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Cartas-->Um brinde aos poetas no dia da Pátria -- 07/09/2001 - 20:48 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Minha Pátria é minha língua."
(Pessoa, por Veloso)

Em "Gramática Expositiva do Chão", pude reler algumas entrevistas concedidas pelo poeta pantaneiro Manoel de Barros a José Otávio Guizzo, da revista GRIFO, de Mato Grosso do Sul. Delas, pincei duas perguntas e respectivas respostas:
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P.: A poesia é necessária? Quais as funções da
poesia no mundo atual?

R.: A mim me parece que é mais do que nunca necessária a poesia. Para lembrar aos homens o valor das coisas desimportantes, das coisas gratuitas. Vendem-se hoje até vistas para o mar, sapos com esquadrias de alumínio, luar com freio automático, estrelas em alta rotação, laminação de sabiás, etc. Há que ter umas coisas gratuitas pra alimentar os loucos de água e estandarte.
Quanto às funções da poesia... Creio que a principal é a de promover o arejamento das palavras, inventando para elas novos relacionamentos, para que os idiomas não morram a morte por fórmulas, por lugares comuns. Os governos mais sábios deveriam contratar os poetas para esse trabalho de restituir a virgindade a certas palavras ou expressões, que estão morrendo cariadas, corroídas pelo uso em clichês. Só os poetas podem salvar o idioma da esclerose. Além disso a poesia tem a função de pregar a prática da infância entre os homens. A prática do desnecessário e da cambalhota, desenvolvendo em cada um de nós o senso do lúdico. Se a poesia desaparecesse do mundo, os homens se transformariam em monstros, máquinas, robôs.

Qual é a matéria da sua poesia?

R.: Os nervos do entulho - como disse o poeta português José Gomes Ferreira. Tudo aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima - é também matéria de poesia - eu repito. Só bato continência para árvore, pedra e cisco. Em estudo sobre "O Processo", de Kafka, o humanista Gunter Anders observa o amor de Leni pelos processados. Leni acha que a miséria da culpa os torna belos. Sua compaixão pelas vítimas é que a leva ao amor. De muita dessa compaixão é feita a poesia de nosso século. Um fundo amor pelos humilhados e ofendidos de nossa sociedade banha quase toda a poesia de hoje. Esse vício de amar as coisas jogadas fora - eis a minha competência. É por isso que eu sempre rogo pra Nossa Senhora da Minha Escuridão, que me perdoe por gostar dos desheróis. Amém.


[in: Manoel de Barros. Gramática Expositiva do Chão. (Poesia quase toda. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1990. Páginas 310 e 311.]

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Cf. o meu artigo "Reflexões Usineiras (6)", publicado hoje, 07/09/2001, neste mesmo site.
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