Usina de Letras
Usina de Letras
297 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62174 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50577)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Tentação -- 24/03/2000 - 23:41 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TENTAÇÃO

Henrique amava Helena, sua mulher. Era tão dedicada, tão amável, tão amorosa. O entendimento entre eles era quase perfeito (há algo perfeito neste mundo?).
Em seus vinte anos de casado, a esposa tinha sido a sua única mulher. Helena o satisfazia completamente, na cama ou fora dela. Eram raras as noites em que seu corpo não se unia ao dela, num congresso cheio de amor e paixão.
E a companheira era tão meiga, tudo fazendo para torná-lo feliz. Excelente mãe. Cuidava dos dois filhos com muita ternura e atenção.
Henrique não compreendia, portanto, os próprios sentimentos. Ele não podia estar apaixonado por Jerusa, a esposa de Alfredo, companheiro de longa data, que tanto lhe ajudou em momentos de grandes dificuldades.
Foi o amigo, quando precisou de capital para levar adiante sua empresa de assessoria e projetos, quem aplicou parte de suas economias no empreendimento, apesar da incerteza de seu sucesso.
Mas tudo em Jerusa o perturbava: a sua juventude, o rosto redondo, o sorriso bonito, a voz sussurrada, a pele branca e macia, o andar delicado e, principalmente, a maneira com que ela lhe fitava com seus olhos brilhantes.
Henrique procurava afastar seus pensamentos de Jerusa. Quem sabe se o tempo não colocaria as coisas em seus devidos lugares?
Entretanto, nada mudava. Toda vez em que se aproximava da amada, ficava preso aos seus olhos. E também aos seus lábios, que pareciam pedir-lhe que os beijasse.
Nas ocasiões em que se encontravam sós, tinha vontade de contar a Jerusa o que ocorria. Uma zombaria da amiga, um gracejo qualquer ou mesmo uma referência à diferença de suas idades - quinze anos - poderiam, porém, levá-lo de novo ao seu mundo, revelando quão ridículo vinha sendo o seu comportamento e tão extravagantes os seus desejos.
Covardemente, Henrique não tomava uma posição. Nem apagava o fogo de seus pensamentos, nem impedia que ele se espalhasse. Pouco a pouco, as chamas tornavam-se mais fortes. O incêndio que tomava o seu coração parecia cada vez mais intenso, tornando ardentes os seus membros, o seu sangue e a sua alma.
A presença de Jerusa, mesmo quando estavam juntos de Helena e Alfredo, era quase insuportável. O coração de Henrique passava, então, a bater com mais rapidez e as suas palavras ficavam embaralhadas, perdendo-se em conversas sem qualquer nexo, sem início e fim. Os beijos nas despedidas eram meios de tortura, provocando-lhe um calor incontrolado e deixando-lhe as pernas bambas e trêmulas.
E o pior é que Jerusa parecia notar o que estava acontecendo. Anteriormente, apesar dos sete anos em que já se conheciam, ela jamais o havia convidado para dançar, ou cochichado com os lábios colados em seu ouvido, ou segurado demoradamente as suas mãos, ou beijado suas faces com beijos tão molhados. E isso aumentava ainda mais o seu mal estar.
Às noites, Henrique procurava, nos braços de Helena, esquecer aquela que tanto mexia com os seus nervos, mas era em Jerusa que pensava quando o prazer se transbordava da taça em que bebia.
Em suas orações diárias, hábito adquirido desde seus tempos de criança, pedia a Deus que desse um fim à confusão que tomava seus sentidos, receoso de que isso viesse prejudicar sua tranqüila vida doméstica.
O que Henrique mais sentia era ser atraído justamente pela mulher de Alfredo. Colegas de turma nos quatro anos de ginásio, amigos inseparáveis em sua adolescência, juntos saíram de Minas Gerais, juntos descobriram os segredos das noites cariocas, juntos ingressaram na Faculdade de Direito. Eram trinta anos de amizade que não podiam ser profanados.
Ao contrário de Henrique, que subiu ao altar aos vinte anos de idade, Alfredo somente se decidiu pelo matrimônio aos trinta e três anos. Foi amor à primeira vista, nascido em um ônibus entre a Tijuca e Copacabana. Com dois meses de conhecimento, Jerusa já estava aceitando o pedido de casamento.
Na época, Henrique tentou convencer o amigo a esperar mais um pouco, pois a noiva tinha menos quinze anos que o companheiro. Alfredo, contudo, não quis prestar atenção em qualquer palavra contrária à sua decisão.
E foi em função dessa amizade e de sua incômoda situação que Henrique resolveu não mais se encontrar com o casal. Os convites para jantar ou para os aniversários de crianças eram respondidos com desculpas já elaboradas com antecedência.
Helena não entendia a súbita separação dos amigos. Julgava, no entanto, que o comportamento do marido tinha alguma justificativa.
Henrique trabalhava, quando Jerusa lhe telefonou. Precisava falar-lhe com urgência. Era assunto da maior importância. Ele desculpou-se, dizendo estar muito ocupado, sem tempo para atendê-la. Ela não aceitou o motivo; ficava na expectativa de seu telefonema. Henrique preferiu não anotar o número do telefone que lhe era transmitido pela voz suplicante de Jerusa.
Terminada a ligação, ele sentiu que suas mãos estavam trêmulas. Seria melhor assim, pensou. Passou a dedicar-se ao trabalho, mas suas îdéias não se concatenavam.
Resolveu ir para casa. Pensativo, desceu pelo elevador. Não se sentia bem. O nervosismo prejudicava sua digestão. Até a respiração lhe parecia difícil.
Ao penetrar em seu carro no estacionamento, ouviu um chamado. Era Jerusa, que estava à direita do veículo. Indeciso, ele abriu a porta, deixando-a entrar. Ela prendeu sua mão direita e a beijou.
Henrique encarou-a, sem piscar. O brilho dos belos olhos de Jerusa derrubou sua resistência. Houve um momento de total cumplicidade. Foram esquecidos os escrúpulos e as amizades. O amor venceu. E o carro colocou-se em movimento. Movido pela paixão dos enamorados.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui