Retrato em Branco e Preto
Tom Jobim
Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho,
E sei também que ali sozinho,
Eu vou ficar tanto pior
E o que é que eu posso contra o encanto,
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto e que, no entanto,
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes, velhos fatos,
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um tolo,
Procurar o desconsolo,
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras,
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado,
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
releitura de Retrato em Branco e Preto.
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Sei de todos os caminhos.
Sei que não levam a lugar algum.
Sei de tudo que se passa contigo.
Sei que a cada tropeço do caminho
eu ficarei só.
Nada vai ficar melhor,
e nada posso fazer
contra esse amor que sempre nego,
sempre evito,
e no final,
volta como feitiço,
arrastando as mesmas histórias
que eu não deixo de lembrar.
Sinto-me tola, idiota,
quando volto a te procurar,
porque já te conheço bem.
Nesses dias chuvosos de saudade,
faço verso, faço prosa,
converso com a lua, investida da loucura,
e digo a mim mesma que assim não dá.
E mesmo assim ainda escrevo sobre a dor
e a ferida de um passado que ficou,
e junto com os versos guardo as fotos
num abraço,
que eu ainda teimo em guardar.
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