Ora vejam lá o que é que eu fiz quando era miúdito, por volta dos meus sete e pico a oito anos. Andava na escola havia alguns meses, o bastante para me sentir espertalhão assumido, acicatado pelos mais malandrotes da minha turma.
Há muitas e longas noites, embora meu quarto de dormir distasse do de meus pais uma boa vintena de metros, que ouvia uns estranhos ruídos no leito deles, acompanhados de longos ais suspirados em surdina.
O Rucas e o Macedo - ó como bem me lembro - tinham-me esclarecido o bastante sobre o assunto e empurrado um pouquinho para fora da treva donde vinham os bebés pendurados numa cegonha.
Encorajado, uma dada noite fui de gatinhas, corredor fora, para enfim me inteirar a olho vivo das tropelias que os meus progenitores faziam entre lençois.
Logo que passei a porta do quarto e enfiei a cabeça por baixo do cortinado, vi minha mãe acavalitada sobre meu pai. Ei lá - disse comigo - vou já daqui embora rapidamente. Regressei ao meu quarto e adormeci.
Passados uns dias, não sei como, estavamos todos à mesa a jantar, saiu-me sem querer a espontânea pergunta: paizinho, quando as pessoas fazem zique-zique, é a mulher que vai por cima?...
Meu pai abriu muitos os olhos e ripostou severo: cala-te, rapaz, essas perguntas não se fazem à mesa. Interviu de imediato minha mãe: diacho, homem, aonde é que este figurão aprende estas coisas? - É na escola, mulher, é na escola...
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