A FARSA E A REFORMA DO TEATRO
Coelho De Moraes
Como todos sabem, Farsa é aquele tipo de peça cômica, tendo, em geral, poucos atores, onde impera o ridículo, o burlesco, a canastrice e onde finge-se ser o que nunca será.
Eram famosas as Farsas de Gil Vicente, como a de Inês Pereira, aquela mulher que preferia um burro que a carregasse em vez de um cavalo fogoso que pudesse faze-la cair da sela, algum dia.
Em época de Gil Vicente era muito comum apresentar-se a Farsa nos salões governamentais – de reis e príncipes,- buscando toda uma série de protetores e patrocinadores. Eram poucos os Teatros. Havendo, então, os protegidos, ou seja, os coitados que sofriam a ação do coito. Muito comum naquele e na época atual. As mulheres que o digam.
Onde se apresentam as Farsas, hoje?
Respondemos: No Teatro e nos salões governamentais. Ou seja, nada mudou.
Encontramos a Farsa incrementando o espaço Teatral. Tudo ali soa a Farsas de vários matizes. Quando se olha para as paredes do Teatro vemos que a pantomima é realidade. É ali que se finge... é ali que as coisas parecem o que não são... é ali que se escondem falcatruas e fraudes, no escurinho das coxias, nas umidades dos porões, no mofo do cortinado velho.
Sim. É no Teatro que está representado o resultado das inúmeras trapaças da cidade. É nesse local que se representa qualquer tipo de peça torpe ou dramática. Vemos ali funções circenses e uma infinidades de neo-palhaços, artistas equivocados, e gente que quer ser estrela sem ter a coragem de fazer, ao menos, uma mísera ponta.
Há no Teatro uma materialização do erro.
Durante vinte anos usa-se o mesmo plano, como que repetindo velhas fórmulas. É aquela coisa do repetir comercial, sem criatividade, onde deve imperar o favor e a aparência e nunca uma ação verdadeira no campo da criação. Tais são as Farsas, em sua maioria, independente da dramaturgia. Elas brotam das almas que erraram o caminho, pensando que ser artista, por exemplo, é pintar o sete. E não é.
E para não dizer que estamos escondendo uma informação citamos três exemplos – entre parênteses - do que é que o artista deve fazer:
a) Criar novas formas e linguagens, mesmo que num primeiro momento aquilo seja incompreensível para a platéia alvo ou para si mesmo. Aquele que repete a fórmula que agrada o público não é artista, apenas um repetidor, um ser que entretém platéias entediadas e vagabundas na arte de pensar.
b) Estuda todos os dias todas as formas de arte criada na humanidade e estuda as propostas dos artistas de ponta. Nunca será artista aquele que se supõe auto-suficiente na criação... que não precisa mais ler ou pesquisar qualquer obra. E o artista é múltiplo em seu saber.
c) Deve ter a arte de arrancar dinheiro de patrocinadores. U’a maneira do empresário devolver para a comunidade o filão que explorou e explora. O artista deve ser um Robin Hood e não um capacho pidão, ou pidonho, ou agentes que fazem trocas e barganhas. Fique claro que o artista pega e gasta “todo” o dinheiro, devolvendo para a sociedade, em nome do patrocinador, uma obra de arte e não uma placa de prata.
Fora isso, é pegar a obra pronta e apresentar no Teatro. Não um teatro mofado, com cortinas rasgadas e seguras por arames improvisados. O Teatro deve ter som e sistema próprio de iluminação. Eles não devem ser alugados em separado, pois o normal, dos Teatros normais, esses devem ter pessoas normais e burocratas comuns que tomarão conta do espaço cênico, – sim, pois somente o artista tem a credencial de ser anormal, ou excêntrico, ou ter mais de uma cara (multifacial), de ser um doidivanas – pois o normal dos Teatros, é ceder ao usuário magno, o artista santo, a maravilha das maravilhas cênicas que é o artista criador, um Teatro completo e pronto. Houve quem disse que só abriria Teatros quando estivessem prontos... onde foi isso mesmo? Ribeirão Preto ou São João da Boa Vista? ... Não me lembro.
O que, por fim, me deixa emocionado é o fato de que o Teatro está seguindo a agenda proposta como AGENDA MÍNIMA. É assim que se faz. Deve-se seguir a lição do mestre – leia-se Mestre em espanhol e saberão a chave do enigma – mesmo que a tal AGENDA MÍNIMA tenha sofrido algumas alterações, o que é comum no meio artístico, as semanas vão sendo ocupadas, todas, faltando apenas que o cunho seja cultural e não eventual.
Evento é uma coisa.
Cultura é outra.
Essa lição ainda não aprenderam. Mas aprenderão.
Nem que sejam coitados para isso.
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