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Artigos-->Ser ou não ser? -- 13/01/2003 - 10:00 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma dúvida que atravessa séculos. Uma questão de 400 anos. As datas envolvendo William Shakespeare são aproximadas (a própria autoria de suas obras e os eventos de sua vida são colocados em dúvida). Consta como de 1603 a publicação de uma das mais reverenciadas peças da dramaturgia mundial: Hamlet. Ela estava pronta antes desse ano: no Stationers Register, sob a data de 26 de julho de 1602, consta: "Revenge of Hamlet Prince Denmarke - Lord Chamberlain Servants" (a companhia de que Shakespeare fazia parte). Em 1603 foi publicada a versão conhecida como First Quarto, que não foi autorizada pelo seu autor nem por sua companhia. Neste mesmo ano a Lord Chamberlain s Company transformara-se na King s Servants após a subida de Jaime II ao trono. O First Quarto é uma versão da tragédia de Shakespeare muito reduzida, embora contenha cerca de 240 linhas que não se encontram na versão seguinte da peça. Em 1604 foi publicada a edição Second Quarto de Hamlet. É esse texto, com algumas correções e adições menores, que se reconhece como a versão definitiva.

A história de Hamlet tem origem nas lendas escandinavas. A versão mais antiga está na História Danica do Sexto Gramático de 1200. Em resumo, Hamlet é um jovem príncipe dinamarquês perturbado com a morte do rei, seu pai, e com o segundo casamento da rainha Gertrudes, sua mãe. Pelo fantasma do pai, fica sabendo que ele fora assassinado pelo irmão, rei Cláudio, que desposou Gertrudes. Quer vingança. Finge-se de louco boa parte do tempo. É um personagem lúgubre, vestido de luto. "O mundo está fora dos eixos. Oh! Maldita sorte! Por que nasci para colocá-lo em ordem?", lamenta. Diante de Cláudio e da mãe, faz um grupo de teatro representar a morte do pai, despertando a ira do padrasto. Numa das muitas confusões da peça, Hamlet mata o pai de Ofélia, sua namorada. Ela enlouquece e se suicida. O rei Cláudio aproveita a situação para se valer de Laertes, irmão de Ofélia, e atingir o príncipe sem se comprometer diretamente. Durante a disputa entre Laertes e Hamlet, a rainha toma um vinho envenenado destinado ao filho e morre. Hamlet é ferido com uma espada também envenenada e depois fere Laertes com essa mesma espada. Quando descobre o veneno, Hamlet dá uma estocada com a arma mortal no rei e morrem os dois. Fortimbrás, um príncipe que havia atravessado a Dinamarca com seu exército para fazer a guerra à Polônia, chega ao Castelo de Elsinor pouco depois de consumada a tragédia. Manda enterrar Hamlet com as honras devidas e reclama seus direitos sobre o trono daquele país.



Colocar o mundo em ordem



Num escrito de 1898 (O papel do indivíduo na história), o russo Guiorgui Valentinovitch Plekhanov contrapôs à postura lamuriosa e meditabunda de Hamlet, expressa no monólogo "ser ou não ser", a convicção da validade da ação humana individual para "colocar o mundo em ordem". O pensador e ativista russo analisava a atividade do indivíduo como um elo indispensável na cadeia dos acontecimentos que envolvem a história humana: "quando dizemos que um determinado indivíduo considera sua atividade como um elo necessário na cadeia dos acontecimentos necessários, afirmamos, entre outras coisas, que a falta de livre arbítrio equivale para ele à total incapacidade de permanecer inativo e que essa falta de livre arbítrio se reflete em sua consciência na forma da impossibilidade de atuar de um modo diferente ao que atua. É, precisamente, o estado psicológico expresso na famosa frase de Lutero: Hier stehe ich, ich, kann nicht anders (este é meu conceito e outro não posso ter) e graças ao qual os homens revelam a energia mais indomável e realizam as façanhas mais prodigiosas".

Mas a amargura impotente de Hamlet tem atravessado os séculos. Seu celebrado monólogo já foi até referido na música popular brasileira, através de Walter Queiroz, em 1973 ("Eu quero nos teus braços ser eu mesmo, comer meu feijãozinho com torresmo, beber, deitar, dormir, talvez morrer", cantava Maria Creuza). Como o angustiado monólogo é mais famoso do que conhecido, segue abaixo:



Ser ou não ser - eis a questão.

Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim?

Morrer; dormir; Só isso.

E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.

Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.

Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?

Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?

E assim a reflexão faz todos nós covardes.

E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.

(Hamlet, Ato III, cena 1)

Comentarios

Fernanda Soares  - 15/07/2020

Que texto sublime o de Skakespeare; obrigada por me fazer revistar Hamlet. E que rico o texto introdutório, com a menção à maravilhosa letra de Feijãozinho com Torresmo, que conheci na voz da não menos maravilhosa Maria Creuza. Obrigada!!!!

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