J pensa enquanto prepara-se pra seu ritual noturno,
que nada fez para ser abandonado. Sente um mixto de mágoa com vergonha.
Está ali, sozinho. Nào traiu, não mentiu, não maltratou.
E todo seu amor valeu muito pouco.
Sente-se enganado pela vida. Cansado de tentar dar seu amor e ser renegado.
Senta-se na posição sagrada desde sempre, com a alma dourada como ouro.
Recita a prece em silêncio.
A luz desce.
A mesma luz de verdade que o mundo não conhece nem pode conhecer.
O que faz essa luz no mundo?
E J se entrega ao mesmo caminho dos antigos, prometendo a si mesmo não acreditar
mais em palavras vãs e recordar-se que o amor é dom dos valentes e nobres.
Alguns amam, ou pensam que amam, com o instinto.
O verdadeiro amor tem vergonha do que é baixo e sórdido.
Mas isso a pífia humanidade ignora.
E J prossegue no seu deserto para Deus, inundado de luz.
Somente seu coração permanece triste, como o do Mestre a dois mil anos, abandonado na pior hora.