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Erotico-->4. ISAURA -- 29/01/2002 - 08:34 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rosalinda aproveitou o tumulto natural da festa de bodas de prata dos pais para acercar-se da avó. Pegou-a num canto do salão, esclarecendo desde logo:

— Vó, eu acho que você pode me tirar algumas dúvidas.

— Claro, Rosinha, tudo o que você precisar.

— O que eu queria saber é se você se apaixonou pelo vô Roberto ou se teve outros namorados antes dele.

A senhora, recentemente entrada na casa dos sessenta, não se sentiu à vontade diante da pergunta direta e incisiva da neta. Ganhou tempo:

— Qual é o seu interesse em saber isso?

— É que eu admiro muito como vocês dois se tratam, respeitando-se tanto mutuamente que me parece que foram feitos um para o outro e que nunca houve outra pessoa entre vocês.

— Você já fez quinze anos. Está na idade de seu baile de debutante...

— Isso é para gente rica.

— No meu tempo, todo mundo que tivesse uma situação econômica razoável oferecia uma festa às mocinhas quando completavam quinze anos.

— Essa idéia foi sugerida lá na minha classe, mas a maioria não quis nem saber.

— Mas era uma ocasião tão linda para os jovens começarem a se aproximar das moças.

— Foi assim que a senhora conheceu o vô?

— O meu pai foi meu par.

— Não foi o que perguntei.

— Não foi lá que eu conheci o velho. Foi só três anos mais tarde, no casamento da tia Isabel.

— Mas, pelo que entendi, a senhora conheceu alguém na sua festa de quinze anos.

A senhora aproximou a cadeira mais um pouco da jovem e murmurou-lhe ao ouvido:

— Você guarda um segredo?

— Claro, vó. Sou um túmulo.

— Lá eu conheci um rapaz mais velho que eu uns seis ou sete anos. Era homem formado. Distinto. Elegante. Com um sorriso lindo. Um bigode bem aparado. Cabelos longos e sedosos, bem penteados e repartidos do lado.

— Ele a tirou para dançar.

— Não tirou. Se não fossem meu pai e meus irmãos, tomava chá de cadeira.

— Ele veio conversar com você...

— Ele nem notou que eu existia.

— Foi uma azaração unilateral.

— Como assim?

— Deixe pra lá.

— Eu acho que entendi. Você quis dizer que ele não correspondeu ao meu interesse.

— Isso mesmo. Mas você se encontrou com ele depois.

— Na escola. Ele era um dos professores novos e foi padrinho de uma de minhas colegas.

— Com quem acabou casando...

— Casou, mas foi com uma colega dele, a professora de Matemática.

— O seu amor foi o que a gente chama de amor platônico.

— É isso aí.

— O que eu queria saber é se não houve outro namorado firme, alguém com quem você teve um relacionamento e depois desfez.

— Não tive, não. Quando seu avô apareceu é que me derreti toda.

— E esse amor foi pra toda a vida.

— Você sabe disso.

— E ele não teve outras antes de você? Ou depois?

Isaura se perturbou com a segunda pergunta. Fez de conta que não ouviu e respondeu à primeira:

— Ele namorou bastante, antes de mim. Quando nós firmamos compromisso, ele deixou de ir atrás delas.

— Que você saiba.

— Ninguém me disse nada que não confirmasse o amor que ele me protestava. Mas qual é o seu interesse nestas coisas que dizem respeito somente a nós dois?

— É que ninguém me diz nada que se relacione com os mais velhos, a não ser no meu tempo não era assim, no meu tempo a gente se respeitava e coisas semelhantes.

— Sabe o que acontece?! Eu vou explicar. As pessoas não gostam de lembrar as coisas ruins, principalmente se, no presente, foram superadas as dificuldades.

— Eu tenho muitos colegas cujos pais se separaram. Isto quer dizer que a fidelidade nem sempre é o caminho que as pessoas seguem.

— Um dia você irá compreender melhor como é que se dá a união ou a desunião dos casais. Mas você não me explicou ainda por que tanto interesse.

— Nem você me disse se, depois que o vô a conheceu, ele teve algum caso.

— Isso você vai ter de perguntar a ele.

— Por quê?

— Porque eu não tenho nenhuma informação a lhe prestar.

— Vovozinha, não se amofine, por favor. Eu vou dizer a razão de minhas perguntas e depois você responde.

— O que eu tinha para dizer já disse.

— Tudo bem. Você vai pensar melhor depois que eu lhe disser o meu motivo.

— Vamos ver.

— Eu desmanchei com o Cláudio.

— Eu gosto muito dele.

— Deixe-me explicar. Você está disposta a guardar o meu segredo como eu vou guardar o seu?

