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Artigos-->Sopa de letras -- 20/01/2003 - 10:01 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A importância da escrita está além, muito além de ser o marco divisório entre história e pré-história no estudo da sociedade humana. A escrita permite a transmissão de informações, conhecimentos, pensamentos, idéias, sensações, observações, análises etc. sem que tempo ou espaço sejam obstáculos. Podemos hoje ler no Brasil, por exemplo, textos de Epicteto, ex-escravo grego que nasceu no ano 50 (obteve a liberdade com a morte de seu dono, um soldado romano), tornou-se filósofo e morreu em 130. Mais de mil anos antes do desembarque de Cabral no que viria a ser o Brasil, Epicteto escreveu: "Não devemos acreditar nos muitos que dizem que só as pessoas livres devem ser educadas, deveríamos antes acreditar nos filósofos que dizem que apenas as pessoas educadas são livres". Antes ainda desse escravo-filósofo ter nascido, aqui no "novo Continente" o povo olmeca, primeira civilização pré-colombiana a viver em uma estrutura política de estado na região, já sabia escrever, conforme atestam um selo para impressão e fragmentos de um artefato de pedra. Os hieróglifos são de 650 a. C. A escrita olmeca influenciou as civilizações do continente que viriam em seguida, inclusive a dos maias. O desenho gravado no selo pode corresponder ao nome de um rei ou a um dia do calendário de 260 dias usado por vários povos pré-colombianos da região do Golfo do México. O povo olmeca viveu na região de 1300 a 400 a. C.. Não está claro como eles desapareceram.

Durante o século XIX, a revolução industrial e as conquistas democráticas aceleraram a tendência para a educação universal. Em 1870, a Inglaterra fixou o padrão com a Ata de Educação de Foster, garantindo uma educação básica para todos. No século seguinte, conquistas como o sufrágio da mulher, movimentos pela igualdade, as transformações sociais e econômicas de vulto, como as revoluções socialistas e anti-colonialistas, provocaram avanços no alfabetismo na maioria dos países industrializados.

Lauren B. Resnick aponta seis categorias fundamentais de atividade alfabeta: a sacra (uso de textos na prática e instrução religiosas); a útil (uso de texto como mediador de atividades práticas); a informativa (uso de texto para transmitir ou adquirir conhecimento); a criativa (leitura como entretenimento); a persuasiva (uso de texto para influir sobre o comportamento ou as crenças de outros), e a pessoal (uso de cartas para contatar a família e amigos). Paradoxalmente, formam minoria os que, aprendendo a ler, usufruem efetivamente desse aprendizado, comunicando e se informando através da linguagem escrita...



Desafio premente



No Brasil existem aproximadamente 20 milhões de analfabetos e 35 milhões de analfabetos funcionais acima de 15 anos. A maioria está no Nordeste e as maiores taxas se encontram entre os mais velhos e os moradores das áreas rurais. A média é de um adulto analfabeto em cada grupo de seis. O governo pretende alfabetizar 16,3 milhões brasileiros com mais de 15 anos em quatro anos. Nas campanhas de alfabetização, no geral o aluno aprende a assinar o nome e noções iniciais, mas acaba esquecendo, depois de um ano sem usar esse conhecimento. Jorge de Sena, em seus "Versos e alguma prosa", escreveu: "Hoje se considera que há dois tipos de analfabetos. O analfabeto específico, que é o homem que não sabe ler nem escrever, e o analfabeto funcional, que é o homem que sabe ler e escrever, que pode ter até diversos graus de educação e que, do ponto de vista cultural, é tão analfabeto, ou mais!, do que o outro; mais, digo eu, porque perdeu a cultura popular, de experiência, de costume tradicional etc., que o analfabeto de aldeia possui, e não adquiriu outra".

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, assumiu em sua posse um compromisso sério, cujo cumprimento é uma necessidade: "Não é possível que um país que tem a mesma língua, fabrica aviões, têm hidrelétricas, tem tanta riqueza, não consiga fazer com que todos os adultos leiam a língua, que quase todos falam, salvo alguns grupos indígenas. Não é possível. É uma vergonha que nós não temos o direito de viver com ela e muito menos de deixá-la para gerações que venham diante de nós. Nós herdamos um Brasil com analfabetos. Mas por favor, não repassemos para os nossos filhos e netos, para gerações futuras, um Brasil com a chaga do analfabetismo". Cristóvão ficou surpreso ao saber da existência de 15 funcionários analfabetos em seu próprio Ministério. Outro ministro, o da Fazenda, Antonio Palocci, se referiu a outros problemas educacionais: "Apenas 20% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio, e 8% dos jovens de 18 a 24 anos estão no ensino superior. Um dos índices mais baixos da América Latina. Atualmente, 70% dos trabalhadores adultos têm ensino fundamental completo. Faz-se necessário aumentar o grau de escolaridade média da população, hoje na vergonhosa faixa de quatro anos".



Oportunidade desprezada



Os meios de comunicação de massa tendem a afastar as pessoas da leitura. Nos programas de TV, com exceção dos expressamente didáticos, é raro um personagem ou alguma situação ocorrer envolvendo livros ou a leitura. Vale destacar que mesmo os "intelectuais" desses programas dificilmente são flagrados lendo ou escrevendo alguma coisa (que não seja um bilhete ligeiro). Alguém já chamou atenção para o fato de as propagandas de casas e apartamentos não contemplarem sequer uma estante de livros nas fotos ilustrativas de quartos ou salas mobiliados. Apenas 36% das cidades brasileiras contam com alguma livraria - o percentual leva em conta inclusive os estabelecimentos que vendem apenas material didático, não disponibilizando outros livros além dos adotados nos currículos escolares para os eventuais compradores.

A humanidade levou milênios para chegar à linguagem escrita. E, como podemos constatar ao nosso redor, ainda não a domina. O amontoado de letras seguidas umas às outras e intercaladas por espaços ainda tem, para muitos, o mesmo significado que uma sopa de massa em formato de letrinhas. A liberdade preconizada pelo ex-escravo Epicteto há quase 2000 anos ainda não é plenamente exercida...
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