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Contos-->DIARIO DE BORDO VI -- 09/01/2009 - 23:50 (Mirian de Sales Oliveira da Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


...e então apareceram as primeiras gaivotas; ao contrario de mim ,já estavam bastante familiarizadas com o navio, entravam sem cerimônia, vasculhavam tudo, passeavam até pelas amadas plantas do Capitão, fuçando tudo em busca de migalhas. Chovera durante a noite,mas,elas,provavelmente um casal,acompanharam o ZIM,em vôo livre,como belos práticos alados.O sol vai se achegando,tímido,quer nos acompanhar á ilha;e o mar,tal qual uma mulher vaidosa,que a toda hora troca de roupa,volta a ser azul-cinza,exibindo para meus olhos de neófito,todo seu esplendor.Num navio em alto mar,a gente volta ao estado fetal,quando o aconchego do ventre materno,nos dá aquela sensação de segurança,que raramente sentimos no mundo exterior.
“Ao ver o sereno bailado das gaivotas, volto ao passado e vejo o moço da gávea gritando ‘Terra á vista”; marinheiros exaustos agradeciam ao céu, poder pisar de novo terra firme depois de tantos dias no mar. No mundo de hoje quase não há mais “terra á vista” e sim á prazo, em suaves prestações mensais a juros de judeus; bons tempos de Cabral e Caminha, onde era só chegar e tomar posse.
Sempre tem alguém na ponte de comando, mas, o telegrafista parece nunca sair de lá; está sempre compenetrado, debruçado no computador ,observando tudo. È o único da tripulação que me esnoba;quando muito recebo um seco”morning”.Filipinos adoram frituras,arroz,chá mate e conversar;são muito atenciosos,respeitadores e amistosos;todos se preocupam com meu bem-estar;aprendo com eles sobre os movimentos do navio,o funcionamento da casa de máquinas,aprendo que tara é o peso do container vazio e spark é como são chamados os telegrafistas em qualquer barco no mundo todo,
Já vejo Noronha, uma ilha de formação rochosa, envolta numa névoa cinzenta; agora são11`45, nosso relógio já adiantado em uma hora. Nenhum barco até onde a vista alcança;silencio total,nem poluição ou insetos;,José Ray,o oficial que está na ponte comigo, diz que daqui a um dia estaremos em águas internacionais,em três dias estaremos cerca de Cabo Verde e em mais ou menos dois dias passaremos a linha do Equador,onde serei devidamente batizada.Avisto pequenas velas brancas,na costa,Daqui parecem pontinhos no infinito.
Hoje á noite sonhei comprando babadores para os netinhos que vão nascer; um dos babadores era azul-claro, bordado, o outro era branco bordado de rosa. Será que vem menina desta vez?


Começo a fazer planos para a chegada a Tenerife; compras, lembrancinhas, postais; seria bom ter umas coisinhas na cabina, melhorando o rango de bordo, ”munição ocidental de boca” por assim dizer: uns biscoitinhos maneiros, chocolates, um café decente em lugar do café descafeinado de bordo. Penso em telefonar para casa, as ligações feitas daqui são muito caras. Ainda não havia celulares,vejam como o mundo avançou tanto,em relativamente pouco tempo.A saudade dos meus sentou praça aqui e não me deixa;só do meu marido,presente a cada instante desta viagem,,digo para ele”não sinto saudade,companheiro,estiveste comigo a noite inteira.”

Pela manhã havia um tripulante trabalhando no parque dos containeres; com uma prancheta anotava dados; muito concentrado no que fazia ,não parecia preocupado com a proximidade do mar e a falta de grades de proteção; ignorando o balanço continuava escrevendo o que estava nos mostradores dos painéis de controle e nos contadores com a tranqüilidade de quem estivesse numa sala de escritório em Santos.


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