O encontro com a outra avó se deu pouco depois de Rosalinda completar dezesseis anos.
— Vó, você sabe por que as mulheres nascem com hímen?
— Eu acho que o hímen é uma proteção natural contra os microorganismos, nos primeiros anos de vida.
— Sem o hímen, o que poderia acontecer às meninas?
— Atualmente, tal apêndice orgânico não tem muito sentido nas sociedades higiênicas e limpas. Onde impera a sujeira, o hímen constitui um empecilho para a penetração de objetos que poderiam conter bactérias prejudiciais à saúde.
— Se eu entendi, quer dizer que o hímen bloqueia a entrada de um dedo contaminado, por exemplo?
— Isso mesmo.
— Mas, por outro lado, uma vez instalados os microorganismos, o hímen não pode ser um fator prejudicial ao tratamento?
— Ao tratamento, não, porque existem antibióticos para serem ministrados por via oral ou para serem injetados. Quanto aos remédios de uso tópico, existem procedimentos médicos que não encontram dificuldades de acesso ao interior da vagina.
— Você não acha que o hímen é mais do que um elemento físico? Todo mundo sempre quer saber se a gente ainda é virgem ou não. Quando eu digo que sou virgem, me tratam como criança.
— A sociedade é muito preconceituosa quanto a isso. Existem lugares em que é possível anular o casamento quando o marido, na noite de núpcias, descobre que a moça não possui mais hímen. Existem até casos em que o homem se aborrece e acusa a mulher de traição, sem que esta tenha culpa de possuir um hímen elástico o suficiente para não se romper, dando a impressão de que nem existe.
— Para mim isso é novidade.
— Você pretende ser médica?
— Eu ainda não resolvi qual a carreira para a qual tenho mais vocação. A medicina exige muito estudo. Eu não sei se vou conseguir ser alguém tão importante na vida.
— Estou perguntando porque as explicações científicas são muito mais complexas do que simples notícias de uma conversa informal. Por que você está tão interessada nesse tema?
— É que, apesar de eu ter ainda o meu hímen, eu não me considero virgem. Primeiro porque eu acho que ser virgem é um estado de espírito. A moça não deixa ninguém se aproximar fisicamente e impõe uma distância ao namorado, no máximo permitindo que ele passe as mãos nos seios, por exemplo. Segundo porque eu não vejo razão para não manter relações sexuais normais, uma vez que a gente sente vontade, ou melhor, uma vez que a libido age sobre a nossa natureza, obrigando-nos a pensamentos eróticos.
— Você está querendo passar da masturbação ao coito?
— Se eu encontrar a pessoa certa.
— Quem é a pessoa certa para você?
— Alguém que me respeite e que não vá contar pra todo mundo o que a gente fez entre quatro paredes.
— Ou no banco de trás do carro...
— Você não vai querer que sua neta querida se entregue de maneira tão desajeitada.
— Eu não quero nada. Se você souber evitar uma gravidez indesejada e prevenir-se contra a aquisição das doenças venéreas, vai ter apenas de suportar uma reação psicológica desfavorável, já que poderá arrepender-se, se não era exatamente aquilo que estava esperando.
— Quer dizer que você não me reprovaria se eu lhe dissesse que não sou mais virgem?
— Iria mais longe nas observações, dado que as suas reações emotivas seriam bem mais profundas.
Rosalinda hesitou. Percebendo, porém, que a avó poderia suspeitar de que a verdade fosse outra, apressou-se em desfazer qualquer impressão errada:
— Eu sou sincera. Eu posso contar todos os lances das bolinações com os meus namorados. Só não chegamos ao clímax através da penetração. O resto fizemos sem sentimento de culpa ou de vergonha. É isso que não está me deixando satisfeita comigo mesma. Parece que, se eu chegar em casa sem o hímen, estarei ofendendo minha mãe e toda a minha família. No entanto, o Rodrigo é até incentivado a ter experiências sexuais. Isso não é justo.
— O seu namorado atual, o que diz?
— Ele chegou pensando que a entrada estava livre e desimpedida. Quando esbarrou com a minha negativa, ficou meio indeciso, não querendo ser o primeiro, porque ele é de maior e eu não. Ficou com medo da responsabilidade.
— E como é que ele se satisfaz?
— No começo, eu achava melhor que procurasse profissionais competentes. Agora eu mesma resolvo.
— Ele faz promessas de casamento ou apenas vai levando adiante o caso, enquanto está bom para ele?
— Por que você está mais interessada nele do que em mim?
— Desculpe, querida. Você tem razão. É mania da gente querer agarrar quem está à mão. Se ele não serve para deixar você contente, é melhor que caia fora.
— Vó, também não é assim.
— Diga, então, o que você quer ouvir.
— Eu gostaria que você me orientasse quanto a vencer os receios ou os pruridos de hipersensibilidade relativos aos fatos da consciência.
— Quem tem capacidade para se exprimir com tanta argúcia, através de termos tão complexos e eruditos, não deve ter dificuldade de compreender o quanto de paixão está sentindo. Você não acha?
— Pra dizer a verdade...
— Posso adivinhar?
— Adivinhe. Não está tão difícil.
— Você resolveu se entregar e veio arrumar uma confidente com quem contar depois do fato. Não me fazendo de cúmplice, tudo bem.
Rosalinda entendeu o recado. Sabia que podia confiar em Sílvia, saindo decidida a terminar de vez com seu dramazinho juvenil. Considerou que a infância ficaria definitivamente encerrada, caso precisasse ocupar sua mente com problemas mais adultos, afastando de uma vez por todas os escrúpulos.
