PEQUENO ESTUDO SOBRE A FLATULÊNCIA
Pode até parecer estranho um pesquisador dedicar parte do seu tempo acadêmico, ao estudo do fenômeno conhecido popularmente como " Peido ".
Na verdade, o peido nada mais é do que " acúmulo de gases no tubo digestivo", conforme consagrada definição do Mestre Aurélio, ao explicar o vocábulo flatulência.
No mais, por ser interessante e curioso, alcunha-se também de flatulento, o indivíduo portador de vaidade pretensiosa, ou dado a bazófias e jactâncias. É o que a sabedoria matuta denomina " cheio de vento".
Porém não é a filologia que me interessa acerca de tão incompreendido assunto. O que despertou minha atenção científica foi a diversidade de sons e cheiros com os quais ditos gases se exteriorizam, quando deixam o âmago do seu ser e fazem-se anunciar a nós outros.
Por isso, após longos e demorados estudos levados a termo no Mercado de São José e outras dezenas de estabelecimentos que se dedicam ao comércio de Pratos-Feitos(PF), chegamos as seguintes e judiciosas conclusões: Os intestinos são os responsáveis pela altura e intensidade dos sons emitidos durante o peido, enquanto o monossílabo indizível, agindo em conjunto com o reto como se fora o bico de um fole, deixa a seu(dele) bel prazer fluir o odor condizente com cada tipo de alimento consumido e devidamente processado.
Como existem dois intestinos, o Grosso e o Delgado, é fácil concluir que o peido, quando sai alto e espalhafatoso, chamando atenção e malcheiroso, foi obra do intestino Grosso.
Aliás, não é à toa que o chamam de grosso; realmente, ele é muito mal-educado, ignorante até! Nunca quis estudar e por isso é grosseiro e vulgar. Daí que se manifesta a qualquer momento; em festas, reuniões a até durante uma missa solene, matando de vergonha "quem de onde saiu" e constrangendo " quem sentiu". O intestino Grosso é mau-caráter, rotundo, despudorado e ateu, em suma, um péssimo vizinho!
Já o intestino Delgado é educadíssimo, o oposto natural do outro. Tendo estudado em Oxford, é fino, sóbrio, atencioso, um verdadeiro gentleman. É ele o responsável por aqueles peidinhos discretos que mal se ouvem, e geralmente avisa com certa antecedência que vai sair. Assim, basta você simular uma pequena tosse e, pode peidar à vontade, pois além de não fazer barulho, não tem cheiro algum.
As vezes, quando o intestino Delgado está de bom humor, o peido sai como se fosse um assovio harmônico e melodioso, encantando a todos. Nessas ocasiões, se tiver alguém passando, olha para ver quem assoviou, pois na verdade é pura música.
Concluíndo, talvez fosse bem melhor se tivéssemos apenas o intestino Delgado, pois evitaríamos muitas situações constrangedoras!
Dando sequência ao nosso estudo, chegou a inevitável hora de discorrermos sobre ele, o porta-voz dos gases não nobres; a porta de saída de tudo.
- Atenção pessoal, eu disse PORTA DE SAÍDA...
Refiro-me àquele pequeno orifício localizado na extremidade terminal do intestino, também cognominado de olho-cego, oiti, redondo, roscoff, goiaba, fiofó, console, tareco, biscuí e tantos outros que tornar-se-ía cansativo enumerá-los.
Mas, se existe definição para a palavra voluntarioso, certamente é ele. Êita bichinho voluntarioso sô! Só faz o que quer.
Quantas vezes uma pessoa vai ao banheiro, crente de uma evacuação perfeita e....nada. Absolutamente nada acontece. O "danado" simplesmente fica lá parado, não vai nem vem. Ou pior, vai e vem e não solta, causando aquela agonia.
Por outro lado, o inverso também ocorre com frequência. Realmente, quantas e quantas vezes estamos tranquilos, calmos e de repente " ele" resolve se manifestar? Geralmente tal acontece aonde não existe banheiro por perto. A pessoa fica suando frio, andando bem devagarinho, pernas juntas, meio abaixada, ar abobalhado, procurando algum lugar discreto, nem que seja uma moita. Mas " ele" é sádico, finge que se acalma e sem mais nem menos faz-se presente com mais ênfase. E aí então, é como aquela música: " não dá mais prá segurar, explode coração "!
Impressionado com a imprevisibilidade de tão pequeno orifício, resolví ampliar a pesquisa estendendo-a ao plano psicológico e paramedianímico. Convoquei um dos mais famosos psicólogos terapêutas que havia estudado o assunto e o referido profissional disse o seguinte:
" Tratava-se apenas um orificiozinho com um ego maior que o do próprio cérebro; portador de um tremendo complexo de superioridade e que se acha a mais importante parte do corpo humano.
Ele sofre com a falta de reconhecimento das pessoas e, o mais grave, diverte-se em nos causar prisão de ventre ou diarréia.
A descoberta me deixou boquiaberto e deveras preocupado com o futuro da humanidade, porque chegamos a intuir que o " cabra" estava certo!
Imaginem vocês se "ele" resolve se fechar para sempre. O que aconteceria? Sim, seria um verdadeiro caos e não haveria intervenção médica que desse jeito. Já pensou toda a população da terra vivendo com um saquinho pendurado no abdômen, tendo de trocar três, quatro vezes por dia? Ninguém mais faria nada direito, a civilização desmoronaria e regrediríamos ao passado até que ele novamente aquiescesse em se abrir de novo.
Por isso, tratem bem do vosso monosílabo e lembrem-se: Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém !
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