara do coronel.
— Tudo bem senhora. Eu aceito a proposta! Qual seu nome mesmo?
— Roberta, meu filho!
— Tá bom Dona Roberta. Estou pronto, e à espera de seu chamado!
— Você já está convocado! Amanhã, a comida lá de casa vai ser feita por você! Aqui neste papel está meu endereço. Oito da manhã começa o expediente. Te aguardo lá.
— Sim senhora! Combinado.
No outro dia Firmino estava lá. A casa de Dona Roberta era seu novo emprego. Ali começava a viver uma outra realidade, talvez uma que jamais tenha imaginado. Em sua primeira semana já havia servido vários pratos diferentes. Era um trabalho desafiador. E estava indo bem em sua empreitada.
Às vezes se transformava em garçon, principalmente quando havia reuniões de cúpula dos generais. Firmino rodava a mesa dos homens de oito e de sete estrelas, e como um mosquito, escutava toda a sua conversa. Mas era como se não estivesse ali. Escutava de sangue a milhões, de rancores a ambições, de falácias a verdades desconhecidas pela multidão. Tinha sempre que assinar um papel. Um tal de “termo de sigilo de informações”. Na verdade, seus ouvidos não ouviam, e sua boca jamais falou o que ali ouvia. Sua cabeça estava a prêmio, e ele sabia disso. Mas aquela atmosfera lhe revelou muitas verdades. E jamais voltaria a ser o menino que era antes de entrar naquela casa.
Nas noites de sábado, Firmino mudava de figurino. Um novo ser surgia de seu inconsciente inferior. Era ela: Gabi Mataraço. Uma mulher feita. Uma morena que veio para arrasar corações... E acabou arrasando um coração diferenciado: o de Chiquinho Gravatinha, um político renomado do Distrito Desértico, casado com a Senhora Miss Pedigree. Chiquinho tinha uma vida de aparências. Seu casamento era uma farsa. Sua identidade pública era um disfarce. E sua aparente austeridade, uma cápsula de proteção.
Senhora Miss Pedigree viajava com frequência para o litoral de seu País. Tinha um amante por lá, já que Chiquinho não dava no couro. Ao contrário, gostava mesmo é de tomar couro. Pedigree voava para o litoral... e as mulheres de tromba voavam para o seu palácio no Vago Sul, um bairro de elite de Quadrília. Naquela redoma de luxo e luxúria, acontecia de tudo. Chiquinho preparava banquetes para Gabi e suas amigas. E era uma festa de muitas linguiças, de todas as cores e tamanhos. Chiquinho se deliciava. Os cardápios eram diversificados. Havia até produtos refinados vindos direto dos laboratórios de Amsterdã, e das selvas da Bolívia, e eram servidos em bandejas, com absoluta fartura.
Entre Firmino e Gabi, o tempo foi passando. Um, dois, três, quatro anos e Firmino fez jus a sua primeira promoção. O soldado Firmino seria daquele dia em diante o Cabo Firmino. Ao saber da promoção, saiu gritando pelo alojamento dos recrutas:
— Meninosssssssssssssssssssssss! Agora sou cabuuuuuuu! Agora sou aquilo de que mais gosto: um cabo! “Ai, que delícia!” — pensou Firmino.
E a recrutada danou a rir. Firmino era a alegria e a diversão daqueles jovens. O agora Cabo Firmino sempre fora a descontração de todos. Nos momentos de tristeza, era só olhar para Firmino que todos já tinham um motivo pra rir. Suas nádegas repletas de hormônios e seus seios siliconados eram exóticos no ambiente castrense.
O amor um dia chega, e o de Firmino também chegou. Casou-se com um rapaz do Jardim Picá. Dois anos de amor intenso e feroz. Firmino, digo, Gabi Mataraço, amava seu marido. Mas ele era um rapaz violento e sádico. E Gabi apanhava todos os dias. Frequentemente, chegava no trabalho com inúmeros hematomas pelo corpo. Firmino era questionado diariamente por Dona Roberta, que o tratava como um filho.
Firmino, além de cozinheiro, passou a ser também um confidente de Dona Roberta. A mulher reclamava de sua carência, da falta de companheirismo e de amor de seu marido, o general Coquinho. Este era um homem arrogante, autoritário e corrupto. Passou sua carreira pisando nas pessoas. Sua fama na corporação era péssima. Contudo, profissionalmente, era extremamente dedicado, além de integrar a máfia mais poderosa do exército parilenho.
Roberta já estava no limite. Não suportava mais a solidão que vivia em seu casamento. Até que um dia tomou coragem para mudar aquela situação, e pediu o divórcio. Coquinho tentou agredí-la, mas Firmino o impediu. Roberta saiu de casa e foi morar com sua irmã na cidade de Águas Raras. Na casa vazia, só ficaram três seres: Coquinho, Firmino e Eros, o cachorrinho de estimação do general.
