“É UMA VERGONHA” – II
Paulo de Góes Andrade
Eu disse na minha primeira crônica que a votação dos 54% (cinquënta e quatro por cento) de aumento dos subsídios dos ilustres e dignos deputados e senadores tinha sido em menos de cinco minutos. Errei. O tempo exato foi de um (1) minuto e vinte e oito (28) segundos. Rapidinho, não? Não foi na calada da noite, como é costume fazerem nas votações que contrariam a opinião pública. Diz o Correio Brazilienze de hoje (20/12/02): “O deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE) e o novo presidente da Câmara, Efraim Moraes (PFL-PB), colocaram o assunto na pauta e trataram de aprová-lo rapidamente.” De bom alvitre, os nomes desses representantes do povo bem que podiam ficar anotados num caderninho para uma próxima eleição. Outro que se declarou favorável foi o vice-presidente nacional do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). Disse o distinto, conforme o mesmo jornal, que “o salário mínimo e a cesta básica, por exemplo, aumentaram muito nos últimos anos e nós só tivemos 3% de reajuste nesse período e necessitamos do acréscimo”. É um nome para o povo de São Paulo anotar também.
A sangria no Tesouro Nacional, com essa determinação arbitrária, antipática, indigna, sórdida, infausta, nociva, indecente, amoral, etc, etc, que vai adicionar, por ano, com a União, Estados e Municípios, pasme você, assalariado brasileiro, é da ordem de R$2.223.770.646 (dois bilhões, duzentos e vinte e três milhões, setecentos e setenta mil, seiscentos e quarenta e seis reais). Dinheirama essa que bem podia contribuir para o novo programa FOME-ZERO do governo Lula.
E pior. A bancada do PT também votou a favor desse ato desrespeitoso aos milhões de miseráveis que vagueiam pelas periferias dos grandes centros, embaixo de viadutos, em favelas, em cortiços, em palafitas e em choupanas, como o homem do sertão nordestino. Era hora do partido, que levou Lula à Presidência da República, gritar mais alto, condenando aquela resolução, que nos faz descrer, pelo menos a mim, no regime que se diz do povo, para o povo e pelo povo, que é a democracia. Digo assim, num ímpeto de revolta, porque o povo, no Brasil, usando uma expressa chula, faz o papel de corno manso. Tudo aceita, e ainda gemendo e chorando, como aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso. Suportamos - nós assalariados - oito anos de penúria, sem acréscimo nos nossos contra-cheques para enfrentar os aumentos impostos pelos poderes constituídos, e as mentiras dos institudos de pesquisas, que esfregam na nossa cara índices fictícios de inflação.
E agora eu grito: Viva os nossos congressistas! Eles merecem!
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