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Contos-->No coração dos boatos -- 03/05/2001 - 18:53 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O leitor vai ler, aqui, fragmentos da narrativa em progresso: "It s all over now, baby blue ou nem choro nem vela para uilcon pereira".

A primeira versão apareceu, em outubro de 1996, no tablóide alternativo "O Macunaíma", editado por Jair e Suely Pereira em Araraquara (hoje disponível online).

Essa mesma primeira versão surgiu, no ano de 2000, em "Uilcon Pereira: no coração dos boatos", livro-homenagem escrito e organizado pelo "bibliotecário de Babel, o poeta Aricy Curvello, do Espírito Santo, com a colaboração textual de amigos, dele e do uilcon.

Uma versão ampliada, com cerca de 30 páginas, foi publicada, e provavelmente não lida, no número mais recente da Revista de Letras da UNESP, esse mistério indevassável.

Um pouco mais adiante, pretendo publicar o meu comentário sobre o livro de Aricy Curvello. O Jornal da Tarde de 28/04/2001 traz uma resenha na 3a. página do Caderno de Sábado.]

_________________________________________


Um leitor, segundo Novalis, é a coisa mais rara que existe na espécie humana. Uilcon Pereira foi um deles. Suas narrativas compõem um painel de suas tantas inumeráveis leituras: "A educação pelo fragmento".

Não, nunca a angústia da influência. Mas, sim, a aventura, a alegria da influência: a incorporação do alheio, o plágio como procedimento privilegiado.

Quem fará o serviço sujo de passar tudo isso a limpo? Tudo ficará à mercê dos acasos, dos destinos e dos desatinos humanos. Dependerá de muita paixão, dedicação, suor, delicadeza.

Haveria de rir tanto, se alguém viesse a falar dele como “o meu autor”. E é assim que se diz: a minha época, o meu autor.

Sempre se recusou a palmilhar os caminhos da oficialidade literária. Nunca quis gastar tempo, força e dinheiro com tanto aparato. Divulgação? Para quê? Dois ou três leitores: é o quanto basta. Não queria mesmo que certas pessoas lessem o que escrevia.

Andei traduzindo tantas outras coisas para que você lesse. Depois da descoberta dos contos e ensaios de Peter Bichsel, você me encarregara de sair em busca de autores que ainda desconhecíamos, as mais recentes e as mais antigas novidades. Robert Walser, por exemplo: um texto sobre Kleist (um dos teus contistas preferidos) e um outro falando do escritor, ou seja, sobre você mesmo. Desde a minha primeira leitura, sabia ser esse era um texto definitivo sobre o escritor Uilcon Pereira. Quase sempre, e mais ainda à leitura dos ensaios do Bichsel, eu me lembro, você dizia: “mas, isso sou eu!” Tenho aqui comigo todo um elenco de textos traduzidos exclusivamente para que você pudesse lê-los, ainda - e tomara que não para sempre - inéditos. Eram o assunto das nossas andanças e dos nossos jantares.

Me lembro da tua urgência em voltar para casa, melhor dizendo, para a escrita, esse antimundo que você criava e, como não havia nada mesmo que te garantisse como escritor, porque faltavam os entornos, você acabou criando mesmo tudo, um movimento, o bochicho, o salão, as entrevistas, os comentários, os boatos, tudo forjado para que criar continuasse sendo possível. Ruidurbano. A urgência urgentíssima de poder voltar para as páginas dos livros.

O primeiro livro: POPprosa, que eu só vim a conhecer agora, depois de morto o autor que o renegava. Mas, por quê?

E aquele romanção? Contam: você foi atirando página a página, ao vento, numa estrada qualquer perdida nos confins dos arredores da cidade de Marília! E, sabe-se lá, quanta coisa assim não se perdeu, quantas coisas agora ficam aí a desafiar o carinho, o desprendimento, o rigor de quem porventura vier trazê-las a público?

NO CORAÇÃO DOS BOATOS: uma trilogia. Para mim, tudo muito ainda Assis - a Assis mítica, é claro! -, onde você criou na cantina um espaço, um painel para que se dessem a público todos os boatos.

Mas, naquela época, eu ainda não me havia “inserido no contexto”, não tinha aprendido o humor, o “espírito da coisa”, como se dizia. Detestei, por exemplo, quando da minha formatura, que enfrentamos (ah! doce pássaro da juventude!), programaticamente, de camiseta sem mangas e chinelos de dedo: você, na saída, dizendo que nos invejava, porque nos licenciávamos. Você, um mero bacharel! [E muitos cursos de letras patinam, ainda, entre a licenciatura e o bacharelado: eia, homens de truz! Decidi-vos com presteza! Eis que já termina o século XX, este nosso incrível século do progresso!]

E te asseguro que tudo agora vai ser mais difícil. Em anos, tudo o que eu tentei baixar ao papel tinha uma direção certa, uma garantia. O Uilcon vai ler, vai gostar, não vai gostar... Deixar de ler, isso nunca. Leitor que é leitor não desperdiça nem bula de remédio. Vai comentar, corrigir, parar de ler, copiar, usar, guardar silêncio...

Tampouco foi tão fácil conviver com o teu rigor, fui aprendendo aos poucos. E nunca aprendi direito. Você quis ser professor até o fim, mesmo sabendo que ser professor deixou de querer dizer muito ou quase que chega mesmo a não querer dizer mais nada. Tive a garantia do teu respeito, a felicidade de sentir as coisas ficarem cheias de sentido com o teu entusiasmo, para não falar, porque desnecessário, da tua amizade.

Último ato: eu te queria fazer ouvir Eric Burdon and the Animals interpretando uma canção de Bob Dylan. Foi a última coisa que fizemos juntos, um último fim de noite (foram quantas? as inumeráveis noites vazias e solitárias de Àssombradado!): “and it´s all over now, baby blue...” [Na tradução do Augusto de Campos, de que você tanto gostava: “e não tem mais nada, negro amor...]

É isso aí, mestre! No calor da hora, as emoções confusas de um dos teus alunos, burrego e marmota. Mais tarde a gente se vê no Café Brasil.. Ou, então, de qualquer forma, a gente se liga...



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