Dois meses se passaram. Coquinho, que antes tinha sua esposa para cuidar da casa e de suas coisas, agora não tinha mais ninguém. Somente Eros e o Cabo Firmino. O general tinha uns hábitos estranhos. E Firmino começou a perceber isto. Às vezes acordava de madrugada pra jogar baralho sozinho. Sentava pelado na mesa da copa, pegava seu cachimbo e ficava jogando seu jogo solitário. Ao seu lado ficava Eros, sentado em cima da mesa, observando aquela cena bizarra: Coquinho, barrigudinho, peludinho e louquinho.
Firmino levantou para ir ao banheiro, e o general o viu.
— Ei, pica-fumo! Venha cá!
Firmino, um pouco sem graça, e como medo, aproximou-se do general.
— Pois não, Excelência! O que o senhor deseja?
— Senta ai Firmino. Vamos conversar!
E Firmino sentou-se na frente de Coquinho. Estava se sentindo inseguro. Não sabia o que aquele velho maluco poderia fazer com ele. De repente o general olha pra Firmino e faz uma careta. E solta um peido na frente de Firmino, daqueles bem fedorentos. Firmino ri loucamente, e logo em seguida tampa o nariz. O general dá uma tragada no cachimbo e expira a fumaça pra amenizar aquele cheiro horrível.
— Do que está rindo Firmino?
— De nada, excelência!
— Gostou do meu cachimbo?
— Sim, senhor! Muito bonito!
Firmino sabia agradar seus chefes. Tinha o dom nato de dissimular e se passar por lacaio.
— Pois então Firmino, sempre quis te dizer algumas coisas, mas como aquela vadia da Roberta sempre estava por perto, eu sempre me mantive em silêncio.
— Mas o que o senhor quer me dizer? Pode ser sincero.
— Então Firmino, — nesse momento o general olhou nos olhos dele —, você é um rapaz muito diferenciado, com um corpo lindo. Parece até uma mulher. Seu corpo dá de dez no da megera.
Firmino não acreditava no que estava ouvindo. O general sempre lhe passou a impressão de um homem austero e ríspido. Aquela cantada foi muito chocante pra ele. Mas, no fundo, ele adorou.
— Obrigado general. Me sinto lisonjeado com seu elogio.
— Pegue algumas cartas! Vamos jogar baralho.
Firmino obedeceu e os dois passaram a noite jogando.
Dois meses se passaram.
Aquela cena virou rotina e Firmino passou a ser o companheiro mais fiel de Coquinho nas noites solitárias. Contudo, a intimidade entre os dois foi aumentando e um clima diferente começou a surgir no ar. Numa noite dessas de baralho, Coquinho sentou-se à mesa, como de praxe. Mas não estava mais nu. Dessa vez vestia um fio dental provocante de cor vermelha. Firmino, digo, Gabi Mataraço, estava a caráter, toda produzida, com meia-calça, batom roxo, maquiagem, rímel, e vestida estilo tiazinha. Carregava em suas mãos um chicote de tiras. Coquinho estava deslumbrado com Gabi. Aquelas pernas morenas o hipnotizavam.
Foram para a suíte de Coquinho.
Uma chibatada!
Duas chibatadas!
Três chibatadas!
Dez chibatadas!
Um grito de dor. Coquinho gemeu.
E o açoite continuou, varando a noite e recebendo o dia.
Firmino levantou-se. Coquinho ainda dormia. Parecia uma lady deitada de ladinho. Ainda usava seu fio dental vermelho, rodeado por nádegas peludas. Firmino estava perplexo. A ficha ainda não havia caído. Não acreditava no que tinha acontecido. Ele, que vira aquele homem humilhar Dona Roberta tantas vezes, agora se deparava com aquela cena bizarra: Coquinho, de fio dental, cheio de hematomas pelo corpo, e com sangue no traseiro.
Firmino parou pra pensar nas maldades que Coquinho havia feito com seus subordinados durante sua vida e nas situações humilhantes a que submeteu Dona Roberta. Sentiu ódio no coração. Queria abusar mais daquele homem covarde que se escondia atrás de uma farda ornada de penduricalhos. Naquele momento um filme passou por sua cabeça: os choros e soluços de Dona Roberta, suas noites mal dormidas por espancamentos e judiações; a solidão da mulher, suas queixas e dores. Firmino amava Dona Roberta como uma mãe. Ela fez sua vida mudar. Ela lhe proporcionou um salto em sua qualidade de vida. Era o momento ideal para fazer algo por Dona Roberta.
