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Infanto_Juvenil-->Bola de couro, de verdade..... -- 13/04/2004 - 09:40 (sandra ethel kropp) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Minha casa tinha um quintal grande, uma cesta de basquete e um cachorro que roia todo o couro de minhas bolas. Mas eu adorava o Mafú( meu cão), e a gente jogava bola assim mesmo. Minha mãe trabalhava e meu pai também. Eu ficava com meus irmãos e a empregada a tarde toda em casa, mas nem ligava, porque tinha muito vizinho legal, da minha idade, e a gente também não cansava de perder bola assassinada pelos carros no meio da rua. Ou ainda ver nossas bolas serem atiradas do barranco da casa da Dona Jú , uma velha chata que não entendia porque no mundo tinha que ter criança.
Mas como bola era coisa barata, meu pai sempre trazia da rua outras, simples, mas que eu guardava com todo carinho. Apesar do Mafú nunca ter entendido isso. Meu pai nem reclamava, porque o cão tinha sido presente da irmã dele, que achava que a gente era criança de cidade, sem contato com animal nenhum, e que um cachorro só nos faria bem.
O cachorro fazia bem para todos, menos pra minhas bolas. O couro era plástico, depois descobri, e por isso ele conseguia roer. Às vezes roia tanto, com tanta força, que a bola murchava de um instante para outro, como pneu que é atacado por prego no meio da rua.
Era triste perder um brinquedo. Era chato ver sua única bola murchar. Mesmo sabendo que em um ou dois dias apareceria outra pra substitui-la.
Eu pensava que meu pai muitas vezes não queria nos comprar bolas melhores. Em meus aniversários e no de meus irmãos, os presentes eram bons.Alguma coisa que a gente esperava o ano todo pra ganhar, e claro que eu não ia pedir uma bola. Mas quanto custava uma bola de couro, daquelas de jogo de futebol? Eu mal conseguia vê-la, porque a T.V ainda tinha uma imagem ruim( apesar de na época acharmos uma maravilha), mas eu sabia que bola oficial era outra coisa.
Uma vez perguntei pro meu pai, e ele me respondeu que se eu guardasse um pouco do dinheiro que ganhava de presente algumas vezes de tios, avós, e mesmo dele, ajudaria a comprar quando faltasse pouco.
Mas quanto custava a tal bola? Eu não saberia tão facilmente, porque passava as tardes no quintal de casa, sem possibilidade de fazer uma pesquisa de preços. Não havia internet, atendimento ao consumidor, nada disso.
Meu pai me garantiu que não demoraria muito, pois ele ajudaria. Comecei a guardar uns trocados que apareciam daqui e dali, mas nunca fiquei sem bola pra jogar, mesmo sendo de plástico.
Um dia a tardezinha, eu jogava bola na rua com dois amigos, quando papai chegou com mamãe no portão e pediu que eu abrisse para que eles colocassem o carro, simples, mas que acomodava os quatro filhos e eles.
Pediu que eu entrasse em casa que ele precisava falar comigo. Não imaginei o que poderia ser, porque era um bom aluno e até que comportado. Meus pais tinham sorte. A empregada dava conta dos quatro, sem problema, e nós também não brigávamos muito. Duas eram meninas, menores, e meu irmão maior não gostava de jogar bola. Preferia ler, ouvir musica ou outra coisa mais pacata.
- Zeca, sobe e pega aquela bola que te trouxe ontem. Quero ver o que o Mafú anda fazendo. Estou cansado desse cachorro, porque ele está me saindo caro.
Eu subi, trouxe a bola. Ela estava em pedaços, tanto que jogávamos com a bola de meu amigo.
- Filho, isso aqui não tem jeito. Vamos dar pra alguem.
- Pai, eu não quero dar o Mafu de jeito nenhum... e comecei a chorar. Amava aquele cão, e não entendia, porque a idéia tinha sido de meu pai.
Meu pai abraçou-me, como poucas vezes fazia. Pegou a bola de minha mão e colocou nela um pacote redondo fechado.
- Não acredito, pai. É a bola de couro?
- Abra, filho.
Abri e era a bola. Fiquei surpreso, pois não era meu aniversario nem nenhuma data especial.
- Lembra que eu havia prometido?
- Brigada, pai.
- Essa daí nem com unhas e dentes o Mafu não comerá. Mas guarde-a bem, para que ele não a alcance com tanta facilidade.
Aquilo parecia um sonho. Eu tocava na bola, e ela era real.
Corri para fora e mostrei para meus amigos que ainda jogavam, como toda criança quando ganha um novo presente.
Anos depois, descobri que meu pai tinha fabrica de bolas de futebol. E que me permitiu sonhar e aprender à valorizar a vida ainda na infância. Consegui entender porque o mundo é redondo e que a vida dá voltas.
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