Na época, foi um duro fracasso. A Ufa [fábrica de sonhos do cinema expressionista] teria enterrado cerca de 4 milhões de marcos imperiais, dizia-se. Mas hoje, 70 e tantos anos depois da estréia (10/01/1927), sabemos: "Metrópolis", o clássico de Fritz Lang, ficou sendo a mais bem sucedida produção jamais realizada na Alemanha. Nenhum outro filme, nem mesmo o "Nosferatu" de Murnau exerceu tamanha influência ou mereceu tantas citações.
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De Helene Paul [Die Welt online]
Trad. e copydesk: ZPA
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A paisagem urbana artificial, a erguer-se em direção ao firmamento, e o reino subterrâneo das sombras – entre eles, o mundo da máquina –, bem como as visões de templos pagãos ou a torre de Babel em Babelsberg [estúdio nos arredores de Berlim], há décadas vêm sendo usados por cineastas americanos como relíquias preciosas. Imagens e motivos reaparecem na série "Indiana Jones", de Steven Spielberg, "Guerra das Estrelas", de George Lucas, ou "Batman: o retorno", de Tim Burton.
Pedreira onde a pós-modernidade recolhe seus cacos, "Metrópolis" já era uma colagem de fragmentos de mitos, motivos dos contos de fada, referências bíblicas, empréstimos de esboços futuristas da literatura de entretenimento contemporânea, para não falar dos elementos do cinema expressionista que se juntaram para contar sua história.
Entre os críticos presentes à estréia, o roteiro foi visto como um desafio provocador. Enfatizava-se a mensagem ingênua do coração, mediador entre o cérebro e as mãos. E eram tudo menos cegos os céticos de então, convictos de que a história não estivesse à altura da riqueza visual concebida por Lang.
Mas o filme nunca deixou de merecer interpretações furiosas, atacado tanto por adeptos do bolchevismo como do nacional-socialismo. Os métodos da psicanálise ajudaram a ver nele um complexo de Édipo. Mas nem os apologetas lograram criar uma ponte para que pudéssemos transpor o abismo entre a ingênua história de amor particular e o trivialmente utópico esboço do mundo — nem mesmo quando Freder (filho do senhor de Metrópolis) e Maria (líder dos trabalhadores do subsolo) formam um casal, estendendo a mão a empresários e trabalhadores.
Talvez não tenha errado tanto Giorgio Moroder, em 1984, ao promover um surpreendente renascimento de "Metrópolis" como evento pop, em versão pessoal e só mesmo incômoda para os puristas incorrigíveis. Presume-se que nunca mais haverá uma versão integral, algo assim como uma director’s cut.
Em agosto de 1927, ao chegar às salas alemãs fora de Berlim, sua duração estava reduzida em um quarto. E era mais curta ainda a versão que estreara em Nova Iorque em março daquele mesmo ano.
Em busca do material perdido, os historiadores envidaram esforços inimagináveis. Porém, sem achados relevantes. Assim, a descoberta dos letreiros que se projetavam entre as seqüências ou o rastreamento de melhor material, ainda que conhecido, são dados como pequenas sensações, como aconteceu no Festival de Berlim em 2001.
Nestes nossos tempos tantas vezes depreciados, com os filmes ilimitadamente disponíveis em vários suportes de imagens e com qualquer projeto, por precária que seja a produção, a pressupor um making of, pode-se falar numa vantagem inegável: não haverá mais um caso como "Metrópolis".
Se, na estréia em 1927, um espectador tivesse feito, diretamente da tela, uma cópia em microfilme, seu feito teria hoje um valor incalculável
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