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Artigos-->Saber para libertar -- 16/12/2002 - 08:58 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
São incontáveis as espécies de seres vivos que, logo ao nascer, buscam o conhecimento do mundo que os cerca. Cada qual com sua capacidade. O ser humano - a natureza quando toma consciência de si mesma - é, dentre os seres vivos, um que o desenvolvimento físico e a interação independente com a realidade circundante, possibilitando consumir, expelir e reproduzir, levam mais tempo para se concretizar. É também o ser vivo que mais tem alterado o ambiente que o circunda - a ponto de colocar em risco a própria continuidade da vida no planeta!

Além de obter o conhecimento, o ser humano, ser social, deve divulgá-lo, como ensinou Pércio (32-64), em uma de suas Sátiras: "Saber o que sabes não é nada, se outro não souber que o sabes". Robert Winston, professor de Estudos de Fertilidade do Imperial College da Universidade de Londres e um dos pioneiros na medicina reprodutora e fertilização in vitro, considera que "há uma grande necessidade de informação sobre ciência, especialmente por parte dos adolescentes. É preciso que aqueles que não são cientistas reconheçam que vale a pena conhecer ciência. Vivemos em uma sociedade tecnológica orientada para a ciência e a verdade é que essa tecnologia nos confunde e nos ameaça".



Poder e conhecimento



A difusão do saber e da ciência é um desafio de nossos dias. Ela se dá através das mais variadas formas, e através de incalculáveis meios também ocorre a sonegação e desvirtuamento de informações, análises, dados. Os avanços tecnológicos só fazem aumentar a dramaticidade da pergunta feita em 1873 por Anesaki Chofu: "O telefone, o telégrafo, o rádio possibilitaram, a ponto de torná-la inquietante, a troca rápida das comunicações. Mas que é que nós temos a nos comunicar? Cotações da bolsa, resultados de futebol e histórias de relações sexuais. Saberá o homem resistir ao acréscimo formidável de poder de que a ciência moderna o dotou ou destruir-se-á a si mesmo manipulando-o?"

Alerta o Talmude, uma das obras básicas da religião judaica: "A coisa principal da vida não é o conhecimento, mas o uso que dele se faz". A ação consciente do homem no mundo, em harmonia com suas leis e colocando a natureza a serviço do aperfeiçoamento constante da espécie, é aspiração antiga da humanidade. São inúmeros os meandros econômicos, políticos, culturais, sociais, etc. colocados para alcançar tal objetivo.

A manipulação e direcionamento da informação a partir de interesses de classe, de grupos, de crenças é notável. "A concentração de temas e fontes das notícias científicas nos países desenvolvidos torna cada vez mais distante o ideal de ciência universal", conta Martín Yriart, da Escola de Letras de Madri. Ela pesquisou a cobertura feita no chamado terceiro mundo dos atentados ocorridos nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. Nenhum dos especialistas em terrorismo e conflitos do Oriente Médio consultados era proveniente do terceiro mundo.

Quanto ao jornalismo científico, deve enfrentar o oligopólio dos meios de comunicação, a origem das informações veiculadas, tratar dos temas que afetam o público, abarcar as editorias política e economia, valorizar a função social da ciência para cumprir o papel de propagar o conhecimento do mundo - e as indagações sobre ele.



Ciência e humanismo



Para o antropólogo Edgar de Assis Carvalho, da PUC/SP, um ponto crucial da formação no país é a separação entre a cultura científica e as culturas humanas. "Não há intercomunicação, é como se uma vivesse sob os escombros da outra". Istvan Palugyai, presidente do Clube de Jornalistas Científicos da Hungria e vice-presidente da União Européia das Associações de Jornalistas Científicos, considera necessário que se estabeleça uma conexão melhor entre jornalismo e ciência. "É preciso que os cientistas entendam que temos um interesse comum, levar a informação científica de modo adequado para o público", diz ele.

As publicações voltadas para a divulgação da ciência se debatem com problemas como "a banalização da ciência pela mídia, o mercado publicitário e ainda a expectativa dos diretores de publicações de achar que o noticiário de ciência deve ser ameno", queixa-se Mauricio Tuffani, da revista Galileu. Mas a batalha maior, segundo ele, deve ser contra a renúncia da investigação científica e, principalmente, da busca do contraditório. Na sua visão, é necessário buscar e mostrar à sociedade as contradições da ciência.

O geneticista Francisco Nóbrega, professor aposentado pela Universidade de São Paulo e professor de metodologia científica e biologia molecular na Universidade do Vale do Paraíba, opina que a forma como a ciência é percebida pelo grande público está em crise, como demonstram a recente proposta de regulamentação da profissão de astrólogo, formulada pelo senador Artur da Távola (PSDB-RJ), e o espaço cada vez maior dedicado nos meios de comunicação à "pseudociência" - tarô, búzios, quiromancia etc.



Saber não é nocivo



O analfabetismo científico viceja. A National Science Foundation (agência científica norte-americana) mostrou que, nos Estados Unidos, 63% da população desconhecem as noções de hipótese e experimento. Estudantes brasileiros ficaram em último lugar entre os países estudados em avaliação dos conhecimentos de matemática e ciência realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

O senso comum é insuficiente para compreender o mundo que nos cerca. Glaci Zancan, presidente da SBPC, alerta: "Precisamos instigar a curiosidade pelo conhecimento científico. Devemos começar por uma reestruturação completa do sistema educacional".

Para Nilson Lage, professor da UFSC, a dificuldade em se divulgar ciência está no imediatismo pretendido pelas pessoas. "Procuramos soluções cada vez mais rápidas para problemas cada vez mais complexos. A ciência não é rápida e não tem explicações simples nem definitivas. A compreensão do mundo está desligada da percepção imediata. As pessoas precisam ter noção que o saber científico nunca é nocivo. O erro não foi terem descoberto o átomo, e sim terem empregado este saber em uma máquina de guerra".

O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), Ulysses Capozzoli, considera que a visão de ciência que existe hoje na mídia é ainda muito espetaculosa, quando na verdade deveria haver mais espaço no noticiário do dia-a-dia, para sensibilizar a sociedade com as perspectivas de humanização da ciência.

Atuar no mundo que nos circunda levando em conta suas leis específicas é emancipar o ser humano. É sair do reino da necessidade para ingressar no reino da liberdade.



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