Durante alguns meses, estagiei num manicômio judiciário, e minha função era emitir laudos sobre o progresso na melhora do estados de saúde dos pacientes. Para isso, eu os vigiava atentamente através de uma janela espelhada que me permitia vê-los sem que elesme vissem.
Certa vez, vi um paciente se aproximar do outro e fazer uma estranha proposta:
- Ouça, disse ele – consegui que me trouxessem uma lanterna elétrica. Agora já podemos fugir desse lugar miserável!
- E como você vai fazer isso? – disse o outro
- É simples! Eu acendo a lanterna e aponto o facho de luz para o teto. Você sobe por ele, retira algumas telhas e fugimos. Faremos o mesmo com o muro.
Achei graça da proposta, mas parei de rir quando ouvi a resposta do outro paciente, que falou balançando a cabeça, numa atitude pensada e coerente,demonstrando pena do amigo.
- Não daria certo...tire isso da cabeça!
Desse dia em diante, vi os dois conversando freqüentemente, e a cada proposta de fuga pelo facho de luz, o outro recusava-se educadamente, esquivando-se do convite. Então resolvi chamá-lo para uma conversa de avaliação sobre sua sanidade mental, pois seu comportamento me parecia bastante coerente. Quando ele sentou à minha frente, cabelos bem penteados, barba feita, olhar firme, tive certeza de que estava diante de um paciente recuperado.
- Tenho ouvido freqüentemente seu amigo convida-lo para fugir pelo facho de luz de sua lanterna elétrica e a cada vez, noto que você recusa...você não gostaria de sair daqui?
- Claro que gostaria! Mas não dessa maneira idiota! Está claro que não daria certo. Ele faz esse convite porque não gosta muito de mim...não confio nele. Se ele quisesse mesmo que eu fugisse, pensaria numa maneira menos maluca!!!
Animado com a resposta, perguntei:
- Mas o que há de errado com a maneira dele?
- É que tenho certeza de que quando eu estiver no meio da subida ele vai desligar a lanterna...!