Idade é coisa que mulher não confessa. Conversa.
Isso vale para homens e mulheres que adotam o padrão normótico. Quero contar que nos meus quarenta e sete anos de idade aprendi muita coisa.
Novidade?
É, sim.
Tem gente que não aprende.
Olha pro lado.
Vai dizer que você não encontra gente que é igualzinha, desde que nasceu?
Vai, aquela sua tia? O seu amigo, aquele, aquele mesmo, torcedor do Flamengo, bonachão, conta as mesmas piadas, bota a mulher na cozinha, lava o carro todo domingo, joga pelada uma vez por semana? Conhece, sim.
Talvez eu também não tenha mudado. Aos onze anos, escrevia sobre uma idade de ouro (hoje eu diria verde, né?), onde todos seriam felizes.
É que eu lia feito uma louca, nesse tempo.
Depois, parei de ler.
O projeto de intelectual que meu pai sonhava para mim, foi-se. Virei da vida, na vida.
Eu levei anos para entender qual era o meu lado, qual era a minha turma.
Levei anos para me começar a me incomodar.
Aí, eu escolhi um lado.
Pena que não foi na época da ditadura. Se fosse, eu tinha pego em armas, sim.
Tinha virado c-l-a-n-d-e-s-t-i-n-a.
Isso, eu acho que meu pai ia adorar. Ele queria ter um filho macho, mas eu vim fêmea.
Azar o dele, nunca conseguiu me convencer que eu era homem. E olha que tentou. Me botava uniforme de futebol, me dava uísque, cigarro. Aos doze anos, tá?
É que sexo a gente não escolhe. Nasci mulher. Podia ter nascido com aparência de mulher e ser homem. Ou vice-versa.
Aí eu teria orientação para a homossexualidade.
Normal.
Tem um monte de gente no mundo, assim.
Mas eu sou diferente por outros motivos.
Nasci no Maranhão e sou loura.
Só isso?
Nada. É pior.
Escolhi ser do bem. Escolhi não acreditar no senso comum.
Escolhi ser um pentelho, enfim.
E mais. Escolhi ter um projeto de mundo, pelo qual eu vou lutar até meu último suspiro.
Sempre reconheço o inimigo. A ação do inimigo, porque sei de que lado eu estou. Eu sou do bem.
Que venham as manchetes ensandecidas.
Eu sou do bem. Eu sou Lula.
Eu sou PT.
E sou Chavez, tá?
E sou Fidel. Ah, eu sou contra ele matar gente, de vez em quando. Dizem que ele mata. Mas a fome mata mais, tá? E eu tenho que confessar que tenho vontade de esganar gente no Brasil. Vontade é coisa que dá e passa. Eu jamais mataria alguém, salvo para defender minha vida (nem disso tenho certeza), para defender minha mãe e meus filhos (disso eu tenho) e para defender Lula (aí basta uma surra naqueles pilantras hipócritas, disso eu tenho coragem. Se alguém bater no Lula, ha, me aguarde)
Demorei para entender, mas entendi.
Nem vem que eu sou do bem.
Não sou do bem, boazinha, não. Acho que toda criatura que tem onde morar, o que comer, um endereço, tem que se indignar para transformar o mundo. Nem que seja as duas da manhã.
Cansou de ler eu falar de mim?
Mas eu tó falando de você.
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