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Erotico-->16. LAERTE -- 10/02/2002 - 17:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Por sugestão do pai, Rosalinda passou todo o ano seguinte estudando contratos de franquias, inclusive matriculando-se num curso em que recebia aulas duas vezes por semana.

Assim, conheceu pessoas empreendedoras e ambiciosas, pequenos e grandes comerciantes interessados em expandir os negócios, sem correr grandes riscos, já que cediam marcas e fornecedores, dando treinamento e possibilitando estágios em seus estabelecimentos.

Quando abriu as portas para candidatos a usufruir a fama de seu nome de fantasia, ou melhor, do nome da loja tradicional da família, logo surgiram vários interessados, dentre os quais um senhor ainda jovem, entravado numa cadeira de rodas, mas o próprio otimismo em pessoa, desejoso de aplicar polpuda soma recebida a título de indenização pelo acidente de que foi vítima.

— Perdi o uso das pernas, disse ele ao ser entrevistado por Rosalinda, mas foi como uma bênção, porque estou utilizando, com muito mais propriedade, a inteligência.

— Qual é a sua experiência no ramo da moda íntima feminina?

— Tinha alguma antes do acidente. Faz um tempinho já que não tenho tido oportunidade de examinar tais peças de perto.

Rosalinda gostou da facécia e insistiu:

— Além do contato pessoal com alguns modelos, qual o seu conhecimento técnico?

— Sempre trabalhei com roupas masculinas. Como empregado em grande firma exportadora dos próprios produtos, tenho bom conhecimento do mercado.

— E o que o levou a pensar em que vai ter sucesso mudando de setor?

— É que agora vou ter o meu próprio negócio e acredito que poderei controlar uns poucos funcionários.

— Já leu o contrato?

— Li e mostrei a um advogado amigo, que me recomendou o negócio, dada a seriedade de sua firma.

— Está disposto a despender a quantia estipulada, além de encontrar um ponto de venda de acordo com as especificações do contrato?

— Perfeitamente.

— Está a par dos riscos, caso seu pessoal não saiba conduzir a clientela?

— Não pretendo obter lucros no primeiro ano. Vocês falam em oito a dez meses de espera. Eu posso sustentar a loja por um ano inteiro, sem problema.

— Vejo que o senhor...

— Você, por favor.

— Qual é a sua idade?

— Trinta e oito.

— Acho que posso chamá-lo por você. Então, você aceita a margem estipulada para as vendas?

— Acredito que esteja de acordo com as normas do mercado.

— Está um pouco abaixo. O nosso interesse é tornar as lojas com o nosso nome mais populares do que esta minha. O senhor...

— Olhe lá!

— Você deve ter feito uma pesquisa antes de optar pelo nosso negócio.

— Claro que fiz. Até conversei com outras empresas abertas à franquia, mas ou o meu dinheiro era insuficiente, ou a complexidade do negócio exigia cursos muito demorados, enquanto estou buscando realizar algo imediatamente.

— Esse seu defeito físico vai impedi-lo de locomover-se dentro da loja. Então, é bom que saiba que deverá ficar exclusivamente na administração. É bom ter um espaço físico adequado para observar o que se passa no ambiente de trabalho.

— Eu não serei um patrão ausente, embora ficar o tempo todo anotando cada mínimo gesto...

— Não vamos adiantar o treinamento. Trataremos desses aspectos numa das dez aulas a que você terá de comparecer. No caso de sua dificuldade, você precisa que alguém o ajude ou consegue deslocar-se sozinho?

— Sou autônomo, até um certo ponto, porque a cidade não está preparada para os paraplégicos. Mas me viro. Isso é importante para a abertura da franquia? Franquia ou franchise?

— Franquia, em português. O termo em inglês só será usado caso haja um dispositivo de marketing que exija um lance exótico, para atrair a atenção, ainda mais por causa da enxurrada de estrangeirismos no nosso idioma.

— Respondendo melhor à sua pergunta, devo dizer que tenho dois sobrinhos que se alternam em me conduzir a lugares novos. Um deles está lá fora esperando.

— Vejo, na sua ficha, que você é solteiro. Mas preciso saber se não possui uma família para cuidar. Esses seus sobrinhos são pagos para levá-lo de um lado a outro?

— Que cuidado é esse? Faz parte da franquia ou tais perguntas constituem mera curiosidade?

— A gente procura fazer que as pessoas não deixem de lado nenhuma perspectiva de desvio da lucratividade. Se o franqueador achar que o franqueado não vai conseguir levar avante o projeto, é melhor frustrar logo a intenção, uma vez que está em jogo o nome da empresa.

— Não tenho gastos além dos normais com duas pessoas: eu e minha mãe viúva. Felizmente, todos os meus parentes estão bem de vida. Eu era o pobretão, embora tenha três propriedades: minha casa, um apartamento na praia e uma participação numa propriedade no interior, com meus irmãos. Aliás, vá com seu marido ao nosso sítio passar um fim de semana. Lá o ar é muito gostoso.

— Poderei ir com minha filha. Ela está na idade de ver que as vacas comem capim e produzem leite sem ser em caixinhas de papelão.

— Qual é a idade da menina?

— Vai completar dez anos.

— E nunca viu um pasto?

— Caipira da cidade grande, sem tirar nem pôr.

— Então, vamos combinar. Domingo que vem, eu passo em sua casa e levo as duas a passear.

— Com uma condição: você vai ter de assistir lá a duas aulas do curso, evitando assim o sacrifício de aqui comparecer.

— De acordo. Por que não leva também o marido?

— Estamos divorciados.

— É pena!

— Por quê?

— Eu nem sei porque falei isso. Afinal, não quero meter-me em sua vida.

Quando Rosalinda largou a cadeira de rodas na calçada, surpreendeu-se pensando em como seria conviver maritalmente com um paraplégico, admirando-se muito de haver concordado tão de pronto com o passeio.

“Será que tivemos uma empatia espiritual? Será que somos conhecidos de outra existência? Por que eu o achei tão simpático e absolutamente confiável? Será que estou confiando em que a cadeira de rodas possa representar firmeza de caráter? Ou se trata do interesse demonstrado em fazer negócio comigo?”

De qualquer modo, passou o resto da semana ansiosa pelo encontro, desenvolvendo uma a uma das intuições da primeira hora, com a evidente intenção de caracterizar que espécie de relacionamento teriam.


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