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Artigos-->Odisséias - Homero x Kubrick: uma comparação -- 05/02/2003 - 09:44 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O poema homérico A Odisséia relata o retorno de Ulisses, rei de Ítaca, à sua terra e aos braços de sua esposa Penélope e de seu filho Telêmaco. Ulisses foi um dos heróis gregos que lutaram na guerra de Tróia. Ele mesmo não queria ir à guerra, pois segundo uma profecia, se fosse, ele demoraria vintes anos para retornar a Ítaca.



Homero escreveu esse poema há dois mil e setecentos anos. Seria razoável fazer um paralelo entre a saga de Ulisses e a dos cinco tripulantes da nave espacial Discovery em “2001 - Uma Odisséia no Espaço”?



Em 1968 Stanley Kubrick lançou o filme, considerado como o melhor de ficção científica de todos os tempos. Qual o paralelo entre Ulisses e Davi Bowman, o único sobrevivente daquela odisséia?



O diretor Stanley Kubrick revelou: “Queria fazer um filme sobre a relação entre o homem e o universo”. E Homero, não quis fazer um poema que tratasse também da relação entre o homem e o universo? Como esses dois universos se cruzam, em que ponto se afastam?



Há alguns pontos em comum nessas duas Odisséias, assim como divergências. Vejamos exemplos de uns e de outras, com o propósito de descobrir o quanto as semelhanças entre uma e outra acentuam as diferenças e vice-versa: Ulisses foi o único que sobreviveu às intempéries de sua viagem. Davi Bowman também. Quem matou os companheiro de Ulisses? A insensatez deles, o ciclope, os deuses. Quem matou os companheiro de Davi? O supercomputador HAL, que “comandava” a nave. O HAL, depois de falhar algumas vezes, seria desligado, se antes não tivesse “desligado” os que cogitaram o fato. Como estava fora da nave, Dave sobreviveu, e, entrando na Discovery, conseguiu desligar o HAL.



Ulisses fora escolhido pelos deuses, protegido por uns, perseguido por outros, sendo a mais conhecida prova dessa perseguição o desfavor de Poseidon, cujo filho, o ciclope, Ulisses matara. A saga de Ulisses revela como os deuses parecem dispor de nossa existência, determinando o nosso bem e o nosso mal, nossa bem-aventurança e nossa desgraça, pouco nos restando fazer senão, resignados, aceitar os desígnios divinos. Mas esse não é um ponto de convergência entre as duas Odisséias. É um ponto de total discordância, pois a Odisséia de Stanley parece nos instigar a dúvida quanto nossa origem e nosso destino. Nada há de certeza. Nada há de absoluto. Dave parece ter sido também escolhido para representar a saga humana em sua relação com o universo. Ao voltar para a nave, Dave Boeman toma conhecimento do verdadeiro objetivo da missão, que seria entrar em contato com uma inteligência alienígena nos arredores de Júpiter.



A grande semelhança entre a Odisséia de Homero e a de Stanley Kubrick é que ambas simbolizam a luta do ser humano contra seu próprio medo, limitações e dúvidas. Simbolizam sua disposição de chegar ao seu destino sem levar em conta as imensas dificuldades que encontrarão pelo caminho. As armadilhas do “destino”, os buracos negros nos quais não se sabe o que se esconde, que surpresas aguardam o ser humano em cada esquina, em cada praia de sua existência, as dúvidas se chegará ou não ao seu lar, ainda que seja esse o seu maior intento, convergem nas duas odisséias.



A grande diferença é que, ao contrário de Homero, Stanley não aceita que Deus dite as regras para os homens. Para ele, não somos descendentes de Adão, mas dos primatas, representados pelo hominídeos africanos de três milhões de anos, da cena inicial do filme. E não iremos para o céu ou para o inferno por decisão divina, feito Ulisses, cujo destino estava selado desde Tróia, ainda que passasse por inúmeras provações no seu caminho de volta ao lar. Os braços de Penélope eram o seu destino certo e seguro. E nós, para onde estamos indo? Devemos recorrer, para ter a resposta, não a Deus, pela ótica de Kubrick, senão que recorramos aos habitantes de outros mundos, os alienígenas cujo estágio superior de inteligência pode muito bem nos dar explicações satisfatórias sobre nossa origem e destino.



Em Homero somos reflexo dos deuses em suas próprias existências conflituosas. Os deuses homéricos foram criados à imagem e semelhança dos heróis em suas lutas interiores, sempre num movimento pendular entre a honra e a ignomínia, entre a dignidade e a torpeza, entre a sabedoria e a estupidez. Em Kubrick somos tudo isso, contudo, sem que imputemos a Deus a razão de nossas inquietudes. Se não atribuímos a Deus nossa origem e nosso fim, nada mais honesto do que atribuir a nós mesmos a origem dos conflitos de consciência e das dúvidas sobre quem somos e o que fazemos sobre a terra. Somos, portanto, produto de nossa própria busca pela verdade, ainda que nem ainda saibamos exatamente que verdade queremos encontrar e nem a que destino queremos chegar.

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