Usina de Letras
Usina de Letras
27 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62332 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50711)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140846)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6221)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->7. HONÓRIO -- 01/02/2002 - 06:36 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Pouco tempo depois de falecer a esposa, Sílvia, Honório foi visitar o filho, desejoso de ter uma conversa com a neta. Assim que a pilhou sozinha, trocando a criança, logo introduziu o assunto que o vinha preocupando:

— Lindinha — só ele a chamava assim —, o que é que tanto você conversava ultimamente com sua avó?

— Ela me ajudava a entender todo o processo de crescimento do feto e quais deveriam ser os cuidados para prevenir futuras doenças. Foi ela quem me esclareceu de uma vez por todas que eu devo amamentar até os dois anos de idade.

— Ela não lhe falou nada a respeito da doença que sofria?

— A vó não era de se lastimar.

— Isso eu sei. Só no fim é que a família ficou sabendo da gravidade do câncer. Mas fazia dois anos que ela estava tomando remédios fortíssimos contra a dor, até que, nos últimos seis meses, precisou tomar morfina.

— Eu só fiquei sabendo disso depois que ela morreu. Foi minha mãe quem me disse.

— Eu é que contei a ela. E sobre ter freqüentado um centro espírita, ela lhe disse alguma coisa?

— Ela me dava só bons conselhos. Às vezes, falava que o mundo servia para as pessoas melhorarem o procedimento e me dizia para nunca causar um mal a ninguém. Eu acho que ela tinha medo que eu abortasse ou repudiasse a minha filha.

— Ela nunca me revelou se estava preocupada com você. Eu acho que ela confiava em seu discernimento.

Rosalinda deixou a filha trocada no colo do avô e, sem cerimônias, passou a cuidar dos bicos dos seios descobertos. Honório disfarçou, carregou a bisneta até a janela mostrando as árvores do jardim. Lembrava-se dos seios da falecida, que feneceram com o tempo, enquanto os da neta estavam na plenitude da tumescência materna.

— Vô, me passe a menina. Por que você está me perguntando a respeito de religião?

— Depois que ela morreu é que percebi que vinha lendo uns livros escondida.

— Por que faria isso?

— É que sempre foi muito positiva, achando que nada existia fora da matéria. Se eu soubesse que estava interessada nos espíritos, talvez ficasse envergonhada.

— Bobagem, vô! A vó não ia...

— Eu é que ia estranhar. Acho que ela não queria mudar minha crença católica. Ela sempre foi com muito má vontade à missa. Ia para não ter de me ouvir depois.

— Então, para você, ela está no céu, de braços dados com os anjos.

Ficaram ambos um longo tempo a observar a criança sugando alegremente o leite. Quando Laura Beatriz parou de mamar, adormeceu.

— Você segura a menina até ela arrotar? Eu vou pôr uma fralda no seu ombro.

Honório pegou a netinha com todo o cuidado, sentindo-lhe o peso, achando que estava bastante desenvolvida para os cinco meses de idade. Aí lhe veio à mente uma dúvida antiga:

— Esse nome, Laura Beatriz, como é mesmo a história dele?

— A vó não contou?

— Ela disse que foi o pai quem fez o registro e que você não gostou do nome.

— Eu pedi que ele registrasse com o nome de Beatriz. O parvo, querendo deixar uma lembrança na minha cabeça, colocou o nome dele: Lauro. Daí o Laura Beatriz.

— Pelo menos ele assumiu a paternidade.

— Depois que a mulher largou dele, o tonto achou que podia fazer o que bem entendesse na vida. Agora tem de dar aula manhã, tarde e noite, pra pagar a pensão e sustentar outra mulher.

— Você não está exigindo nada, pelo que seu pai me disse.

— Ele não tem de onde tirar. Depois, a gente não precisa.

— Não precisa mesmo. Agora que parei de comprar remédios e de pagar médicos e hospitais, tem sobrado algum que estou reservando para quando chegar a minha hora. Se você precisar, está às ordens.

— Não vou precisar, não. Está tudo sob controle. Você sabe que o coitado ainda vem ver a filha e toda vez traz alguma coisa pra ela?

— Está agradecido a você.

— Pelo menos não foi mandado embora da escola.

— E se ele quiser voltar?

— Deus me livre! Ele já fez o que tinha de fazer. Fique em paz onde está, que eu vou levando a minha vida com a cabeça tranqüila. Mas você não me disse se está pensando na minha avó lá com os anjos.

— Lindinha, quem está lendo aqueles livros agora sou eu. Lá diz que a gente, depois que morre, vira espírito, ou melhor, o espírito da gente se liberta da matéria e fica na erraticidade, até voltar a se encarnar. Ela não lhe falou nada nesse sentido?

— O que ela me disse é que a minha filha era um espírito antigo que estava voltando para viver na Terra de novo.

— E você acreditou?

— Não acredito nem desacredito. A verdade é que ela me dá muito trabalho. Se não fosse a minha mãe, eu não ia saber como fazer para continuar estudando. Minha mãe é mais mãe do que eu. Mãe duas vezes. Eu sirvo para produzir leite e trocar as fraldas. Na hora de brincar com ela, os outros é que aproveitam.

— Pode deixar que a menina vai ter de passar por uma doencinhas tristes. Eu me lembro quando Rodolfo era bebê e pegou catapora...

— Aí, minha mãe vai pôr toda a responsabilidade em cima de mim. Já estou vendo: “O filho foi você quem quis. Agora cuide dele.”

— Não seja maldosa. Em todo o caso, a sua língua está bem mais comportada. Mas você não acha que, se ela disser isso, estará carregada de razão?

— Até você, vô? Me deixe desabafar um pouco.

— E pensar que meninas bem mais novas estão brincando de boneca com suas crianças. Ao menos você já completou dezoito anos...

— Não me venha com essa. Está querendo dizer que tenho de proceder como uma adulta? Vai passar ainda muita água debaixo da ponte...

— Ninguém está proibido de sonhar. Você, com um novo príncipe encantado...

— Vire essa boca pra lá!...

— ... eu, com o dia em que vou receber uma comunicação de sua avó através de um médium.

— As coisas estão nesse pé? O que o seu confessor diz disso?

— Eu não acho que seja pecado. Quem me diz se Deus não criou o mundo para a gente poder aprender as coisas como elas são e não conforme o que ensinam os padres?

— Vô, me passe a menina, que eu vou colocar no berço.

Ambos saíram do quarto pé ante pé, sem fazer barulho, e logo se congraçaram com os demais membros da família.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui