Usina de Letras
Usina de Letras
169 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62272 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50662)

Humor (20039)

Infantil (5452)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->EM NOME DE ALÁ... -- 28/12/2001 - 02:47 (VOGELHEIM) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Como bom brasileiro, fui criado ouvindo os suspiros de “ai, meu Deus” e os inevitáveis “ai, Jesus” dos irmãos companheiros da Santa Terrinha. Cresci ouvindo sons de atabaque, de mesas espíritas, e do sino chamando os fiéis para a missa. Aprendi a respeitar não tão somente as crenças de cada um, mas principalmente as pessoas em si. Fui batizado, fiz primeira comunhão. Aprendi História, esta matéria infeliz que, além de obrigar a gente a ler e, pior, a refletir sobre os fatos, me descortinou um panorama das barbaridades que já foram encenadas em nome de Deus, o qual é, no mínimo, revoltante. Chocado, revoltado, protestei: me retirei dum catolicismo que se revelou desconfortável, suspeito, e abracei o caminho evangélico. Continuei minhas andanças, convivendo com as pessoas e suas inúmeras crenças. Vi ateus magnificamente dignos. Vi outros, muito interessantes, que o eram graças a Deus. Vi “crentes que estão abafando”, cegos, pretensiosos, e até mesmo maléficos. Achei engraçado como alguns grupos faziam um monopólio da divindade, pregando verdades absolutas num universo tão relativo. Vi que Deus, através da ascensão do Cristo, era infinitamente bom, paciente e amoroso, enquanto a maioria dos seus filhos era intolerante, prepotente e egoísta. Não me conformei com o “monopólio da salvação”, com as alegações de que tudo o que viesse contra as determinações das Igrejas (me refiro à grande maioria) seria “coisa do demo”. Reconheci estas Igrejas mais como conjuntos arquitetônicos eclesiasticamente animados e instrumentos de exercício de um poder temporal, do que como fraternidades cristâs. Observei que Deus está em tudo, e como Ele também é tudo, ele está em nós e nós contidos nele, e que esta seria a suprema comunhão. Assim, tudo o que existe e tudo o que é realizado, o é para Ele, por Ele, e graças à Sua anuência. E que, como exorta São Paulo, aquele que faz não deveria criticar o que não faz, bem como o que não faz não deveria criticar o que faz, pois ambos agem por e para Deus.
Eu, que não sou “santo”, acredito que cada um deveria dar o melhor de si, tanto em proveito próprio quanto em benefício da coletividade, evitando polêmicas e disputas desnecessárias. Vejo ainda como uma cruel realidade o fato de que Deus nos colocou num mundo onde a comida dá em árvores, a bebida jorra das fontes e corre pelos regatos, tendo ainda nos dotado de uma inteligência singular que nos proporciona uma capacidade de adequar Sua criação aos nossos propósitos, e que, mesmo assim, não consigamos ser felizes. Temos todos os instrumentos e não somos capazes de realizar a obra. Será um dilema característico do "livre-arbítrio", tão invocado por tantos, mas incompreendido pela maioria? Nos apresentamos como nossos próprios algozes, geramos nossos próprios infortúnios, e, quanto mais crescemos em conhecimento mais perigosos nos tornamos para nós mesmos e toda a natureza. Somos umas verdadeiras bestas... e Deus ainda assim é benevolente e paciente conosco (acredite quem quiser).
