«Não vejo senão canalha
De banquete p’ra banquete
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem “azête”»
Jaime Velez, o “Manta Branca”
CRISE…
(décimas)
1
Já não tenho um emprego,
Chego a não ter que comer,
Não sei que hei-de fazer…
Cabeça não tem sossego,
Por nada eu sinto apego.
Teceram uma tal malha,
Não encontro quem me valha.
Ando de terra em terra,
Parece que estou na guerra,
Não vejo senão canalha,
2
Canalha que enriquece,
Com ajuda de quem manda
E que nunca mais desanda.
Toda a gente nos esquece,
O corpo já não aquece…
Dia a dia o torniquete
Aperta-me o gasganete.
Aos pobres ninguém os poupa
Mas ricos enchem a boca,
De banquete em banquete.
3
Pobreza vai alastrando:
Adultos pedem esmola,
Filhos não vão à escola,
O principal vai faltando,
O Povo vai definhando,
Não há Deus que nos valha!
A vida só atrapalha,
Faltam homens racionais…
Deviam proteger mais
Quem produz e quem trabalha!
4
Voltará vida normal?
- Já duvido de mim mesmo,
Digo palavras a esmo,
Nunca me senti tão mal,
Desconheço Portugal.
Tenho na porta um lembrete
P’ra compor o meu banquete:
- Vizinho dá o pão duro,
A gente senta no muro,
Come açordas sem “azête”…
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