Era um apto. de bom padrão, com um aluguel alto. O fiador nem me conhecia. Ele era médico, primo do governador e morava num apto enorme na Av. Angélica. Mudei dali porque o dono, que morava nos EUA, precisava dele, pois iria voltar para o Brasil.
Mas a coisa teve tantos lances trágicômicos que valiam fazer mais uma graça com eles. Aí, aconteceu isto:
Pra alugar apartamento,
Arrumei um fiador,
Gente fina o elemento, (*)
E, sobretudo, doutor. (**)
Sendo um cara desconfiado,
Que qualquer coisa temia,
Quis que fosse consultado
O dono da padaria.
Só poria o jamegão
Na fiança que lhe pedi,
Se houvesse a aprovação
Do tal da boulangerie...
Fiquei sem graça, de fato,
E lhe propus desistência
De tão preocupante ato
Que já lhe enchia a paciência
Ele era um cara legal,
Articulista de O Estado,
Que, com um tiro acidental,
A esposa houvera matado.
Ela estava se pintando,
Sobre a cama, ajoelhada,
Quando a arma, disparando,
Trouxe a morte inesperada.
Do trauma que isto encerra
Resta, eterna, a insegurança;
Quem mata, assim, não enterra,
E a morte vira uma herança
Eis que, em ato posterior,
Meu avalista se esfola,
Foi tomar o elevador
E despencou sobre a mola...
Fui vê-lo no hospital.
Enrolado em atadura,
Estava deveras mal,
Com um pé na sepultura...
Por vontade dO Senhor,
Sua vida foi preservada
E elevófobo (***), o doutor
Sobe e desce, hoje, de escada.
Enfim, após tudo anil,
Me pus, exausto, a cismar:
Vão pra puta que pariu!
Nunca mais quero mudar!!!
(*) primo do governador Paulo Setubal
(**) médico renomado
(***) Que tem fobia de elevador (neologismo meu)
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