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Artigos-->OS NOVOS GÊNIOS DA LITERATURA - 1a. Parte -- 13/05/2001 - 12:44 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS NOVOS GÊNIOS DA LITERATURA - 1a.Parte

J.B.Xavier



Volta e meia surge alguém inspirado para revolucionar a ordem estabelecida. São os grandes luminares da cultura universal, cujo aparecimento entre nós se dá mais ou menos à razão de um ou dois, em uma mesma disciplina, ou, somando-se todas as formas de arte e ciências desenvolvidas pela humanidade, não mais que cinco ou seis no total, por século.

Foi assim com Miguel Ângelo, na escultura, quando, após ter sido aluno do grande pintor de afrescos Ghirlandaio, após ter sido adotado artisticamente pela família Médici e após ter sido consagrado como um dos maiores – senão o maior escultor que o mundo já conheceu - resolveu, ao final da vida, romper com a forma e não mais esculpir o rosto de suas estátuas, afirmando que não se sentia mais em condições de representá-los. Que cada um – disse – imagine o rosto e projete nele seu conceito particular de beleza. Coisa de gênio!

Foi assim com Pablo Picasso, na pintura, quando, após uma sólida formação acadêmica que o capacitaria a se tornar um dos maiores pintores academicistas, da história, ao lado de potentados como Donatello, Rafael, Rubens e tantos outros, resolve, também ele, romper com a forma e revolucionar os pilares de sua arte, produzindo telas como Guernica, cuja concepção seria inimaginável cem anos antes. Não que ele tenha sido o criador único do movimento modernista na Pintura, mas, certamente foi o maior de seus luminares, onde brilham também Salvador Dali e... e... Bem, só nascem um dois por século, por isso não consigo me lembrar de outros. Há os seguidores, claro, e destes, a galeria é extensa. Mas a História reserva a glória aos criadores, não aos imitadores.

Foi assim com Stravinski na Música, quando em certa altura de sua vida, revolucionou esta arte, num ambiente artístico em que se supunha não haver mais nada a criar depois de Beethoven e Wagner. Ledo engano. Ele criou novas estruturas musicais, intoleráveis, mesmo para os dois mestres alemães. Ainda hoje para ouvi-lo e degusta-lo, é preciso um desprendimento da antiga concepção de música que a maioria de nós tem.

Foi assim também com o nosso Oscar Niemeyer, que mandou às favas as velhas concepções sobre os cânones estabelecidos de construir edifícios e revolucionou a Arquitetura, pasmando o mundo com novas formas que deixaram tontos aqueles que permaneciam presos a esses cânones. Graças a isso, surgiram edifícios que parecem flutuar, a despeito de sua massa descomunal.

E Foi assim também na literatura.

Quando se pensava que Shakespeare havia exaurido as possibilidades de contar estórias, surge Charles Dickens, revolucionando essa habilidade que tanto prazer nos dá. Como eles, porém, Dante Alighieri também inovou, ao introduzir elementos da vida real em sua Divina Comédia, julgando ele próprio os seus contemporâneos desafetos. E novamente os pilares da literatura foram abalados e reforçados por Miguel de Cervantes, com seu D. Quixote de La Mancha, onde representa todo o vazio da nobreza, fazendo-os perseguir moinhos de vento.

Na poesia, o divino Milton, mesmo cego, dita às filhas os portentosos versos que o imortalizaram, e de Tagore, na mística Índia, a Whitman na América do norte, de Fernando Pessoa, na Europa, a Neruda na América do Sul, e, no Brasil; de Castro Alves a Ferreira Gullar, a poesia sempre revelou suas nuances de desenvolvimento, sem, no entanto, prescindir da correção dos idiomas em que foram escritos.

Uma coisa, porém, não se alterou durante todos esses séculos de mudanças: o conteúdo. A forma mudou muitas vezes, mas o conteúdo manteve-se inalterado, e, quer seja na música, na pintura, na arquitetura ou na literatura, os preceitos básicos de conteúdo mantiveram- se com pouquíssimas modificações.

