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Erotico-->12. ANDRÉ -- 06/02/2002 - 09:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rosalinda estava cansada com as frustrações amorosas de toda a vida. Aos vinte e três anos de idade, considerava-se bastante adulta para arcar com a responsabilidade de um lar, já não se importando se o homem da vez tivesse ou não rendimentos suficientes para as despesas decorrentes de um bom padrão de vida.

Foi quando apareceu André.

André foi-lhe apresentado por Heitor, com quem ela mantinha um relacionamento de pura e ingênua amizade há mais de ano.

Naquela tarde de sábado, tendo deixado Laura Beatriz com os avós, Rosalinda preparou-se para ceder seus favores ao moço, sabendo, embora, tratar-se de um folgazão, cujo mérito maior era ser divertido, colocando as pessoas à vontade, tendo sempre uma palavra oportuna ou um silêncio compreensivo.

Dizia-se estudante de Direito, mas jamais tal fato o impediu de comparecer a qualquer reunião social, usufruindo sempre as benesses de seu sorriso simpático e complacente.

Estimulou Rosalinda o empenho com que André se dedicava a satisfazer as mulheres, atraindo-as com mimos e atenções. De onde vinham os recursos para se manter alinhado e bem disposto? Dizia que o pai lhe dava substanciosa mesada, sem jamais entrar em detalhes.

Combinaram encontrar-se no parque, sob frondosas árvores, na cálida tarde de verão. Ele afiançara-lhe que precisavam ter uma conversa bem séria, que “iria definir o futuro de ambos”, conforme lhe sussurrara ao ouvido, ao saírem da palestra a que compareceram a convite de Rosaura, no Círculo das Senhoras Católicas, onde um velho sacerdote discorreu a respeito do tema do livro que estava lançando: A Liberdade Sexual Perante o Evangelho.

Quando Rosalinda chegou, já lá se encontrava André trajando uma camiseta branca de gola alta, esportiva, combinada com a calça azul claro, presa ao tornozelo, fazendo ressaltar um belo par de tênis estrangeiro, colorido, novinho em folha.

Ao ver que Rosalinda se aproximava, levantou-se do banco e foi ao encontro da moça, a quem afetuosamente beijou em ambas as faces, galanteando-a com um terceiro beijo “para casar”.

— Vamos sentar à sombra, que a sua bela cútis não pode sofrer a inclemência dos raios do nosso maravilhoso astro rei.

— Você está muito poético, hoje.

— E você está linda, com esta tonalidade de rosa nas faces, combinando com a linda rosa que você é.

Faceiramente, Rosalinda tocou-o com o cotovelo, fazendo o seio roçar o braço do rapaz.

Sentados juntinhos no banco do jardim, diante do pequeno lago por onde deslizava um casal de marrecos, ambos ansiavam pelo desfecho daquele decisivo encontro.

Mas André não se resolvia a abrir o jogo. Foi Rosalinda quem lembrou-o do compromisso daquela tarde:

— O que de tão importante você tem a me dizer, a ponto de definir o nosso futuro?

— Eu acho que o Heitor está interposto entre nós dois.

— Você deve saber que a nossa relação é meramente intelectual.

— Vocês têm saído juntos todas as semanas. Às vezes, mais de uma vez. Eu sei que vão a cinema, que freqüentam restaurantes, que assistem a espetáculos teatrais e até já estiveram em reuniões religiosas, como aquela de ontem.

— Isto só tem acontecido porque eu não tenho um namorado que me leve a distrair do trabalho de cada dia. Se eu tivesse um homem com quem vivesse maritalmente, certamente o Heitor seria descartado.

— E você não sente falta de alguém com quem possa compartilhar os momentos felizes ou mesmo infelizes?

— A bem da verdade, é esse homem que estou procurando.

— Posso fazer-lhe uma pergunta indiscreta?

— Claro que pode. Eu nunca escondi minha vida sexual de ninguém. Até já lhe contei a respeito do Lauro e do Clóvis. Quer saber o nome dos outros quinze ou dezesseis namorados que tive desde os meus treze ou quatorze anos?

— Não era a respeito deles que eu ia perguntar. O que eu quero saber, se você me perdoar de antemão, já que está longe de mim querer magoá-la ou ofendê-la, é quando foi a última vez que você transou, uma vez que me afirma que com o Heitor as relações são bucólicas, ingênuas, puras...

Rosalinda não achava necessários tantos rodeios. Teria ele medo de que ela pudesse estar com alguma doença venérea? Não respondeu diretamente:

— Você está querendo saber se meus atos sexuais têm sido abençoados pelo sentimento do amor ou se constituem apenas um imperativo físico. É isso?

— Não importa a afeição que você possa ter tido pelo parceiro.

— Então, quer saber se sou promíscua. Não é isso?

— Não interprete mal as minhas palavras. A pergunta é simples e merece uma resposta numérica: tantos anos, ou meses, ou dias...

— Pois eu acho que não vou responder. Estou estranhando muito que você esteja levando os preparativos para esse lado. É muito esquisito, quando se deseja uma mulher, ficar perguntando a respeito de sua vida sexual. Você não acha?

— Você não está afirmando que não vem satisfazendo-se com o Heitor?

— Você não está duvidando de mim. Está?

— Claro que não. Estou achando que você está perdendo tempo com ele.

— Claro que não estou. Nós conversamos muito a respeito de tantos assuntos. Foi todo um universo novo que ele me revelou. A cultura dele é vastíssima. Ele é uma pessoa inteligente e sensível. Falta-lhe apenas um interesse apropriado pelo sexo frágil, talvez por ele mesmo ser muito frágil.

— Pois eu nutro por ele a mesma admiração. Eu o conheci bem antes de você e sinto falta de nossos passeios, de nossas conversas, de nossa intimidade.

Rosalinda caiu das nuvens. Não era ela a quem André visava. Era ao Heitor.

Sentiu um desejo enorme de agredir o rapaz à sua frente. Em vez disso, não conseguiu sopitar uma gargalhada e uma exclamação:

— Que burra que eu fui em não perceber a sua intenção. Mas deveria estar claro: eu é que não vi, interessada em levá-lo pra cama e mantê-lo sob minhas asas. Bem feito pra esta galinhona boba! Eu que aprenda mais esta.

Foi assim que se tornaram esporádicos os encontros com o dentista, resumindo-se, finalmente, às consultas para ajuste e retirada definitiva do aparelho dentário.


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