Um ano depois, Rosalinda foi chamada pelo pai, preocupado com as atitudes que vinha tomando em relação aos amigos e colegas.
— Precisamos acertar nossos ponteiros, querida, porque não estou tão tranqüilo quanto sua mãe, vendo você tomando tantas liberdades com a rapaziada.
A jovenzinha fez menção de levantar-se para achegar-se ao pai, mas este a deteve com um gesto:
— Fique aí mesmo, mocinha. Não me venha com agrados, porque vou pensar que você está querendo esconder alguma coisa.
Rosalinda amuou:
— Puxa, pai, como o senhor pensa mal de mim...
— Penso muito bem, querida. Em mim mesmo é que não confio. Quando você vem tão cheia de dengues, logo me deixa desarmado e hoje eu quero ter uma conversa séria com você.
— Tudo bem, mas não precisa...
— Eu acho que preciso, sim.
— Então, pergunte diretamente o que deseja saber.
— Você está namorando alguém?
— Não entendi.
— Claro que entendeu. Você está firme com algum deles?
— O conceito de namorar mudou, pai. Namorar agora significa que as pessoas vivem maritalmente, como marido e mulher. Você quer saber se estou ficando com alguém?
— Ou isso.
— Não, só estou azarando sem nenhum compromisso.
— Quer dizer que ficar é o mesmo que eu entendia como namorar e azarar é o que eu chamava de flertar?
— Como você quer que eu saiba?...
— Não se faça de desentendida. A sua professora deve ter explicado como se dão os encontros entre homens e mulheres.
— A professora de Português não gosta que a gente use a gíria, por isso nos pediu um trabalho de pesquisa a respeito.
— Eu não estou interessado nas palavras. Eu quero saber o que você anda fazendo com os rapazes.
— Estou aprendendo a conhecê-los. Na verdade, eles não gostam muito de se mostrar como são. O que eles querem, você bem sabe.
— Não sei. Diga você.
— Ora, pai. Eles querem transar.
— Ou seja...
— Eles querem conhecer as meninas no sentido bíblico, conforme diria o padre no púlpito.
— Ou seja...
— Não insista, porque já entendeu o que estou dizendo e eu não preciso traduzir cada idéia que exponho para o seu jargão particular.
— É verdade. Quer dizer, é verdade que você não precisa explicar cada coisinha, mas não é verdade que eles só pensem naquilo.
— Ou seja...
O pai não se surpreendia com a vivacidade da filha, mas divertia-se com ela, provocando o mais possível a galhofa, para amenizar o que havia preparado para dizer.
— Ou seja, todos querem relacionar-se com o maior número de moças, para descobrir uma com quem casar e criar família. É isto o que acontece com eles?
— Você não acha que os meus colegas estejam procurando casamento, está? Diz isso porque não quer ir diretamente ao assunto.
— Tem razão. Sua mãe me disse para falar bem claramente o que está preocupando-me. Então, diga-me: você tem tomado cuidado para não engravidar?
A mocinha não pôde evitar um sorriso malicioso.
— Pai, que é isso? Meu hímen está intacto, se é essa a sua preocupação. Quer ver?
— Menina, não seja abusada.
— Então, eu mostro pra mãe.
— Ela não está interessada neste assunto. Eu é que só agora criei coragem para conversar abertamente a respeito de sexo.
— O que você chama de abertamente é o que vem fazendo até agora?
Rodolfo precisou admitir que a observação implícita era justa:
— Se você quiser saber, nem meu pai nem minha mãe nunca falaram comigo assim.
— Mas na escola...
— Os padres e os professores não tocavam no assunto. Quando muito, no confessionário, me diziam que certas coisas eram pecado. Lá eles perguntavam tudo, mas não davam nenhuma explicação: só penitência, quando a gente dizia que tinha feito alguma coisa escondido.
— Eu estou sabendo o que se faz escondido. A professora tem insistido com a gente para tomar cuidado com as infecções...
— E você tem tomado cuidado?
— Claro! Eu só tenho treze anos, mas sinto todas as sensações que qualquer mulher sente.
Rodolfo começava a perder o controle do tema. Não era, positivamente, aquele o rumo que desejava ter imprimido à conversa. Então, tentou encerrar o diálogo:
— Veja se entendi: você não obtém com os rapazes o mesmo prazer que consegue sozinha? É isso?
— Você não acha que está querendo saber demais?
— E se você engravidar?
— E para que existem as camisinhas, desculpe, os preservativos?
— Não me diga...
Aí a mocinha não resistiu e foi abraçar o pai, sussurrando-lhe ao ouvido:
— Obrigado, pai, pelo seu amoroso interesse. Entendi a sua preocupação. Não pense que eu vá dar esse tipo de trabalho a vocês. Vocês estão dando-me uma educação que só me deixa orgulhosa dos pais que possuo. Confiem em mim, por favor.
— Nós confiamos em você, mas temos medo da liberdade que os jovens têm hoje em dia. Não passa um dia sequer sem que a gente fique sabendo que uma adolescente ficou grávida, deixando o filho para os avós cuidar.
— Se Deus quiser, isso jamais vai acontecer comigo, porque eu desejo ter uma carreira profissional vitoriosa e estou prevenida para não cair nesse tipo de armadilha. Fique sossegado, paizinho.
— Quer dizer que você não ficou sentida comigo?...
— Claro que fiquei...
Sorria a diabinha, faceira, a mangar dos pruridos sentimentais do pai.