O CANDIDATO INTELECTUAL
enviado poe email por marcio menezes
Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos entendimentos com
doutores da Lei, em Jerusalém, acerca dos serviços de Boa-Nova, foi
procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda
capacidade intelectual.
Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida à s interpelações
do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. O
Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renuncia e do
devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o
bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste
resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos,
filhos do mesmo Pai.
O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos,
indagou:
- A que escola filosófica obedeceremos?
- Ã s escolas do Céu - respondeu, complacente, o Divino Amigo.
E outras perguntas choveram, improvisadas.
-Quem nos presidirá Ã organização?
-Nosso Pai Celestial.
-Em que bases aceitaremos a dominação política dos romanos?
-Nas do respeito e do auxílio mútuos.
-Na hipótese de sermos perseguidos pelo Sinédrio, em nossas atividades, como
proceder?
-Desculparemos a ignorància, quantas vezes for preciso.
-Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
-O direito de servir sem exigências.
O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:
-Em que consistirá, desse modo, o salário do discípulo?
-Na alegria de praticar a bondade.
-Estaremos arregimentados num grande partido?
-Seremos, em todos os lugares, uma assembléia de trabalhadores atentos Ã
Vontade Divina.
-O programa?
-Permanecerá nos ensinamentos novos do amor, trabalho, esperança, concórdia
e perdão.
-Onde a voz imediata do comando?
-Na consciência.
-E os cofres mantenedores do movimento?
-Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem.
-Com quem contaremos, de imediato?
-Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.
-Quem reterá a melhor posição no ministério?
-Aquele que mais servir.
O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a
pausa:
-Que objetivo fundamental será o nosso?
Respondeu Jesus, sem se irritar:
-O mundo regenerado, enobrecido e feliz.
-Quanto tempo gastaremos?
-O tempo necessário.
-De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?
-Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.
-Mas, não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
-No Reino Divino não há violência.
-Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
-Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade
permanecerá acima do número.
-A missão abrangerá quantos países?
-Todas as nações.
-Fará diferença entre senhores e escravos?
-Todos os homens são filhos de Deus.
-Em que sítio se levantam as construções de começo? Aqui em Jerusalém?
-No coração dos aprendizes.
-Os livros de apontamentos estão prontos?
-Sim.
-Quais são?
-Nossas vidas.
O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou, sorridente
e calmo.
Após longa série de interrogativas sem respostas, o afoito rapaz inquiriu,
ansioso:
-Senhor, por que não esclareces?
O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou:
-Busca-me quando estiveres disposto a cooperar.
E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia,
onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente, nada sabiam
da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente
prontos a trabalhar com alegria e a servir por amor, sem perguntar.
(De "Contos e apólogos", de Francisco Càndido Xavier, pelo Espírito Irmão X)
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