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Contos-->Um conto homenagem: O garoto do Complexo -- 18/08/2015 - 22:50 (LEANDRO TAVARES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um conto homenagem: O garoto do Complexo
Rio de Janeiro. Complexo do Alemão. Fazendinha. Ali nasceu e cresceu o nosso amigo Leco. Em meio a tiroteios, drogas, bandidos e policiais, passou sua infância e parte de sua adolescência. Seu pai, um comerciante da favela, resolveu mandá-lo para Rio das Ostras. Nessa época, tinha 16 anos. O grande medo do pai era que Leco fosse perdido para as drogas, ou para o mundo do crime.
A atitude do pai mudou seu destino. Ao invés de ser fogueteiro, foi ser cadete. Ao invés de portar um fuzil do Comando Vermelho, foi portar um fuzil do Exército Brasileiro. Ao invés de morrer aos 23 anos, foi declarado aspirante-a-oficial.
Fora classificado em Barueri depois da conclusão do curso da Academia. Lá teve de enfrentar um batalha árdua. Lutou contra o tempo, contra seus inimigos, e contra os rótulos que os ignorantes lhe imputaram. Lutou. Enfrentou face a face um Conselho de Justificação. Foi ao limite. E com muita fé em Deus, superou as agruras daquela tempestade para, finalmente, vencer. E foi absolvido. E venceu.
No meio dessa tempestade, conheceu advogados, procuradores e juízes. Teve seu primeiro contato com o mundo jurídico. Desse aglomerado de aborrecimentos e dissabores, viu uma oportunidade. Passou a entender e a amar a dialética. Mestre na arte de conciliar, conjugava o trabalho, a família e a faculdade.
Fruto de seu suor e de sua capacidade de liderança, foi designado para integrar o contingente da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Lá mostrou sua liderança, seu respeito e sua empatia para com seus subordinados. No Haiti, viu a desgraça do mundo, as dores mais cruéis da humanidade, e a penúria do País mais pobre das Américas. Essa experiência ensinou-lhe ainda mais. E ele, que já era uma pessoa solidária, tornou-se um exemplo na arte de servir ao próximo.
O tempo passou. E a tempestade que vivera transformou-se num diploma de bacharel em ciências jurídicas. Ao invés de um tiro no peito, uma beca. Ao invés de toca de marginal, um capelo. Ao invés de chefe da boca, capitão do Exército. Ao invés de fora-da-lei, um advogado, um homem da lei.
Depois de oito anos de formado, foi transferido para o Rio de Janeiro, para fazer um curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Lá reencontrou seus amigos de turma. Naquele universo, era o mais prestativo, o mais solidário, o mais paciente e o mais humilde, além de conciliador e amenizador de contendas.
Preparava o café de seus amigos de turma todos os dias. Chegava mais cedo para que o café de seus colegas de classe estivesse pronto quando retornassem do treinamento físico. Lavava as vasilhas, os copos e as colheres, sem nada pedir, sem nada exigir. Mas simplesmente por ser o que era, por carregar consigo uma solidariedade imanente, e por revelar ser um espírito mais evoluído. Seu desprendimento e solidariedade eram sua marca maior. Não buscava o prestígio ou admiração de seus pares. Apenas era o que era. Nada mais. Suas atitude e postura eram espontâneas e naturais, tão naturais quanto a simplicidade dos moradores do Complexo.
Após um ano, o curso terminou. E seus amigos de turma lhe deram duas recompensas: um placa e este conto factualmente real, tão real quanto a solidariedade de Leco.
Nesses dramas de sua vida, Leco incorporava uma singularidade, um forte sobrevivente, e um sobrevivente forte.
Ao invés de um caso perdido, um exemplo — digno desta homenagem.





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