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Teses_Monologos-->Pense no hálito que te sai da boca -- 16/06/2001 - 23:06 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Palavras, palavras, palavras.
Pronto, já começo citando. Não tem jeito.
O século XXI, esse bebezinho, não vai poder abrir mão desse leitinho bom e sempre revigorante: milk-shakespeare nosso de cada dia. So o deputado Aldo Rebêlo não entende. As polícias lingüísticas pululam pelo mundo desnorteado afora.

E tudo o que dizemos são também palavras ditas no passado - fluxo ininterrupto -, sempre.
O presente não existe. Pense.

Pense no hálito que te sai da boca.
Pronto. Já passou.

Mas experimente, pense no sopro de tantos
(o analfomegabetismo), que sai da boca antes de virar palavra. Pense nas palavras abortadas. Afasias incuráveis. Pense nos detritos desta civilização agônica. Pense nos suspiros, nos lamentos, bafos, desabafos desesperados. Pense nos alentos, e nos desalentos.
O ar que nos sai da boca aspira a verbo que se faça carne. Transubstanciação. Sacralidades. Todo santo dia é dia de translatícios afazeres.

E as palavras gastas podem recuperar a sua força?
Sim, se quisermos.
Sim, se formos poetas.
É o que você e eu e todos estamos tentando.

"E a PALAVRA se fez carne
e habitou entre nós."

"minicontos:
a prosa a caminho do hai-kai" é um texto que publiquei na madrugada deste sábado (16/06/01).
Repenso tudo o que tenho dito,
tentado dizer.
E fica sempre a impressão de que não,
não conseguimos.
Ainda não. Ainda bem que não.
Dia virá...
É o que nos faz prosseguir.

Mas o passado retorna sempre.
Mas o passado passa passa treze pela nossa boca.
Tudo é citação. A última há de ficar.

Estamos sempre traduzindo.
Haja metáfora. Haja metonímia.
Lançamos mão do que nos está mais próximo: o grego, o latim.

Ainda não acordamos para as línguas indígenas, diga-se, saibamos, reflitamos bem, em acelerado processo de desaparecimento. Um dia haveremos de vasculhar os seus vestígios no mais íntimo, nas entranhas desta língua brasileira que estamos erigindo: esse monumento, colosso, a construção milenar de todos os erros. Mas pode ser que já não o façamos mais a tempo. Elas se perderão. Terão desaparecido para sempre. Como tantos dos nossos sonhos ou pesadelos.

Nhém-nhém-nhém: um verbo tupi atravessa
o nosso blá-blá-blá diário.

Cutucar?
Sim, do verbo "cutuc" (em tupi quer dizer isso mesmo).

Tupi or not tupi, continua a gritar Oswald com estardalhaço à nossa passagem. E ela prossegue lenta, lerda, a procissão triste bisonha dos homens de hoje. Inertes. Narcotizados. Esquecidos de si mesmos. A humanidade distraída.

Do be do be do, ecoaria ao longe, no rádio, a voz de um Frank Sinatra. Mas esta é uma piada que se vê espalhada pelos banheiros: um outro local apropriado para as libidinosas inscrições anônimas).

Sinatra e Jobim juntos. Quem já viu, sabe. Foi um momento-monumento à tradução. À tradução dos sentimentos mais futurivelmente, mais improvavelmente brasileiros. Passou.

E quem nos dera o sânscrito mais presente, as
línguas dos maias, dos aztecas, dos assírios,
dos sumérios. Quem nos dera o tempo em que tudo,
os bichos, e até as pedras falavam.

"E ainda que eu soubesse as línguas dos anjos e dos homens..."

Missão impossível?
Abrir clareiras na selva escura do falar desvitalizado do cotidiano, para que
a poesia de tantos outros séculos nos atinja, nos deflore, nos destrua, nos salve, nos faça poetas.
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