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Erotico-->19. LAURA BEATRIZ -- 13/02/2002 - 07:20 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rosalinda vinha observando as transformações físicas e intelectuais por que vinha passando a filha, que entrava na puberdade. Não quis antecipar uma conversa mais aberta a respeito de sexualidade, preferindo esperar pela primeira menstruação.

Mas as coisas se precipitaram quando a própria menina a procurou, preocupada com o fato de a mãe vir encontrando-se com diversos homens, sem escolher alguém que assumisse a responsabilidade de tornar-se chefe da pequena família.

— Mãe, você não acha que está dando um péssimo exemplo, transando com vários homens?

A pergunta pegou a moça de surpresa. Pensou em jogar contra a filha um “o que é que você tem com isso?”, mas conseguiu perceber a tempo que essa seria uma observação a lhe ser devolvida em muitas circunstâncias de futuras reprimendas. Deliberou concordar:

— Você tem toda a razão. Se você começasse sua vida sexual dando para vários rapazes, eu não iria ficar satisfeita.

— Que prazer você tira desses pobres que não têm capacidade sequer para uma conversa adulta? Eu me lembro do Laerte. Aquele, pelo menos, tinha idéias na cabeça e era bastante animado. Esses mais novos parecem que não saem de um círculo restrito de ficar vendo jogos na televisão ou algum filme policial tolinho, em que os bandidos levam vantagem e os mocinhos ficam com a cara no chão.

— Nem todos que eu contato pela Internet são exatamente aquilo que afirmam ser. Os do centro espírita têm medo de mim, porque vou dizendo logo tudo o que penso. Mas você não deve me acusar de levar todos para a cama. Calma lá! Neste último ano, desde que a sua tia torta brigou comigo por eu ter tentado roubar o namorado dela, fiquei de quarentena.

— Ficou nada. Mas eu não quero falar mais nada, porque você deve saber o que está fazendo. Não tenho o direito de censurá-la, mas também não posso elogiá-la como gostaria. Você está sabendo que muitas colegas se afastaram de mim por causa de seu comportamento?

— Como é que elas podem saber o que eu faço ou deixo de fazer?

— As mães delas estão de olho em você. Quando eu falei em exemplo, foi porque ouvi exatamente esse tipo de comentário.

Rosalinda tentou abraçar a filha, mas esta se esquivou. Não queria perder o elã. Complementou:

— Pois existe uma outra coisa que está acontecendo e que você precisa ficar sabendo: os meninos acham que comigo vão se dar bem, que eu vou fazer exatamente como você.

— Eles que se atrevam.

— Eu é que não deixo. Eu sei me defender. Mas as colegas que têm um pai ou irmão mais velho para defendê-las são bem menos assediadas.

— Você, não procurando os rapazes, eles vão acabar desistindo.

— Aí é que está. Eu também tenho o direito a azarar alguns no shopping. Você já me contou que, na minha idade, passeava muito e saía com vários, um não sabendo do outro.

— Você diz as coisas como se tudo na minha vida se resumisse em paquerar e transar. Ainda bem que você sabe o quanto progredi na área das confecções e do comércio das peças femininas e o quanto tenho dado duro no centro espírita, inclusive nas palestras para adolescentes, para grávidas e mães solteiras. Além do mais, o trabalho para conseguir ajudar os carentes me leva bastante tempo.

— Você está encarando a minha observação de maneira distorcida.

— Onde você aprendeu a falar com tanta propriedade?

— Estou repetindo uma frase que você mesma gosta de dizer nas reuniões. Não se esqueça que faz alguns anos que você me leva a quantas sessões de estudo de que participa.

— Sessões de estudo a que você começa a faltar, mesmo aquelas para a mocidade espírita. Está certo que você está mais adiantada, mas aprender a lidar com outros jovens, para convencê-los de que a doutrina é útil para a vida de todo dia, irá favorecer o seu crescimento moral e intelectual.

— Eu acho que já me favoreceu bastante, principalmente no que diz respeito ao aspecto moral. Você não acha que eu tenho razão em reclamar um procedimento mais moralizado de sua parte?

Desta feita, Beatriz não conseguiu evitar que a mãe a abraçasse e que lhe dissesse entre lágrimas:

— Aos vinte e nove anos de idade, estou aprendendo com a pirralhinha que nem mulher é ainda. Se minha mãe me tivesse conduzido para esses conhecimentos, eu acho que hoje, talvez, eu não tivesse a oportunidade de ter este presente tão lindo do Pai. Valeu a pena todo o sofrimento de uma juventude que ficou meio frustrada...

— Que frustrada nem meio frustrada! — exclamou a mocinha, livrando-se do abraço. — Eu não acho que representei nenhum sacrifício para você.

— Com quem você tem conversado a respeito destas coisas?

— A vó Rosaura está me sondando, achando que está na hora da minha primeira comunhão. Ela não cansa de me dizer que eu não preciso pôr aquele vestido branco. Basta aprender umas orações e ir a umas aulas de catecismo.

— Aposto que não é ela que fala a respeito de minha conduta moral.

— Eu provoco mas acho que tudo o que ela diz é por mera formalidade. Com certeza, o confessor dela está lhe instigando ainda mais a consciência, porque ela deve julgar que está cheia de pecado por não conseguir dobrar a filha e a neta.

— O problema, Beatriz, é que eu não posso dizer nada. Neste último ano, precisei ouvir calada a respeito da infidelidade de seu avô, porque a minha mãe tinha uma ascendência muito forte sobre mim e ele, dizendo ter perdoado a ambos, colocando-se na posição de vítima.

— Eu gosto muito da vovó. Se você não me proibir, eu acho que vou fazer de acordo com o gosto dela.

— Ao contrário, eu até incentivo essa atitude, porque vai levar você a pensar a respeito de muitos temas que estão na cabeça dos católicos que desejam entender o que seja a doutrina espírita.

— Você acha necessário que eu passe por essa experiência?

— Não acho necessário. Acho interessante, porque acredito que estamos vivendo para aprender a analisar e a criticar as coisas que não estão corretas. E isso eu sei que você vai fazer com o máximo de clarividência, do mesmo jeito que analisou e criticou a minha vida afetiva. Se vale uma promessa minha, vou procurar controlar-me. Quem sabe eu encontre um homem que corresponda a todos os meus anseios, porque, vamos falar francamente, os que têm passado pela minha vida não mereceriam uma simples atenção da minha parte.

Laura Beatriz teria mais o que dizer a respeito, mas preferiu calar-se, para que a conversa se encerrasse com a chave de ouro da promessa de morigeração dos hábitos. Ficava na expectativa, certa de que o futuro também lhe reservaria muitas surpresas desagradáveis.

Rosalinda, recolhida ao leito, demorou para conciliar o sono, impressionada com o discernimento da filha, tentando recordar-se de uma conversa que tivera com Rosaura mais ou menos com aquela mesma idade. Não se lembrou de muita coisa, mas comparou as suas expressões desbocadas com a delicadeza dos pensamentos e sentimentos de Beatriz, julgando que a filha iria trilhar um caminho bem diferente do dela. Antes de dormir, lembrou-se de agradecer a Deus e aos guias da espiritualidade, em comovente prece reconhecida.


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