- crónica feita a partir do poema "PARALELAS DO DESTINO" do mesmo autor e neste site publicado.
Correm soltas
as linhas do destino
sem nunca se encontrarem.
Por elas passam
o fado e a desventura
a sorte e o infortúnio
o acaso e o azar
a ocasião à espreita do ladrão
a desdita do condenado.
Até a ventura desta vida
cantada pelo apaixonado
trafega por lá...
Sem esquecer que também
anda solta
a mentira da vidente
que a mão insiste em ler
para revelar o mistério
de quem tudo tem para esconder ...
Nada disso se oculta em linhas tortas.
Transita em paralelas
sem jamais uma na outra se tocar.
Para confirmar o que digo
e convidar à reflexão
trago fato ocorrido
que os jornais
acabam de estampar.
Merece ser narrado
no estilo repentista
do cancioneiro popular:
Dois jovens um dia
se conheceram
e à primeira vista
se amaram
e em pouco tempo
se casaram.
Pareciam dois pombinhos
tantos beijos se trocavam...
Até que um dia
na rota do destino
o ciúme entrou de contramão
e provocou a colisão.
Veio a briga, a discussão ...
Dirão: este o lugar comum
de toda história de amor...
Certo, mas esta "love story"
não terminou em mera separação
é preciso dar relevo
à dialética do comportamento.
Para diferenciar as semelhanças
e agudizar as contradições
nada melhor do que
colocar em paralelo
as atitudes dos agentes
tal qual faziam os escolásticos
em seu método de filosofar.
É a correta maneira
de nossa teoria provar.
Verão como as linhas do destino
andam mesmo em paralelo
sem nunca se encontrar.
"Viver é perigoso"
já dizia Riobaldo
muito mais perigo
o destino reserva
para quem pretende amar.
Mal terminou a briga
ressentidos
cada um pensou em tomar seu rumo.
E vejam como a história de cada um
paralelamente teve o seu lugar:
1
Ela
foi
para
a piscina
nadar.
Desta vez
subiu
no trampolim
para saltar
a fim de
profundamente
mergulhar
2
Ele
pro
ecritório
foi pra
trabalhar.
Mas
em lugar
de no
escritório
entrar
subiu até
o último andar
3
Ela
queria
a cabeça
refrescar
prazer ao corpo
proporcionar
e no fundo
da água
tudo
sepultar
pr´a sua
vida
logo
refazer.
4
Ele
de repente
mergulhou
de ponta - cabeça
(justo esta
que tanto
o atormentava
queria
no asfalto
espatifar)
e num segundo
a vida
com a morte
resolver
Reparem todos
como a semelhança
se torna diferença fatal
quando o detalhe
em conta é levado:
Ambos paralelamente
procuraram no mergulho
a solução encontrar
ela na água, ele no ar...
Fatos como este
frequentemente se repetem.
Mas se os fados não permitem
o cruzamento de suas linhas
por que na vida homem e mulher
lado a lado insistem
as paralelas do destino
em ziguezague percorrer?