Gabi Mataraço pegou seu celular. Filmou aquela cena. Tirou várias fotos, cada uma num ângulo diferente, de forma que não houvesse dúvida acerca da identificação de Coquinho. Focou no rosto, nas pernas, nas nádegas, no fio dental, na posição do general, em sua bába nojenta que caía no travesseiro; e principalmente nas manchas de sangue deixadas em seu traseiro exótico.
No dia seguinte ligou para Dona Roberta. Tratou de encontrá-la num restaurante de Quadrília. De início foi difícil pra ele expor o assunto para Dona Roberta, mas depois de algumas garrafas de vinho a mulher se soltava e se transformava numa pessoa maleável e até mais divertida.
Na verdade, a ex-mulher de Coquinho sempre desconfiou das atitudes questionáveis do ex-marido. Ele mal lhe dava atenção, não a tratava bem, e já fazia um bom tempo que não dava um trato na mulher. Sua passividade era muito incoerente com a postura ativa e arrogante que adotava com seus subordinados.
Roberta olhou a primeira foto. Espantada, arregalou os olhos. Levou as mãos vagarosamente à boca. Seu olhar permaneceu paralisado diante do que via. A foto mostrava Coquinho de fio dental na posição de conchinha abraçado ao travesseiro. Seus olhos encheram d´água, e a mulher deu uma risada que parou o restaurante inteiro. As pessoas pensaram se tratar de uma louca. Contudo, aquele sorriso representava um desabafo de anos. Não conseguiu se conter. Ria sem parar, sem controle. O garçom lhe perguntou se estava bem e se queria um copo d`água com açúcar. Ela recusou e continuou a rir. Olhou outra foto. E riu. Olhou mais uma. E riu. Olhou todas, e pensou: “essas fotos podem me render um bom dinheiro. Posso, inclusive, ficar milionária.”
— Firmino, suas fotos valem muito! Vamos fazer um trato: você me passa elas que vou colocar o Coquinho contra a parede. Eu sei que ele tem dois milhões de dólares guardados numa conta na Suíça. Podemos exigir esse valor pelas fotos. Daí dividimos o valor: um milhão pra cada um.
Gabi pensou na proposta. Sentiu medo e desconforto, mas viu naquela situação uma oportunidade de mudar de vida. Olhou para Dona Roberta receosa. Abaixou a cabeça. E aceitou o acordo.
No dia seguinte, Dona Roberta tirou cópia das fotos. Colocou-as num envelope e as enviou para Coquinho, sem preencher o campo destinado ao remetente, para que seu ex-marido se sentisse aterrorizado com as fotos e com o anonimato de quem as havia enviado.
Coquinho recebeu as fotos no dia seguinte. Nesse intervalo, já haviam se passado dois dias sem que Firmino comparecesse ao trabalho. O general não entendia muito bem sua ausência, apesar de fazer algumas suposições carregadas de desconfiança.
Roberta telefona pra Coquinho e marcam um encontro. No reencontro do casal, ele apresentava um olhar triste e aflito. Seu semblante era pálido. Suava frio na frente de Roberta.
— Por que está tão pálido Coquinho? Parece que viu um fantasma!
— E vi Roberta. E vi!
— Pois então me diga o que viu!
— Não se preocupe comigo! Esqueça!
— Gostou das fotos que te enviei?
Um silêncio desértico no ar.
Um suspiro profundo de Coquinho.
Nesse instante, Coquinho olhou para Roberta pasmo. Suas bochechas pegavam fogo de tão vermelhas. Seu olhar emitia cólera e revolta. Sua vontade era esganar Roberta, arrancar seu pescoço e jogá-la numa vala de um aterro sanitário. Já ela, olhava pra ele com um olhar de cinismo e perversão. Naquela situação, ela tinha um poder imenso sobre a vida e a reputação de Coquinho. A balança tendia para seu lado.
— Como conseguiu essas fotos? Foi o Firmino?
— Tenho amigos fiéis, o que você não tem!
— Será mesmo que não tenho? Essas fotos podem custar caro, pra mim e pra você!
— Por quê? Vai me bater? Vai me matar?
— Por que faria isto? Não preciso tocar em você! Tenho gente que faz isso pra mim, e gente muito profissional, se você quer saber.
— Não vou te prejudicar, meu amor! Só quero uma ajudinha!
Coquinho suava frio de tanta ira. Pensou no poder destruidor daquelas fotos, na sua reputação de quarenta anos ser destruída em um único dia, e na perda de prestígio social. Pressionado e nervoso, respondeu:
— Quanto você quer Roberta?
— Quanto você tem?
— Quinhentos mil.
— Não minta meu bem! Sei da sua conta na Suíça, e dos seus esquemas pra ganhar uma grana extra! Quero tudo da Suíça! Os dois milhões! Mande de volta pra cá o dinheiro do povo parilenho! Ou você paga, ou essas fotos sairão na capa do Correio de Quadrília!
Coquinho, sem opção e aterrorizado, atendeu ao pedido de sua ex. O dinheiro seria entregue dentro de uma semana, em espécie.
Dois dias depois Dona Roberta encontrou-se com Firmino. Este estava mais calmo e já havia assimilado a ideia da grana com tranquilidade. Os dois marcaram hora e data para dividirem o dinheiro. Aquele montante era suficiente para mudar a vida de ambos. Firmino poderia pedir demissão de seu trabalho, e Roberta poderia viver onde bem entendesse, com luxo e glamour.
Depois de uma semana a grana chegou na casa de Roberta. Coquinho deu ordem a um de seus capachos para levá-la até a casa da mulher. No mesmo dia Firmino recebeu sua parcela. Mas a paz de Roberta e Firmino estariam a prova a partir daquele dia. Coquinho era um homem vingativo e materialista. Não iria deixar barato. Ao contrário, sua maldade não teria limites. E a máfia do exército parilenho estava do seu lado.
Após receber o dinheiro, Firmino pediu demissão de seu trabalho. Comprou uma passagem pro Caribe e foi pra lá sozinho, já que nas ilhas da América Central habitavam lindos rapazes, o que lhe atraía loucamente.
O foco da vingança do general não era Firmino, já que as chibatadas o deixaram apaixonado por Gabi Mataraço. Quem iria pagar a conta era Roberta, a sua ex traidora e oportunista.
Seis meses se passaram.
A esta altura, Roberta já estava levando a vida que sempre sonhara. Comprou um apartamento na praia mais famosa do litoral parilenho. Estava feliz e satisfeita. Já havia até esquecido de seu ex. Aparentemente, estava tudo resolvido. Mas a vingança é sorrateira e astuta. Ela sabe quando atacar. E geralmente ataca nos momentos de maior fragilidade da vítima.
Roberta costumava levantar cedinho para correr pela praia. Ao cruzar um sinal, escuta um disparo de arma de fogo, vindo de uma direção desconhecida. A mulher se assusta e deita no chão. Por sorte, o tiro pegou no poste e ricocheteou numa árvore da calçada. Dois policiais passaram pelo local no momento do disparo, e um deles viu de onde viera o tiro.
Os homens da lei saíram em busca do atirador. Acionaram reforço e cercaram o prédio de onde saiu o disparo. O grupo de ações táticas da polícia nacional foi acionado e conseguiram prender o autor do disparo, o qual foi levado de imediato para a delegacia.
Lá chegando, o delegado procedeu ao interrogatório. Dona Roberta presenciou tudo, e o atirador assumiu que o mandante do crime era o General Coquinho. No dia seguinte, as notícias de capa dos principais jornais de Paril anunciavam:
“General manda matar ex-mulher e se dá mal.”
“General do Alto Comando do Exército Parilenho é preso por tentativa de homicídio”
“General Coquinho vê sua casa cair. Ex-mulher seria a vítima de sua vingança.”
Coquinho foi conduzido à DP e foi decretada sua prisão preventiva. Mas a máfia da qual fazia parte tinha suas ramificações em vários órgãos do governo. E Coquinho voltou pra casa, depois de ter sido impetrado um habeas corpus por seu advogado. Em menos de vinte e quatro horas já estava de volta a sua residência oficial.
Roberta estava nervosa e amedrontada com a situação. Mas se comprometeu a acabar com o que ainda restava da dignidade de Coquinho. As fotos estavam com ela. Não perdeu tempo: ligou para um jornalista da revista mais conhecida de Paril, e lhe passou as fotos. Coquinho não esperava por essa.
Notícia de capa da Revista das Elites: “General do Alto Comando do Exército Parilenho é flagrado dormindo de fio dental vermelho em sua residência oficial no Vago Sul. Na retaguarda, muito sangue.”
Nos dias seguintes só se falava nesse assunto em Paril. O escândalo de Coquinho tomou conta dos jornais do País. Nas praças e nos lugares públicos era o que mais se comentava.
Definitivamente, o mundo de Coquinho havia desabado.
Só faltava o desfecho ... simples e sucinto.
Dona Roberta conheceu um jovem rapaz. Um gogo-boy. Casou-se com ele se mudou para a Europa.
Firmino, digo, Gabi Mataraço, conheceu um lindo bofe no Caribe. Também se casou e foram morar numa pequena ilha da América Central.
Já Coquinho...
“General é encontrado morto em sua residência oficial.”
“General suicida com um tiro na cabeça.”
Agora, Firmino já não era mais um mero integrante dos bastidores desvirtuados das elites, mas um componente da elite. Um cabo-gay de elite, do Caribe.
Elitizado esse tal de Firmino!
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