Mas, mudar é preciso, e volta e meia surgem autores ditos “fenomenais”, que mudam para sempre os rumos da poesia ou da prosa. Assim como Newton mudou radicalmente a geometria euclidiana, assim também esses “fenômenos” alteram estilos e formas em sua passagem fátua pelos caminhos das letras.

A democracia da Internet acelerou esse processo e ouso prever que, no futuro, estudiosos haverão de se debruçar diante desses acontecimentos e produzir ex tensos tratados a respeito.

Em minha opinião de leigo, o que caracteriza essa nova era literária, é o fato de que, contrariamente à ordem estabelecida, seus escritos não agridem apenas a forma - algo somente tentado pelos gigantes da literatura universal – mas agridem igualmente o conteúdo, porque deste, muitos desses escritos possuem quase nada. A união simultânea dessas duas agressões, ainda não havia sido tentada antes, mesmo pelos grandes da literatura.

O que caracteriza a genialidade, é o fato de que os gênios geralmente são expoentes da forma convencional em suas respectivas disciplinas, e, por não encontrarem nelas o espaço necessário à sua genialidade, rompem com as convenções e ampliam esses espaços, criando novas vias por onde seus seguidores transitarão.

Contrariamente a essa tendência, o que se vê atualmente, são escritores tentando revolucionar forma e conteúdo, sem haverem ainda explorado as totais possibilidades da Ordem Vigente, ou por não desejarem faze-lo – o que é pouco provável – ou simplesmente por não terem condições de faze-lo.

Então, ao invés de escreverem convencionalmente e se sujeitarem às comparações inevitáveis que isso implica, escapam dessa comparação e malandramente, em nome da coragem e da genialidade escrevem mandando às favas forma e conteúdo, na esperança de que serão seguidos sem muitos questionamentos.

Assim, graças à rápida divulgação proporcionada pela Grande Rede, vemos pipocar a toda hora os “gênios revolucionários” que, em sua profusão, estão alterando a antiga cadência de seu surgimento entre nós.

Eu não duvido de que este novo estágio da literatura produzirá obras primas, mas para aceita-las como tal, teremos que despirmo-nos das antigas maneiras de ler e interpretar textos, caso contrário estaremos sempre comparando essa nova tendência com as melhores produções da “antiga literatura” e não há garantia alguma de que ela se sairia bem dessa comparação.

À primeira leitura – e até devido à super exposição que a Internet permite – a maioria dos textos dessa Nova Era são confusos e mal arranjados, com pontuações fora de lugar e erros gramaticais gritantes. E aí é que os que pertencem à velha linhagem literária terão que fazer sua opção: Ou aceitam o “non sense” como manifestações do gênio humano, ditadas pelas necessidades de liberdade de expressão que assola o mundo, ou concluem que essa nova tendência é apenas um amontoado de maus escritores, e mantêm-se fiéis a Camões e a Pessoa.

Eu disse “à primeira leitura” porque uma das características dessa nova tendência literária é que não importa quantas vezes se leia o mesmo texto à procura de sentido. Uma segunda ou uma terceira leitura, mais atenciosa, deveria, como costuma acontecer, esclarecer pontos e evidenciar sutilezas que escaparam à atenção. Mas isso não acontece! Pode-se ler quantas vezes se desejar e o texto ainda continuará confuso e aparentemente mal escrito. Tal como Miguel Ângelo, os novos “gênios” deixam para o leitor o trabalho de adivinhar o que ele tencionou dizer. Convenhamos, é uma inovação de tirar o fôlego.

Ora, não importa o quanto essa genialidade agrida ou revolte os que não a possuem. Não importa a grita dos convencionais. Os deuses escolhem – sabe-se lá por quais critérios – alguns de seus filhos, de século em século, e os ungem com essa luz divina que faz com que todos os não ungidos pareçam completos idiotas.

Para as mentes tacanhas como a minha, aceitar as mudanças apenas por que são diferentes é um insulto à inteligência, se, no bojo dessas mudanças não houver significado e conteúdo. A não ser que o próprio conceito de inteligência se altere. Quando isso acontecer e todos parecerem estar errados, então Confúcio estará certo: “Quando todos erram, todos têm razão”.

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