É muito interessante como a linguagem, no campo verbal, adapta-se às necessidades de compreensão da realidade, estabelecendo relações entre signos e idéias correspondentes às mais variadas aplicações que uma mesma palavra pode ter no cotidiano. É aquilo que Aristóteles chama de homonímia, ou seja, coisas diversas sendo representadas pela mesma palavra.
Exemplo perfeito temos com a palavra pé. Os pés sustentam o nosso corpo. A conotação no uso dessa palavra se dá quando a usamos pra falar do “pé” da mesa. Ou do “pé”-de-meia. No caso da mesa, os pés a sustentam fisicamente, como os pés humanos; enquanto o pé-de-meia sustenta materialmente uma família ou um indivíduo.
É essa riqueza na construção de sentidos o que fascina o estudante da língua. Pudera ser o estudo da língua portuguesa tão fascinante desde os primeiros momentos, quando aprendemos a usar os sígnos com os quais o letramento é possível. É de se lamentar que tenhamos oportunidade apenas no dito ensino superior de conhecer como a língua é dinâmica, rica, impossível de ser engessada em sua manifestação primordial, que é a oralidade de todos os dias.
Não custa nada lembrar que as gramáticas surgiram para “normatizar” o uso da língua. O que nos obriga a concluir que a língua e o seu uso social, a linguagem, organizaram-se no tempo muito antes de qualquer gramática, podendo muito bem existir sem que ninguém nos exija um falar e um escrever “corretos”. Não seria bastante que o receptor decodificasse perfeitamente a mensagem e compreendesse o que seu interlocutor estava querendo comunicar?
Afinal, a linguagem não tem como objeto principal a comunicação entre os homens em uma sociedade linguistica?
Fica aberta a discussão para os que se interessam pelo assunto.