Mas, depois de tantas reflexões religiosas, bem como autodepreciativas, cabe ir ao cerne da questão em pauta, destacando o gravíssimo problema que hoje está em andamento: o retorno e o crescimento exponencial das guerras iniciadas em função de motivos religiosos (em nome de Deus...). Continuo duvidando que Deus tenha exortado, instigado, ou mesmo permitido que irmão agredisse irmão, principalmente em Seu nome, uma vez que (por exemplo) na Bíblia está escrito “... a vingança a mim pertence...”. Neste espírito, cabe destacar a contribuição destrutiva dos “Kamikazes de Deus” e dos fundamentalismos em geral (sobretudo, e no caso, o islâmico) na disseminação do caos. Já não bastasse o insano “modus operandi” dos imperialistas internacionais a impor cercas a seu bel prazer, rompendo unidades sócio-culturais (como na “partilha” da África), separando povos homogêneos, ou “aprisionando no mesmo saco” inimigos históricos, ainda temos complicadores como a questão da Província da Caxemira, que está acendendo um perigosíssimo estopim nuclear entre a Índia e o Paquistão. A situação na Caxemira, filha dos desmandos oriundos do processo de exploração colonialista inglesa, colocou uma população extremamente religiosa atrelada a um sistema sócio-religioso que nada tem a ver com o seu. A Índia é hinduísta; o povo da Caxemira (mais especificamente o da área sob jurisdição indiana - existem duas outras, uma sob jurisdição paquistanesa, outra sob jurisdição chinesa) é islâmico, tal qual seu vizinho Paquistão. A solução parece óbvia: deixem falar a auto-determinação dos povos, e unam os insatisfeitos cidadãos da Caxemira aos ”irmãos” do Paquistão. Mas o povo indiano não quer perder uma parte do seu território (e tem lá suas justas razões em todos os sentidos). E o povo da Caxemira quer ser feliz (também está no seu direito). O povo do Paquistão quer ajudar (palmas para a solidariedade, apesar das restrições à aplicação da ajuda). Mas a maneira que alguns cidadãos da Caxemira escolheram, com apoio do Paquistão, para fazer valer sua vontade é que se afigura temerário. O terrorismo é uma alternativa desesperada, final, contra um poder virtualmente invencível, mas pode ter conseqüências imprevisíveis quando existe um poderio nuclear envolvido. A História recente já demonstrou também que, radicalismos religiosos + disputas territoriais + poderio bélico formam um coquetel bastante explosivo, que tende a espirrar pra todo lado, além de produzir um drink amargo. Ora, se pudermos agredir e explodir em nome de Deus, certamente poderemos (num momento de extremismo) aniquilar em nome dEle. Tudo se torna justificável quando o processo assume uma aura divina. E, note-se que o horror nuclear é algo apocalíptico, com highlights de “vingança divina” (a despeito de toda a isenção da divindade em si) que pode afetar não somente as populações em litígio, mas a humanidade como um todo. E, duvidando que Alá (num dos muitos passaportes que Deus utiliza para vir à Terra) tenha opinado sobre o assunto, também não acredito que a maioria da comunidade islâmica aprove o processo de “religação” em andamento na região. Certamente existem medidas mais “civilizadas”, menos agressivas (embora bastante firmes e efetivas), que poderiam encaminhar de forma mais adequada o justo pleito do povo da Caxemira. Medidas que não contribuiriam para a exacerbação dos ânimos nacionais, dos fundamentalismos religiosos, dos ódios e rancores que assombram essa já tão sofrida região. Já o resultado do processo em andamento tem grande possibilidade de gerar devastação, caos socio-econômico, e pouco proveito religioso.
Certamente já vimos esse filme. Estamos cansados de ver reivindicações justas serem encaminhadas de forma estúpida e destrutiva. Particularmente, não acho que o preço da felicidade deva ser sempre algum tipo de desgraça, ou que a violência seja sempre o único e mais eficaz meio. Acho também que já tem gente demais na região dando palpites e intervindo desastradamente em prol de seus próprios interesses egoístas. Admiro o povo indiano e o povo paquistanês pelo seu potencial de realizações, pela grandeza com que administraram os sofrimentos a eles impostos no passado, e pela sua perseverança na expectativa de um futuro mais feliz. Acredito fervorosamente numa solução pacífica e satisfatória para todos, engendrada por meio do bom senso, da boa vontade e dos sinceros esforços para o entendimento de todas as partes efetivamente envolvidas. Faço votos de que não adentraremos o palindrômico ano de 2002 com mais um fantasma nuclear a rondar os nossos lares, e de que a verdadeira vontade de Alá será levada em conta: a de que o homem foi criado à sua imagem e semelhança para que fosse feliz e cultivasse o Jardim do Éden (ou de Alá, ou mesmo de Valhala, ou quiçá o Nirvana, o da sua própria casa) em paz, harmonia e prosperidade. Alá Akbar...! E eu dou o maior apoio...!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui