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Contos-->Duas épocas -- 25/03/2000 - 12:27 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DUAS ÉPOCAS

1952:
Solitário, com nove anos nas costas e oito peixes na fieira, Henrique voltava para casa. Nove anos vividos em Paraíso, oito peixes apanhados no Córrego da Harmonia.
O sol quente das treze horas enchia-o de preguiça. O carro de boi que passava foi mandado por Deus. A palha que carregava era um berço acolhedor.
O menino colocou a fieira ao seu lado, em lugar protegido contra o sol. Os peixes, já mortos, fitavam-no com seus olhos arregalados. Sentiu remorsos. Se não fosse a sua vara de pescar eles ainda estariam nadando nas águas frescas do riacho.
Deixou de lado os lambaris, os bagres e mandis e pôs-se a observar o Seu Zeca, que conduzia, sem pressa, o carro de boi.
Com quarenta anos de idade, muitas coisas eram contadas a seu respeito. Já tinha visto saci-pererê, lobisomem e mula sem cabeça e, até mesmo, alma penada.
A fome apertava, o ronco do estômago misturava-se aos gemidos das rodas da viatura. E Henrique pensava: "Aos quarenta anos, já velho, também terei visto tanta coisa?".
1983:
Com quarenta anos de idade, algum dinheiro no bolso e muitos papéis numa pasta, mais uma vez Henrique retornava ao lar, após longa viagem a serviço.
O ronco do avião não sufocava as saudades que tomavam seu coração, ansioso que estava para rever a mulher e os filhos.
O uísque, tomado em pequenos goles, parecia embaralhar ainda mais os seus pensamentos.
Pensava no menino que foi e nos fantasmas que não viu. Talvez tenha saído muito cedo da cidade pequena, faltando-lhe, por isso, a sorte do Seu Zeca.
No Rio, não conheceu quem tivesse visto uma almazinha sequer. Talvez o desenvolvimento tecnológico tenha substituído essas criaturas por outras mais sofisticadas, como os homenzinhos dos discos-voadores.
A passagem da aeromoça sorridente veio lembrá-lo de que neste mundo há muita coisa boa para se ver. Os do outro mundo que esperassem.
Alguém ao seu lado disse ter medo da aterrizagem e que era muito novo para morrer. E Henrique pensou que para uma expectativa de vida de sessenta anos atribuída aos brasileiros, dois terços da sua ele já utilizara. Ou desperdiçara?
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