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Erotico-->8. LAVÍNIA -- 02/02/2002 - 07:20 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Quando Rosalinda se viu forçada a reconhecer seu fracasso escolar, mediante a reprovação sofrida nos exames vestibulares, em que não alcançou média sequer para sua terceira opção para Enfermagem, muito menos para Medicina, resolveu que o melhor seria abandonar de vez a pretensão acadêmica.

Rogou ao pai, que julgara por demais ambiciosa aquela escolha, uma vaga na casa de comércio que dava sustento à família. Rodolfo, na verdade, achou que ela iria dar-se bem no ramo das lingeries em que ele mesmo era exímio.

No primeiro dia de contato com os produtos à venda, descobriu a moça que estava bastante familiarizada com as peças, reconhecendo cada tecido e cada confecção, sendo precisa na avaliação dos preços e da margem de lucro conveniente para manter a freguesia.

Assim, como presente de aniversário, ao completar dezenove anos, Rodolfo propôs que ela tomasse conta de uma pequena loja que abriria em nome dos dois, o que ela aceitou de muito bom grado.

Que mais ela poderia desejar?

— Eu quero levar sua melhor vendedora: a Lavínia.

Relutou o pai em aceitar a condição, mas, no final, acabou por concordar, entregando a funcionária por empréstimo, permanecendo ela com o vínculo empregatício na matriz.

Lavínia aceitou de pronto a transferência, por várias razões, a mais importante relativa ao fato de que iria constituir-se em uma espécie de gerente geral, com aumento de responsabilidade e decorrente aumento de salário.

— Você vai ver, meu bem, disse Lavínia, tomando a iniciativa, que nós vamos ter sucesso.

De fato, após três meses e várias campanhas de marketing subsidiadas pelo pai, a casa começou a dar mostras de que fixava clientela privilegiada, caraterizando-se como butique de luxo aberta à classe média.

Num dia fraco de vendas, Rosalinda desejou conhecer mais intimamente a funcionária, sabendo ser também mãe e solteira:

— Quantos anos tem o Flavinho?

— Está para completar cinco.

— Você está com vinte e quatro. Não tem vontade de se casar?

— Se eu achasse um moço sério, que me respeitasse e gostasse do meu filho, eu topava.

— Você tem namorado?

— Às vezes, eu me encontro com o pai. A gente vai fazer uns programas, mas ele não está a fim de se amarrar.

— Ele não ama você?

— Se amasse, ia querer ficar comigo. Ele diz que ama sua liberdade. Ele ama mesmo várias que lhe dão o que ele quer.

— E ainda assim, você sai com ele...

— Eu gosto dele. Agora o mal já está feito.

— Ou o bem, porque o Flavinho é uma graça.

— Eu também acho.

— Foi você quem quis ficar grávida ou aconteceu?

— Eu queria segurar o pai. Não consegui. Mas não me arrependo. Se tivesse casado comigo, ia ser bem pior.

— Ainda bem que você tem essa compreensão.

— Se você me permitir, vou discordar.

— Como assim?

— Eu quero discordar do fato de que a compreensão seja o principal. O principal é eu estar empregada e ser capaz de me manter independente da minha família. É diferente do seu caso. Mas você vai vencer na vida e depois vai entender o que estou dizendo.

— Você tem razão. Eu sou a própria filhinha de papai. Mas o que estou querendo saber é uma coisa bem diferente. Eu gostaria que você me contasse se os rapazes a procuravam logo depois de você ter dado à luz. Estou perguntando porque sinto que causo uma espécie de repulsa e olhe que muitos nem sabem que tenho uma filha em casa.

— Você está amamentando. Aí está o seu problema. Os homens sentem o cheiro.

— Será?

— Você não fez o curso pré-natal. Eu fiz. Lá as médicas insistiam com as solteiras que não estranhassem que nenhum homem se oferecesse para cuidar da mãe e do filho. Elas faziam questão de dizer que quem encontrasse um marido ganhava na loteria. Até para as casadas preveniam que era comum os maridos procurarem outras mulheres nesse período. Diziam que os homens sentiam inveja do filho. Também disseram que muitos, por causa disso mesmo, queriam manter relação sexual na cama da maternidade, como a afirmar seus direitos de posse.

— Você guardou tudo isso na memória...

— Guardei muito mais. O mais importante foi quanto a como cuidar da criança. Como eu dei de mamar por quase dois anos, sei bem do que você está falando. Mas a verdade é que também não sentia muita vontade. Foi só depois disso que eu saí com o pai.

— Ele reconheceu a paternidade?

— Eu não quis.

— E a pensão?

— Quando a gente sai, sou eu que pago todas as despesas. Você entendeu o drama?

— E quando você está sozinha, não fica com vontade de passear, dançar, ver um filme...

— Eu saio regularmente três noites por semana: segunda, sexta e sábado. Meus pais ficam com o neto. É bom também para o menino, que vem passando a vida toda com as tias da creche. Você tem sorte de deixar a sua sempre em casa com a avó.

— Não se esqueça que isso tem seu preço, porque a coitadinha está aprendendo a gostar das comidas salgadas, já estranhando bastante o peito.

— Seu pai sempre me deixou ir dar de mamar duas vezes por dia.

— Isso sequer passou pela minha cabeça. Minha mãe ia querer que eu ficasse lá o dia todo. Ela já andou criticando meu pai por me dar esta parceria. Mas, aonde você vai com tanta regularidade?

— Eu freqüento um centro espírita.

— Umbanda?

— Não. Espiritismo onde se estudam os livros de Kardec.

— Mesa branca...

— Se você falar assim lá, vai receber um sermão de duas horas. Para eles, a cor da mesa ou da toalha não tem a menor importância. Aliás, eles não gostam também que se diga que a macumba, a umbanda e o candomblé sejam chamados de espiritismo.

— Minha falecida avó Sílvia freqüentou também um centro.

— Eu conheci sua avó lá. Ela era uma mulher muito culta e inteligente. Quando não se chegava a um acordo sobre algum assunto, era ela quem vinha com as explicações.

— Mas meu avô me disse que era novata...

— Pode até ser, mas quando eu comecei a ir, ela já lá estava.

— Será que meu avô sabe disso? Eu acho que ele pensa que ela só lia os livros às escondidas.

— Talvez ele pensasse assim antes. Agora, ele tem ido sempre e deve ter confirmado com os mais antigos que sua avó era assídua.

— Vou ter de esclarecer isso com ele.

— Faz tempo que vocês não conversam?

— Sobre essas coisas, faz. Acho que mais de um ano. Agora que ele se casou de novo, tem ido pouco lá em casa. Só nas festinhas.

— A mulher dele é lá do centro. Você não sabia?

— Eu não gostei dela. Quando ela acompanha o velho, não desgruda dele nem pra fazer xixi.

— Você está de prevenção. Dona Engrácia é pessoa muito querida no centro. Eu acho que teve medo de ser mal recebida em sua casa porque seus pais são católicos e não devem ter gostado de ver o velho virar a casaca.

— Vai ver que é isso.

— Você não quer ir comigo um dia assistir uma conferência?

— Só se for para conversar com minha avó.

— Pra isso, precisa de uma sessão de incorporação mediúnica. Mas essas reuniões não são públicas e não é qualquer pessoa que é admitida. Precisa, antes, conhecer um pouco da doutrina.

Naquele momento, uma cliente interrompeu a confabulação e as confidências se encerraram, levando Rosalinda para casa uma série de questões íntimas.


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