A noite é densa...
Na solidão do espaço imprevisto te encontro muda...
O olhar tenso de lívida ansiedade
a indagar a deplorável casualidade desse encontro...
No parco recinto, toscas luzes avermelhadas de desejo
e sensualidade confundem visitantes que adentram
na penumbra nauseante.
Olhares fugidios, máscaras desbotadas de paixões efêmeras
Vividas na insana euforia dos amores furtivos...
Pelo salão atapetado casais se acomodam. A música freme...
No estreap-tease alucinante o sorriso triste da dançarina
Que aos poucos desaparece sob o denso nevoeiro de fumo
e o lusco-fusco de cores artificiais...
Espalha-se no ar o cheiro adocicado de perfume e absinto.
Em mesas geminais taças transbordantes de lascívia e tédio
Atiçam ainda mais a atmosfera excitante.
Em estreitos cubículos ouvem-se bramidos e sussuros,
Sons improvisados e gemidos a ecoar pelos corredores
Num erotismo triunfante de orgasmos coletivos....
Colombinas e Pierrots apaixonados...
Todos perderam a máscara na palidez inesperada
de suas próprias cores, que nos estertores, buscam mais e mais
corpos ardentes de volúpia e desejos incontidos,
na avidez incontrolável de cada movimento...
Fragmentos de almas, restos de sentimentos inconfundíveis
se projetam nos semblantes da insensatez de cada ser presente
Embriagados talvez, por recentimentos...