— O meu túmulo está bem mais recheado que o seu.

— Boa. Gostei. Mas a verdade é que ele queria passar às vias de fato e eu não achei que seria uma boa. Aí ele arrumou uma que...

— Já entendi. Você agiu muito bem, preservando-se para seu futuro marido.

— Eu acho que você não entendeu direito. Eu não estou querendo preservar-me para meu futuro marido.

Isaura estava incomodada com o rumo da conversação. Estava arrumando uma desculpa para despachar a neta, achando que não era a pessoa mais indicada para ouvir tais confidências. Quando ia sugerir que ela conversasse com a mãe, já Rosalinda estava descrevendo seu relacionamento com o rapaz:

— Ele queria fazer de tudo. Como eu me neguei, achou que a minha virgindade é que era o empecilho.

— Como é que ele chegou a tantas intimidades?

— Ora, vó, não é só médico que faz exames ginecológicos.

Isaura passou da lividez que vinha mantendo para um rosado afogueado das faces, quase perdendo o fôlego. Mas manteve a dignidade à vista de considerar que a jovem estava realmente precisando de seus conselhos. Resolveu ouvi-la mais um pouco, não deixando de observar:

— Você, daqui a pouco, vai responder a uma pergunta que vou fazer.

— Está certo. Pois bem, o empecilho não era a virgindade, mas o fato de ele ser um grosseirão. Sempre que a gente se encontrava, lá ia ele me levando para o escurinho, para um canto longe das vistas alheias, ou até onde já estavam outros casais em atividade sexual. Eu sei que este tipo de coisa você não admite. Mas precisa compreender que é assim que os adolescentes estão vivendo hoje em dia.

— Posso fazer a minha pergunta agora?

— Ainda não. Preciso contar que ele fez a minha caveira, dizendo pra todo o mundo que tinha conseguido o que não conseguiu.

— Eu acho estranho que você fala todas as coisas abertamente, mas está se segurando com relação a dar nomes aos bois.

— Eu só não falo felação, masturbação, coito anal, sodomia e outros termos para não escandalizar a minha querida vovozinha. Paciência, agora já falei.

— Onde você aprendeu tudo isso?

— Minha mãe me emprestou um livro, quando eu perguntei certas coisas que ela não quis ou não soube explicar. Lá havia muito mais do que eu queria saber.

— Eu não sabia que ela tinha um livro sobre educação sexual.

— Foi o livro que meu pai deu pro Rodrigo. Faça a sua pergunta agora.

— Antes da minha pergunta, eu quero saber qual a lição que você vai tirar das respostas que eu lhe dei.

— Uma grande lição. Agora já sei que a juventude atual age muito mais de acordo com os apelos da natureza que a de seu tempo. Isto significa que a nossa visão da vida é outra. Talvez mais adulta, talvez menos hipócrita, talvez mais responsável...

— Explique responsável, por favor.

— É que agora as próprias moças e rapazes respondem por si mesmos, não dependendo dos pais. Se a gente erra e tem o apoio deles, fica tudo mais fácil de vencer, sem culpa nem acusação.

— Não estou preparada para discutir com você um assunto sobre o qual nunca pensei. No meu tempo, as pessoas achavam que esse comportamento era, no mínimo, imoral, para não dizer coisas mais pesadas, sem querer ofendê-la. Mas se as coisas estão nesse pé, não será a opinião dos mais velhos que irá mudar o pensamento dos jovens. O que talvez possa ocorrer é uma série de decepções e frustrações que irão repercutir, como já está acontecendo, no procedimento dos filhos, muitos sem saber direito como agir em relação ao afeto que deveriam dedicar aos pais, aos irmãos e até aos colegas. Mas isto não serve para você, que está num lar harmonioso e equilibrado. Graças a Deus! As emoções, minha neta, é que deveriam ser melhor preservadas. Você mesma se sentiu traída quando o seu namorado foi buscar o carinho de outra. Mas essas atitudes devem ser esperadas diante de tanta liberalidade sexual.

— Entendo e agradeço a sua consideração. Qual era mesmo a sua pergunta?

— Eu vou perguntar mas você não precisa responder. Adotando a sua linha selvagem de querer saber tudo, eu lhe peço para pensar nas razões físicas ou religiosas da existência do hímen: para que serve essa película que tanto sofrimento tem causado à humanidade?

Rosalinda parou para refletir. Finalmente, abraçando a avó, observou:

— Eu nunca pensei nisso. Como também sequer suspeitava que você fosse tão longe neste assunto. Vou pesquisar e depois eu venho conferir a sua resposta.

Quando Isaura se viu só, deixou o copinho de champanhe quase cheio sobre a mesa e foi tomar ar no jardim.
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