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Contos-->Kleist em Paris -- 20/03/2001 - 22:37 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Robert Walser: Pela primeira vez no Brasil?
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“Kleist em Paris” (Kleist in Paris) e “O escritor” (Der Schriftsteller), dois textos curtos de Robert Walser, com um texto introdutório sobre o autor e sua obra. Modelo 19, outono/inverno de 1999, números 7 & 8, ano 4, pág. 58-71.

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Observação preliminar do tradutor:

Tenho publicado, regularmente, na Revista de Tradução MODELO 19, criada e editada na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara, por Ricardo Meirelles (mestrando em Teoria Literária na UNICAMP e na USP). Narrativas curtas de Peter Handke, Peter Bichsel, Thomas Bernhard ("Elogio do Fragmento", também publicado no usinadeletras ).
Na edição de outono/inverno de 1999, que reunia os números 7 & 8 da revista, penso ter publicado, pela primeira vez no Brasil textos de Robert Walser, escritor suíço, que viveu o último quartel do século XIX e o primeiro do século XX. Exerceu notável influência sobre alguns dos grandes escritores de língua alemã, como Franz Kafka, que o tinha entre os seus autores preferidos. Foi a leitura da obra de Peter Handke, também leitor de Walser, que me levou a um dos seus maiores livros, o romance autobiográfico "Geschwister Tanner", e a alguns dos seus textos curtos em prosa. Walser foi um andarilho, escreveu sobre suas peregrinações, sobre a vida no campo, sobre temas distantes do chamado grand monde literário, do qual sempre guardou cuidadosa distância.
Na referida edição da MODELO 19, fiz publicar duas das narrativas curtas que me chegaram ao conhecimento: "Kleist em Paris" (Kleist in Paris), que o leitor do usinadeletras vai poder conhecer agora, e "O escritor" (Der Schriftsteller), que pretendo publicar mais adiante.
Até o momento ninguém o fez, mas ainda vivo na expectativa de ver contrariada a minha afirmação de ser esta a primeira vez que Robert Walser chega ao leitor brasileiro.
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Kleist em Paris

Robert Walser
Trad.: zé pedro antunes


No mês de abril de 1801, Kleist põe-se em viagem a Paris. O que pretendia com isso, na verdade? O que o levava até lá? Tinha 23 anos de idade e cada vez mais claro lhe ficava: podia se tornar poeta. Podia? Não, não apenas podia, mas precisava! Sabe que precisa e por isso se põe em viagem. Recusa um posto oficial e põe-se em viagem. Seus conhecidos sempre a lhe perguntar o que afinal iria pretender da vida, quando isto e mais aquilo não lhe fosse favorável. Isso lhe é desagradável e não quer mais ouvir coisas desse tipo. Pressiona-o, oprime-o toda esta coisa pessoal, egoista; enfim, quer fugir às coisas paralisantes, estreitas, pequenas, e por isso se põe em viagem. Nele desperta o cidadão do mundo? Pode bem ser. Mas algo maior, algo mais belo, dentro dele se viu desperto, e chama por ele, e ele parte no seu encalço. Mas por que quer viajar justamente a Paris, ao tumulto da metrópole? Por que isso? Sente-se atraído para o turbilhão da vida? Sem dúvida, pois, uma força o impele verdadeiramente em direção a algo maior. Ao mesmo tempo, na verdade, inclina-se igualmente ao silêncio. Tende talvez em direção a ambos, ao burburinho e ao silêncio de uma só vez? Também isso pode ser. Em todo caso, está escrito que foge e, igualmente, registrado: busca alguma coisa, aspira a alguma coisa. Em viagem, não faz um caminho de volta, segue antes adiante. Ei-lo sentado agora no interior de uma carruagem postal: ai, como isto dá solavancos de um lado para outro! A carruagem está repleta de passageiros e ele não os observa, isto é, tê-los-á certamente observado, apenas não concede a tais coisas nenhuma importância. Bosques, aldeias, cidades, rios e homens, e toda sorte de fenômenos que possam existir, pairam como que em revoada, e de nada disso ele dá notícia; vivencia-o, avista-o, mas, absolutamente, não o coloca no papel. Uma única coisa acena em sua direção: não está ali com a finalidade de apresentar um relato de viagem, não viaja para vivenciar o que quer que seja e para depois a isso atribuir alguma importância. Não, acha-se já inteiramente possuído pela vida; permite que a realidade, em silêncio, passe a nele produzir os seus efeitos. Mais profundamente ocupa-o apenas aquilo que traz em si mesmo e carrega consigo, portanto, sua alma, que está repleta de vida faiscante, coisa que não necessita receber de fora e por obra do acaso. Afora isso, a verdade mesmo é que também possui um plano dramático. E insistentemente o persegue. Já em seu espírito encontra-se um esboço, pois trata-se de conseguir realizar uma obra. Por isso, e por nada mais do que isso, viaja, chega então a Paris, aluga um quarto. Com certeza, impressiona-o a nova imagem, pois que imagem é essa! Que figuras, semblantes, sons, cores! Sim, ele vê muitas coisas, mas o que isso tem a ver com ele? Parece-lhe estranho, transmite-lhe frieza. Mas o fato é que fugira ao demasiado próximo, ao demasiado familiar, e quis mudar-se para um ambiente estranho; e o que desejava, agora ele possui. Com efeito, ele se sente livre: ali ele pode criar, compor, dedicar-se à arte; e o faz, pois trata-se de um caráter que não hesita, tão pronto se vê diante de alguma coisa a ser dominada. Por semanas a fio ele não sai à rua, vive como que numa redoma, cuida de seu rebento, seu ideal, escreve para casa e diz nada ter que buscar entre as pessoas. Assim, é o que se vê, ele se retrai, vive apenas no sonho, quer dizer, na obra, sendo esta “A Família Schroffenstein”, seu primeiro livro. Acha-se inteiramente em seu próprio mundo; ao outro, ao visível, ele não vê; não quer vê-lo, e não deve. Vive com o casal Ottokar e Agnes. Com tudo isso, certo é que Paris lhe causa forte impressão e atua sobre sua pessoa e sobre sua peça, a exercer influência. Até chegar o inverno assim se mantém, mudando-se, então, com passagem por Frankfurt, aqui para a Suiça; e, para os amigos de cá, lê o seu poema. - A vida de Kleist possui algo de fascinante. Padeceu, como é sabido, sob o jugo de conceitos demasiado elevados acerca do seu ofício, de seus sentimentos não se protegeu o bastante. Mas o que é que se vai dizer? Na verdade, era à natureza, a que lhe foi dada, meio terna demais, meio violenta, que ele obedecia. Agia sempre conforme lhe ditava o coração, abertamente, e com grandeza. Polir-se, amoldar-se, isso ele não o fez, jamais.

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