Mais cinco anos de vida?... É perspectiva que considero assaz plausível. Não tenho de momento mazela física alguma que me preocupe. Mais dez anos?... Também é possível, ou quiçá quinze, limite crucial que, francamente, não vislumbro alcançar com vontade de viver mais para além. Assim, é bem provável que minha lápide possa desde já ser datada a três dígitos: 202?.
Ora, quanto mais tempo vai passando e o desiderato humano vai evoluindo, através do que vou recolhendo entre as notícias do mundo e vivendo entrementes, sinto que o palavrãozinho onde se encaixava meu pendor sexual - heterossexual - cada vez mais também se vai afastando da minha habitual prática de ir ao céu e voltar, ou seja: com mulheres, até nos ouvidos tenho tesão.
Gostava imenso, ó se gostava, de viver os próximos quinze anos com sete mulheres, comer com elas, passear com elas, dormir com elas numa cama com dez metros de largura e cinco de comprimento. Terei entrado em época de almejo disfuncional?... Não se importem com o que eu faria ou não faria...
Dois canadianos heterossexuais, Bill Dalrymple, de 56 anos, e Brian Pin, de 65, porque com o efeito - afirmam apoiados por advogados - obterão maiores benefícios sociais segundo os paràmetros e curvas da lei, vão consorciar-se, vão dar o nó, claro. Depreende-se que o "em-nome-de" evocado é tão só um capuz para acobertar as viciosidades dos respectivos pirilauzinhos e orifícios adjacentes.
Bem, de todo, em face desta declarada hipótese, ó da guarda, por favor, heterossexual assim não sou. Saibam que por duas vezes inesperadamente já me sucedeu que um e outro cão tomaram uma das minhas pernas por traseiro de cadela. Apre, sacudi-me todo e dei um ror de voltas ao miolo a sondar o porquê de tão estranhos acidentes. Eu sou um ser racional e se o raciocínio não é para dominar os ímpetos corporais, então para que serve?
Ah... Quase me esquecia de revelar um impossível desejo sexual que trago comigo desde muito novo: adoraria fazer amor com uma sereia. Sempre que coloco a imaginação a funcionar de imediato paira sobre mim um delicioso cio. Importava-me lá eu com a cauda de peixe e... Até do cheiro, se fosse fresquinho!...
António Torre da Guia |