Usina de Letras
Usina de Letras
11 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62283 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->Por que somos todos irmãos -- 25/11/2003 - 23:39 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por que somos todos irmãos

Não venho sentindo, há muitos anos, simpatia nenhuma pelos seres humanos que encontro ao meu redor, na vizinhança, nos meios de massa, jornais ou meio outro que valha. Não gosto do meu semelhante.

Respeito, mas em boa medida aturo, meus colegas de trabalho. Agüento as conversas com meus familiares. Evito os vizinhos, suspeito dos estranhos na rua, nos carros, nos bares. E vejo que todos, ou quase todos, fazem estritamente o mesmo.

"A vida é uma luta, uma breve estadia numa terra estranha e a reputação, esquecimento". Não me recordo de frase que mais fundo haja calado em meu peito que essa, retirada das Meditações de Marco Aurélio.

Ainda não sei por que ela me toca tão forte. Não é difícil sentir a que ponto ela é óbvia. Deixando de lado a menção à "terra estranha", o caráter de luta da vida é tal ponto patente que sequer merece atenção.

O mesmo ocorre com a menção à reputação, se bem que esta choca um pouco mais.

Não é o mesmo, porém, ler as Meditações em seqüência. Não pelo fato de serem muitas. O problema é perceber que elas perdem eficácia quanto menos bem elas forem sendo digeridas. Porque elas precisam ser digeridas.

Perde eficácia ler, logo em seguida: "Desde o raiar do dia, dize a ti mesmo o seguinte: hoje encontrarei um intrometido, um ingrato, um insolente, um desleal, um invejoso, um egoísta" (Livro II, 1). E assim por diante. A falta de eficácia não se deve a que a citação não seja verdadeira. Ela é simplesmente menos ampla.

Simplesmente tudo é dito em "A vida é uma luta, uma breve estadia numa terra estranha e a reputação, esquecimento". Nada fica de fora. A vida deixa de ser um dom, um fim, uma glória, para tornar-se um peso, uma luta; vencida ou perdida, uma luta. "Uma breve estadia numa terra estranha" transporta-nos a um momento anterior e posterior ao nosso, que passamos enquanto vivos, e nos diz que o que vemos é estranho e breve. Qualquer argumento que insista na importância do que se vive cai então por terra. Vivemos pouco, e mal, porque esse é nosso destino: não vivermos - perdermos a luta, morrermos - por toda a eternidade. Por último, aquilo que poderia nos encolerizar "a reputação, esquecimento" traz um corolário avassalador à passagem pela vida: sua real inutilidade, e por isso seu caráter divino. Morremos para nada deixarmos porque essa é nossa real sina: descansar no vazio.

Se pensarmos somente em nós mesmos, "a vida é uma luta, uma breve estadia numa terra estranha e a reputação, esquecimento" torna-se um suplício, uma maldição. Mas fato é que todos, todos, todos carregamos a mesma sina.

E portanto somos irmãos.

₢ Rodrigo Contrera, 2003.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui