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Artigos-->BAMBOOZLED: o novo Spike Lee -- 10/05/2001 - 23:54 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ou revertemos o curso dos acontecimentos, ou naufragamos todos.

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Por Sascha Westphal (para o DIE WELT online, 10/05/2001)

Trad.: zé pedro antunes



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Malcolm X descreveu o destino dos negros na América com as palavras "You ve been bamboozled". Impossível traduzi-las, é claro. "Fizeram vocês de idiotas" é insuficiente, perdida a sonoridade única do verbo principal, que descreve mais do que um simples processo. Nele, o que se sobressai é uma postura acusatória.



"Bamboozled", o título original do novo filme de Spike Lee [na Alemanha, "It s Showtime"] é um signo cujas mais diversas significações o irado cineasta, em sua visão, coloca em ação por trás das cortinas da televisão americana.



Fazer as pessoas de idiotas, é este o negócio das emissoras que, dia após dia, nos afogam num dilúvio de programas destituídos de sentido. Para elas, nada é sagrado. E, pior ainda, nada está suficientemente abaixo do nível.



Nos Estados Unidos, no entanto, esse negócio continua a ter um outro lado. Os negros foram, além do mais, "bamboozled", feitos de idiotas. Em última instância, eles nunca foram mais do que personagens de piada, cuja estupidez e preguiça divertem, mas também justificam, requerem uma severa e paternal condução por parte dos brancos.



Foi assim nos Minstrel-Shows dos anos 50, com seus caras-pretas, protagonistas com o rosto pintado de preto retinto com rolha queimada, transformando-se em caricaturas grotescas. O mesmo haveria de se repetir nos sitcoms de hoje, cujo racismo surge de forma sutil, mas nem por isso menos maléfica.



Com a emissora em dificuldades, o autor Pierre Delacroix (Damon Wayans), uma vida orientada pela necessidade de fazer carreira, experimenta a pressão do sucesso.



Não importa como, uma sensação tem de surgir. A idéia: ressuscitar os Minstrel-Shows do passado.



Um conceito que já traz em si mesmo a promessa do sucesso, com o qual o autor espera colocar a televisão e o público em face de um espelho, a refletir o fascismo que os une. Sobre Delacroix, a personagem Sloan (Jada Pinkett-Smith), que faz sua assistente de direção, costuma dizer: "ele é um negro, mas não é preto".



"Faça a coisa certa", a precoce obra-prima de Spike Lee, terminava com citações de Martin Luther King e Malcolm X. O que não era um paradoxo. Elas marcavam um campo de tensão, no qual o cinema do diretor haveria de se mover adiante.



Para o cineasta, os pensamentos dos dois líderes negros foram sempre tese e antítese, e seu "black cinema" furioso, mas sempre direcionado para o futuro, só pode ser pensado como síntese de ambos.



Também em "Bamboozled" [It s showtime] ressoam as idéias tanto do defensor dos direitos civis como do líder separatista. Nelas se inspiram a longa marcha de Delacroix através das instituições e os trejeitos revolucionários dos "Mau Maus", um grupo de rappers militantes ao redor de Julius (Mos Def), o irmão de Sloan. Mas fracassam todos. Das boas idéias acabam por amadurecer péssimas conseqüências. No limite, vão desembocar num excesso de violência de ambos os lados.



Spike Lee continua fiel ao agitprop, aqui talvez mais desbragadamente do que nunca, mas o fatalismo do showdown faz com que essa fidelidade seja levada ad absurdum. A propaganda cai no mais amargo pessimismo, a visão política é um retrocesso em relação à mirada filosófica.



A nós, à humanidade como um todo, não restam mais que duas alternativas: ou revertemos o curso dos acontecimentos, ou naufragamos todos.



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