A VERDADE -
Paulo de Góes Andrade
Um dia, que já vai distante, o filósofo quis descobrir a verdade entre os homens. Mas, nessa vontade desesperada, o velho pensador viu os fios dos seus cabelos, os últimos que lhe restavam, embranquecerem. E arrastando-se, desiludido, ao extremo da existência, nada encontrou o pobre e sábio homem.
É difícil, impenetrável e obscuro o pensamento do ser humano. É inútil pesquisá-lo a fundo, porque a imperfeição das idéias constitui o sistema pensante do ser vivente, desse “racional” que formou a espécime principal que Deus, por benevolência, doou ao Paraíso terrestre. O homem, arquitetado à semelhança do Criador, continua sendo uma incógnita, um desconhecido.
Outras descobertas virão, além das que presenciamos no século passado e neste, que há pouco iniciou. Tivemos, não faz muito, a desintegração do átomo, proporcionando a força da energia nuclear, com a revolução invisível de prótons e nêutrons. Nagasaki e Hiroshima foram os primeiros campos de experimento desse apocalíptico invento. As centrais nucleares estão pelo mundo movimentando indústrias e iluminando cidades. Cientistas se fecham em laboratórios em busca de drogas que curem o câncer, a Aids e outros males. Contudo, a descoberta do sentido real do pensamento humano, essa será sempre insondável por mais perspicaz que seja o pesquisador. Deve ter concluído o paciente filósofo.
E como a verdade não encontra o seu habitat ideal na superfície do sentimento do homem, tudo é imperfeito, não havendo lugar para a razão, porque o ser humano sempre agiu – consciente dos seus atos abomináveis – abnegado à avareza do seu natural comportamento, à ganância instintiva de sua formação, ao seu complexo de ser superior dentre os animais criados por Deus. E assim, sempre quis, de uma forma ou de outra, transpor a fronteira dos direitos do seu semelhante, principalmente no domínio econômico-financeiro. Nessa busca, ele tem que fugir da verdade. E nesse contexto a verdade deixa de existir, e, conseqüentemente, a justiça, penalizado que é, então, o incauto com o desrespeito aos seus direitos.
Não é possível vicejar no pantanal ou no lodaçal da consciência humana o branco lírio da verdade. A sua semente é inadaptável a esse terreno podre e já fétido que prolifera pelo mundo afora. Nessa atmosfera de paixões violentas, como a afeição desmedida pelas guerras, a família desarticula-se, esfacela-se como um fino cristal martelado por mãos impiedosas.
Que verdade paira por sobre tudo isto que chamamos sentimento humano? Nenhuma, a meu ver.
Por conseguinte, o homem foge da verdade quando diz com relação aos conflitos bélicos, por exemplo, que defende a “pátria amada” ou “a família”. Mente, porque sabemos que a guerra fundamenta-se no mercantilismo avassalador das grandes potências do primeiro mundo.
Brasília – 22 / 01 / 2003
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